Em primeiro lugar, queremos evitar excessos interpretativos. Não falamos de uma espécie de trama maçónica, com infiltrados por tudo quanto seja clube desportivo, que procure favorecer interesses que estão à margem de quem acolhe. Isso chama-se corrupção e não cabe em Catedrais. Também admitimos que se trate de uma estratégia que fará rir quem tem a barriga cheia: o United ou o Arsenal olhariam para isto com legítima perplexidade.
Isto porque falar de formação de treinadores implica um encurtar do prazo de validade destes. Não faz sentido formar treinadores que nunca se sentarão no banco. E se em Manchester há uma espécie de insulamento britânico que não deixa ouvir o mundo, há no Benfica uma certa tradição democrática que provoca rotatividades constantes. Sendo assim, não faz sentido, a cada vez que um treinador deixa a Luz, ter de encontrar um novo treinador a qualquer custo. Ora, isto não é diferente do que se passa com os jogadores: se o Benfica sabe que perderá Coentrão, prepara-lhe um sucessor; Nélson Oliveira está no plantel porque Cardozo não vai durar para sempre - preparam-se as saídas.
Com os treinadores, no entanto, não se faz a mesma coisa. É, até certo ponto, compreensível: o papel mais exposto do treinador não dá quaisquer garantias da duração do cargo; se o treinador ganha, continua, e pode continuar por muitos anos. A história, no entanto, não nos dá exemplos de treinadores a quem tenhamos visto nascer rugas numa cara jovem - não duram tempo suficiente no banco que justifique a falta de referências no que toca aos treinadores. Cada novo treinador aparece com muito mais pelouros do que devia, porque a cada novo treinador, surge um novo rumo. Alguém vê semelhanças entre Camacho, Quique e Jesus? Cada um deles começou pelo princípio, como se estivesse a criar um clube. Ora, o treinador deve estar tão subordinado à ideia do clube como o jogador à ideia do treinador. Jaime Pacheco não treinaria, com certeza, com Aimar. Pois bem: cabe ao clube decidir se quer uma política à Jaime Pacheco ou à Aimar. Se quer Aimares, não contrata Pachecos, se quer Pachecos, não contrata Aimares! E isto não tem que ver com uma subordinação dos treinadores aos jogadores, ou vice-versa. Tem que ver com a subordinação dos nomes a ideias; no Benfica não se devem contratar treinadores, devem-se contratar seguidores de uma ideia. Como Cruyff era seguidor de Ruiz, Guardiola de Cruyff e Vilanova de Guardiola.
O contrário implica moldar um clube à imagem do treinador, ou um treinador que não acredita na própria equipa. Têm de ser dadas as melhores condições possíveis para que um treinador trabalhe à vontade, sem que isto implique a perda de identidade do clube. E isto só se faz com a garantia de que o clube e o treinador pensam da mesma maneira.
Ora, e como é que se garante que um treinador pensa da mesma maneira que o clube? Não será, com certeza, através de uma pesca furiosa, que tem na avaliação muitos factores que a distraem do ponto certo: jogadores contrários à filosofia que o treinador adopta, pressões de direcção, crises financeiras... Tudo isto alterará o rendimento da equipa, e de uma forma que é em grande parte alheia ao treinador. Claro que o treinador pode fazer milagres, mas também pode ser que apenas os fizesse com quem partilhasse as suas ideias.
Não se percebe, então, porque é que, com os treinadores, não se faz o mesmo que com os jogadores - ensiná-los. Porque é que os treinadores das camadas jovens não têm uma escala projectada aquando do começo do contrato, porque é que não há espaço na equipa técnica para enquadrar os treinadores em formação e treinos comuns entre equipas jovens e seniores, que expressassem o pensamento benfiquista.
A alteração de escalões permite ver também qual é a reacção aos diferentes níveis de pressão, não só dos jogadores como dos treinadores. É claro que não é a mesma coisa treinar juniores ou seniores; mas tecnicamente, a partir dos escalões de juvenis, os processos já não são muito diferentes. Um treinador com competência técnica para os juvenis do Benfica tem de a ter também para os seniores. Um treinador de camadas jovens deve ser visto, assim, não só como um potencial treinador do Benfica, mas como um alvo privilegiado para treinar o Benfica, pelo conhecimento já adquirido da estrutura e das ideias do clube.
Os factores extra-técnicos, descobrem-se com a pressão e com a experiência sénior. E se a segunda equipa não é laboratório suficiente, o Benfica deveria manter relações privilegiadas com certos clubes que facilitassem a entrada dos treinadores no futebol profissional. Não se trata, de maneira nenhuma, de influências pouco honestas. Também a cedência de jogadores se pode fazer através de protocolos que podem ser honestos - o Benfica já teve relações protocolares com Alverca, Fátima, Granada, sem que isso tenha de ser desonesto.
No caso dos treinadores, trata-se de algo especial. Em primeiro lugar, estes não têm contrato com o Benfica, pelo que são livres de fazer o que quiserem a partir do momento em que deixam a luz. Mas o Benfica pode dar-lhe indicações da hipótese que têm de serem treinadores do Benfica: podem facilitar empréstimos por já haver conhecimento dos atletas treinados nas camadas jovens e, sobretudo, podem dar o exemplo.
O caso de Rui Vitória, se viesse a treinar o Benfica, seria sintomático daquilo que estou a dizer. Alguém que treinou as camadas inferiores do Benfica, que seguiu o seu caminho com apoio de alguns jovens que treinou no Benfica e que acabava a treinar o Benfica. Também aqui, a selecção qualitativa se faria naturalmente. Um treinador sem qualidade, chegado ao Fátima, não subiria para o Paços de Ferreira. E, seguindo o princípio de Peter, se não tivesse mais qualidade do que a necessária para chegar à capital do Móvel, por aí se quedaria, sem chegar a Guimarães. A subida na hierarquia faz-se sem ajuda do Benfica, é natural. Mas a partir do momento em que Rui Vitória chegou a Paços de Ferreira, deveria estar a sair outro treinador das camadas jovens benfiquistas para abraçar um projecto da segunda divisão, com possibilidade de calejar os processos até chegar ao Benfica. Também isto facilitaria a inserção dos jogadores no futebol profissional, por terem alguém que já os seguia de perto há alguns anos.
E, sobretudo, quem ganhava era o Benfica. Também os treinadores podem ter escola, também os treinadores podem ter treino. E não ficaria mal ao Benfica voltar ao seu lugar de pioneiro na descoberta de caminhos para a Vitória...
por favor benfica contacte esse numero por favor por favor só um glorioso pode liga por favor 928400756
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