Talvez o Benfica tenha mesmo de ser um clube vendedor. Talvez tenham de sair uma ou duas pérolas por ano, sim. Da equipa do título de 2009/2010 saíram Quim, Coentrão, David Luiz, Dí Maria e Ramires, o que significa que em dois anos vendemos 5 dos habituais titulares. Talvez não seja motivo de orgulho, mas resignamo-nos à dureza da vida: há as vontades dos jogadores, deslumbrados por capitais Europeias e dinheiro a rodos, há as necessidades económicas do Benfica e o envelhecimento natural dos jogadores. Até aí, nada de estranho. Estranho, sim, é que o plantel tinha mais quinze jogadores, para lá dos habitualmente titulares, e desses só Miguel Vítor continua. Significa que, em dois anos, o plantel mudou dois terços. Não será assim tão estranho se tivermos em conta a realidade vendedora das equipas portuguesas, dir-me-ão: afinal, contra os nossos sete, Porto e Sporting só mantêm nove jogadores e, se excluírmos os grandes tubarões europrus, isto é uma realidade comum.
No entanto, isto está muito longe de ser verdade. Em primeiro lugar porque, caso se tratasse de necessidade de vender, vender-se-iam os jogadores. No entanto, da equipa de 2009/2010, há pelo menos treze que estão emprestados: Júlio César, Patric, Shaffer, Roderick, Sidnei, Airton, Rúben Amorim, Felipe Bastos, Carlos Martins, Urreta, Felipe Menezes, Kardec e Éder Luís.
Haveria a possibilidade, também, destes serem emprestados porque não têm ainda condições para jogar pelo Benfica e, portanto, precisam de empréstimos onde joguem. No entanto, para os lugares deles contratam-se Mika, Emerson, Garay, Jardel, Matic, Nuno Coelho, B. César, Nolito, Rodrigo, Mora, Melgarejo... Tudo jogadores com menos de 28 anos, que podem, portanto, jogar várias épocas ao serviço do Benfica e alguns deles ainda em formação. Ora, isto significa que, durante vários anos, estarão tapados uns pelos outros, rodando constantemente o plantel do Benfica.
Podemos, também, dizer que os jogadores foram contratados para espicaçar os titulares e que, passados uns tempos, se acomodaram ao banco, o que fez com que tivessem de vir novos jogadores: é frenquente ver isto com os guarda-redes - variam-se os segundos para refrescar a luta e para que o primeiro não adormeça. No entanto, isto faz sentido se o titular permanecer no clube anos suficientes para que os índices de motivação possam baixar. Ora, num clube vendedor, isso raramente acontece: os jogadores ficam no clube pouco tempo, pelo que o principal objectivo dos suplentes deveria ser diferente; Urreta fica no plantel para precaver a saída de Dí María, Sidnei fica no plantel para precaver a saída de David Luiz. Contratam-se jogadores jovens para que, quando são vendidas as pérolas, não tenha de se começar o trabalho de novo, com os processos de adaptação dos novos jogadores.
No Benfica, no entanto, trabalha-se de outra forma. Contrata-se Carole para precaver a saída de Coentrão. Mas, quando este sai, empresta-se Carole, para que vá por água abaixo a tentativa de minimizar os tempos de adaptação; contrata-se Júlio César para precaver a saída de Quim e, quando este sai, contrata-se um novo guarda-redes. Um jogador suplente no Benfica não tem qualquer perspectiva de ser titular: é preparado para a sucessão e, na hora da verdade, vai-se embora no pacote. É estranho que Enzo Perez se queira ir embora? Nenhum jogador cumpre contratos! Se é titular, é normal vender as estrelas. Se é suplente, nunca será aposta. Nenhum jogador é inserido aos poucos, como foi Ronaldo no United. Eles têm mais tempo? Pelo contrário, eles não vendem as estrelas, pelo que a afirmação de um jovem se torna muito mais difícil. Quando é que Wllbeck terá o lugar seguro, se Rooney está para ficar? No Benfica, se Witsel sai, nem Matic, nem Amorim, nem David Simão serão apostas. Virá outro, para que comece tudo do novo e para que a lenga-lenga do costume se oiça outra vez...
terça-feira, 22 de maio de 2012
David Luiz ou Garay?
Um veio moço e saiu craque, outro veio craque e continua. Separados pela pátria, unidos por Luisão, escolhe a assembleia: David Luiz ou Garay?
Formar a formação II
Ser bom para os outros é bom para mim. Afirmo-o, e tenho um arsenal de nomes suficientemente pesados para me aquecerem as costas: Tocqueville defende-o quando explica a importância do cristianismo para a democracia, La Rochefoucauld chama-lhe uma forma avançada de amor sui e mesmo Nietzsche, no Anticristo, explica que esta vontade de ajudar os fracos é uma forma peculiar de superioridade.
No futebol de dribles e potência, velocidade e altura, no entanto, isto não é sempre assim. E isto talvez seja útil para um golo bonito, mas o futebol de valorização do outro, de equipa no verdadeiro sentido do termo, é válido mais vezes. É isso, portanto, que se deve procurar na formação: não o melhor jogador do mundo, mas sim o melhor jogador para fazer da equipa a melhor equipa do mundo.
Em primeiro lugar, há-que conceder todas as indulgências aos jogadores. Se têm apenas 10 minutos de oportunidade para mostrar o que valem, é natural que queiram ser exuberantes. Nunca culparei o Nélson Oliveira pela quantidade de vezes que se agarrou desnecessariamente à bola durante este ano - só me admira que não tenha pintado o cabelo de cor-de-rosa para der nas vistas, desse por onde desse. Isto, no entanto, só prejudica o Benfica. Desaproveitar talentos, mais do que prejudicar um rapazito com poucas perspectivas, prejudica o clube. Este, portanto, deve fazer os possíveis por aproveitar o talento. Não interessa se o rapaz é um anormal, birrento, egoísta ou mimado: casos como o de Fábio Paim não devem acontecer, porque quem fica mais prejudicado é o clube, que perde um potencial activo importante.
Este não é, portanto, um texto técnico. Apenas pretender mostrar que o modelar da personalidade tem reflexos competitivos. Isto é: se um jogador é egoísta fora de campo, por que razão não o será dentro de campo? Se perde a cabeça com facilidade, como é que vai ter frieza num momento competitivo importante? Da mesma maneira que a escola é importante para o desenvolvimento de uma inteligência que terá reflexos naturais dentro do campo, a formação do carácter não será diferente. O que impressionava em Guardiola não era apenas uma forma de jogar à bola. Nós víamos aqueles passes milimétricos e sabíamos o cuidado com que pediria a mulher em casamento. Um jogo de Guardiola era uma descrição psicológica da sua vida, e isto é mais comum do que parece. É claro que, depois, temos Maradona, o homem que deve ser admirado em tudo e imitado em nada, mas mesmo neste vemos um futebol em bruto a crescer pari passu com a sua vida. A tese fundamental, portanto, é esta: de um rapaz generoso podemos esperar mais facilmente uma atenção para os movimentos dos companheiros de equipa, como podemos esperar um jogo mais inteligente de alguém que é, de facto, mais inteligente: o futebol não muda aquelas que são características humanas e não técnicas.
E, a partir do momento em que o carácter é formado, não faz sentido perder a rentabilidade de um jogador sénior em correcções educativas, da mesma forma que é um desperdício ter de corrigir posicionamentos tácticos a jogadores tecnicamente dotados. Esta formação dá-se, portanto, na altura prática. Os castigos duros, as ausências de convocatórias, as correcções educativas dão-se no devido lugar: na formação. A ânsia de títulos jovens, no entanto, parece torcer este olhar a ponto de, chegados a séniores, os jogadores não terem estas noções. Para um jogador ser um sénior mal comportado, foi um júnior mal educado. E é esta a vantagem da formação: saber com que é que contamos à partida e a tempo de o corrigir. Se há casos desses no futebol sénior? Haverá, mas não deve ser com os nossos. Enzo Perez quer sair? Haja dureza, para que o Miguel Herlein e o Diego Lopes aprendam. O que não pode é ser o Manuel Fernandes a fazer birra, quando o tivemos tanto tempo nas mãos para o moldar.
Há, obviamente, jogadores mais problemáticos e quase incorrigíveis. Mas, também nesses casos, perde o Benfica por não os aproveitar: Gascoigne teve boas épocas, Futre teve boas épocas, Ronaldinho teve boas épocas. Não poderá também o Sidnei ter? Rédea curta quando anda por cá, acompanhamento constante (para que serve, afinal, o gabinete de inteligência desportiva?), definição de objectivos a superar e cuidado especial com os empréstimos. É mais útil um empréstimo ao Fátima, clube de cidade pequena, do que ao Estoril onde a noite é tão atractiva.
Claro que os bad-boys não são os únicos casos de desaproveitamento de talentos, e talvez nem sejam os mais prementes. Importante, no entanto, é perceber que o Benfica tem obrigação máxima de explorar os seus activos. Quer eles estraguem os joelhos por desleixo, quer se portem mal, quer sejam demasiado tímidos para expôr à partida todo o futebol. Se há talento, que se aproveite. E, de preferência, desde pequeno, porque a personalidade também molda o talento.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Cardozo ou Van Hooijdonk?
A esperança dos tempos negros ou a besta negra dos tempos de esperança? É escolher, a Assembleia é que sabe...
Formar a formação I
Descartes, pensador, pensava o pensar. A assembleia, blogue ainda a formar-se, quer formar a formação. Se havia traços de soberba em pretender ensinar alguma coisa a quem tem competências para treinar equipas jovens, estes estão ainda mais vincados ao compararmo-nos a um dos grandes pensadores da história. Na esperança que o desplante maior disfarce o menor, arrancamos:
Não se pretende, pelo menos por agora, especificar competências técnicas, modos de treinar ou ideologias desportivas. Haverá lugar para isso noutro texto que visará o desenvolvimento do jovem em si. Aquilo que se pretende, por agora, é apenas explicar aquilo que deve ser uma estrutura do futebol de formação.
Diz-se, e é em parte verdadeiro, que o futebol de formação do Benfica melhorou. As equipas estão mais competitivas, há mais jogadores nas selecções e uma geração com possibilidades de ter alguns representantes na primeira equipa do Benfica. No entanto, a ideia de base é, de certa forma, estranha. Fala-se, e podemos vê-lo na apresentação oficial da formação do Benfica, de vários tipos de desenvolvimento, da escola de humanidade que o benfica é, de protocolos académicos e de todo o tipo de minúcia desportiva científica, sem que haja uma referência - salvo na apresentação da geração benfica - à tentativa de formar jogadores para o benfica. Este é o primeiro ponto que deve ser tido em conta: que o objectivo de um jovem da formação tem de ser jogar pelo Benfica. Não se trata de ser jogador do Chelsea ou do Real Madrid, nem sequer de ser jogador de futebol, mas sim de ser jogador do Benfica. Kierkegaard falava da importância do exemplo como uma possibilidade que é aberta para a minha própria vida: este é talvez o pelouro em que tem mais importância a presença de verdadeiros Benfiquistas, que mostrem o que é ter dedicação ao clube, que é possível ambicionar um coração cheio e não um bolso cheio; lembro-me de ver uma entrevista a Oriol Romeo em que, no jornal do Barça, lhe perguntavam se estava muito triste com o seu falhanço desportivo. Romeo tinha acabado de passar de uma equipa B para o Chelsea: mas não jogava no Barcelona, que é o que realmente interessa. Esta mentalidade deveria estar presente no Benfica: os miúdos devem querer, mais do que ser futebolistas, ser jogadores do Benfica. Claro que isto só é possível enquanto a possibilidade se afigurar real - se ninguém chega, da formação, a jogador importante do Benfica, não é possível cultivar-se esta mentalidade. Este problema é notório nos jogadores vindos da nossa formação: Manuel Fernandes, mal começou a ganhar importância, quis fugir; David Simão falava em afirmar-se na liga porque a história recente mostrava a dificuldade em afirmar-se no Benfica; os jogadores têm de ver a possibilidade de serem jogadores do Benfica como real, sob perigo de se desmotivarem.
Há, no entanto, outro ponto importante. Se é verdade que eles devem querer o Benfica, também é verdade que o Benfica os deve querer a eles. Não pretendo, de maneira nenhuma, ter jogadores no plantel principal por favor. O atleta só deve integrar a equipa se tiver condições para isso. Não precisamos de ter o Romeu Ribeiro e o Hélio Roque na equipa para mostrar que temos formação: a formação é que tem de ser boa e lançar bons jogadores. O que está em causa aqui, portanto, são estratégias para rentabilizar a formação.
Em primeiro lugar, há um factor essencial, referido na apresentação da Geração Benfica e esquecido (erradamente) nas etapas finais: a compreensão do jogo. É engraçado que o fracasso do Barcelona nesta época veio plantar novos catedráticos que davam o exemplo dos catalães como a prova da imprevisibilidade do futebol e de que não há modelos certos. É, no entanto, nesta permissa que assenta o futebol do Barcelona: a percepção de que o jogo tem factores imprevisíveis que não são controlados por características físicas mas pela capacidade de reacção a estes fenómenos imprevisíveis, isto é: a inteligência. E a inteligência não se forma apenas no campo: quem sabe interpretar bem um texto também tem uma melhor capacidade interpretativa do jogo, a inteligência não se esvai. A aposta no sucesso escolar deve portanto ser séria, não apenas para um louvor da correcção cívica, mas porque desenvolve a própria inteligência desportiva. Claro que, a partir daí, os treinos também devem ser feitos para o desenvolvimento da característica mais importante do jogador, a sua inteligência; mas, num jogador inteligente, as probabilidades de ter sucesso desportivo são logo maiores: a capacidade de interpretação do seu próprio jogo, de forma a evoluir e a capacidade de adaptação a uma nova equipa são sempre maiores.
A própria estrutura deve, também, estar montada para facilitar a entrada dos jogadores na equipa principal. Certos treinadores defendem o uso do 4x3x3 em todas as etapas de formação porque desenvolve mais os jogadores; parece-me, no entanto, mais lógico, para quem quer formar jogadores do Benfica e não quaisquer jogadores, adaptar o modelo, nas etapas mais avançadas, ao modelo da equipa sénior. Há certos métodos de integração, já usados, por exemplo no Barcelona ou no Inter, úteis para isto mesmo: a semelhança nos treinos entre seniores, juniores e juvenis é um exemplo disto mesmo.
O atleta jovem precisa, além do mais, de jogar. Pelo que os plantéis devem ser curtos, a ponto de promover, por vezes, adaptações posicionais que alarguem a capacidade de compreensão do jogo. Há o risco de perder jogadores importantes? Talvez, mas o risco esbate-se no caso de abrirmos as tais filiais formativas de que falávamos. O centramento homogeniza o treino, sim; mas há, hoje em dia, suficientes meios de comunicação para que haja uma compreensão alargada do que se faz em cada pólo; isto evita também encargos excessivos com os jogadores que têm de vir morar para o Seixal e que ficam órfãos de uma estrutura familiar equilibrada e constante, que permita um maior acompanhamento do miúdo. Evita também excessos de pressão precoces, de pais que acham que, a partir do momento em que o filho vem para Lisboa, será uma superestrela futebolística. Não há qualquer razão para não estender a formação a várias regiões, até porque há viabilidade financeira, como foi explicado no texto anterior. Podíamos, mesmo, abrir filiais no Brasil e nas ex-colónias, para facilitar a integração no futebol europeu, e onde a perspectiva de um salto para o futebol europeu mais iminente daria acesso privilegiado a certas promessas.
Por fim, seria importante uma integração sutentada dos júniores no futebol sénior. Encarar aqueles que integram a equipa principal como verdadeiros reforços, fazer uma gestão equilibrada da segunda equipa e escalonar os empréstimos por jogadores com capacidade imediata para actuar na primeira, segunda ou terceira ligas, de modo a fazerem sempre um percurso ascendente. Jogadores com Sancidino Silva, neste ano que aí vem, ou Diego Lopes, no ano que passou deveriam ter sido, desde logo, integrados numa equipa de futebol profissional.
Sobre a integração dos jovens, em si, e sobre o aproveitamento dos talentos, haverá um texto para breve. Por agora, "respeitemos a noite"
Não se pretende, pelo menos por agora, especificar competências técnicas, modos de treinar ou ideologias desportivas. Haverá lugar para isso noutro texto que visará o desenvolvimento do jovem em si. Aquilo que se pretende, por agora, é apenas explicar aquilo que deve ser uma estrutura do futebol de formação.
Diz-se, e é em parte verdadeiro, que o futebol de formação do Benfica melhorou. As equipas estão mais competitivas, há mais jogadores nas selecções e uma geração com possibilidades de ter alguns representantes na primeira equipa do Benfica. No entanto, a ideia de base é, de certa forma, estranha. Fala-se, e podemos vê-lo na apresentação oficial da formação do Benfica, de vários tipos de desenvolvimento, da escola de humanidade que o benfica é, de protocolos académicos e de todo o tipo de minúcia desportiva científica, sem que haja uma referência - salvo na apresentação da geração benfica - à tentativa de formar jogadores para o benfica. Este é o primeiro ponto que deve ser tido em conta: que o objectivo de um jovem da formação tem de ser jogar pelo Benfica. Não se trata de ser jogador do Chelsea ou do Real Madrid, nem sequer de ser jogador de futebol, mas sim de ser jogador do Benfica. Kierkegaard falava da importância do exemplo como uma possibilidade que é aberta para a minha própria vida: este é talvez o pelouro em que tem mais importância a presença de verdadeiros Benfiquistas, que mostrem o que é ter dedicação ao clube, que é possível ambicionar um coração cheio e não um bolso cheio; lembro-me de ver uma entrevista a Oriol Romeo em que, no jornal do Barça, lhe perguntavam se estava muito triste com o seu falhanço desportivo. Romeo tinha acabado de passar de uma equipa B para o Chelsea: mas não jogava no Barcelona, que é o que realmente interessa. Esta mentalidade deveria estar presente no Benfica: os miúdos devem querer, mais do que ser futebolistas, ser jogadores do Benfica. Claro que isto só é possível enquanto a possibilidade se afigurar real - se ninguém chega, da formação, a jogador importante do Benfica, não é possível cultivar-se esta mentalidade. Este problema é notório nos jogadores vindos da nossa formação: Manuel Fernandes, mal começou a ganhar importância, quis fugir; David Simão falava em afirmar-se na liga porque a história recente mostrava a dificuldade em afirmar-se no Benfica; os jogadores têm de ver a possibilidade de serem jogadores do Benfica como real, sob perigo de se desmotivarem.
Há, no entanto, outro ponto importante. Se é verdade que eles devem querer o Benfica, também é verdade que o Benfica os deve querer a eles. Não pretendo, de maneira nenhuma, ter jogadores no plantel principal por favor. O atleta só deve integrar a equipa se tiver condições para isso. Não precisamos de ter o Romeu Ribeiro e o Hélio Roque na equipa para mostrar que temos formação: a formação é que tem de ser boa e lançar bons jogadores. O que está em causa aqui, portanto, são estratégias para rentabilizar a formação.
Em primeiro lugar, há um factor essencial, referido na apresentação da Geração Benfica e esquecido (erradamente) nas etapas finais: a compreensão do jogo. É engraçado que o fracasso do Barcelona nesta época veio plantar novos catedráticos que davam o exemplo dos catalães como a prova da imprevisibilidade do futebol e de que não há modelos certos. É, no entanto, nesta permissa que assenta o futebol do Barcelona: a percepção de que o jogo tem factores imprevisíveis que não são controlados por características físicas mas pela capacidade de reacção a estes fenómenos imprevisíveis, isto é: a inteligência. E a inteligência não se forma apenas no campo: quem sabe interpretar bem um texto também tem uma melhor capacidade interpretativa do jogo, a inteligência não se esvai. A aposta no sucesso escolar deve portanto ser séria, não apenas para um louvor da correcção cívica, mas porque desenvolve a própria inteligência desportiva. Claro que, a partir daí, os treinos também devem ser feitos para o desenvolvimento da característica mais importante do jogador, a sua inteligência; mas, num jogador inteligente, as probabilidades de ter sucesso desportivo são logo maiores: a capacidade de interpretação do seu próprio jogo, de forma a evoluir e a capacidade de adaptação a uma nova equipa são sempre maiores.
A própria estrutura deve, também, estar montada para facilitar a entrada dos jogadores na equipa principal. Certos treinadores defendem o uso do 4x3x3 em todas as etapas de formação porque desenvolve mais os jogadores; parece-me, no entanto, mais lógico, para quem quer formar jogadores do Benfica e não quaisquer jogadores, adaptar o modelo, nas etapas mais avançadas, ao modelo da equipa sénior. Há certos métodos de integração, já usados, por exemplo no Barcelona ou no Inter, úteis para isto mesmo: a semelhança nos treinos entre seniores, juniores e juvenis é um exemplo disto mesmo.
O atleta jovem precisa, além do mais, de jogar. Pelo que os plantéis devem ser curtos, a ponto de promover, por vezes, adaptações posicionais que alarguem a capacidade de compreensão do jogo. Há o risco de perder jogadores importantes? Talvez, mas o risco esbate-se no caso de abrirmos as tais filiais formativas de que falávamos. O centramento homogeniza o treino, sim; mas há, hoje em dia, suficientes meios de comunicação para que haja uma compreensão alargada do que se faz em cada pólo; isto evita também encargos excessivos com os jogadores que têm de vir morar para o Seixal e que ficam órfãos de uma estrutura familiar equilibrada e constante, que permita um maior acompanhamento do miúdo. Evita também excessos de pressão precoces, de pais que acham que, a partir do momento em que o filho vem para Lisboa, será uma superestrela futebolística. Não há qualquer razão para não estender a formação a várias regiões, até porque há viabilidade financeira, como foi explicado no texto anterior. Podíamos, mesmo, abrir filiais no Brasil e nas ex-colónias, para facilitar a integração no futebol europeu, e onde a perspectiva de um salto para o futebol europeu mais iminente daria acesso privilegiado a certas promessas.
Por fim, seria importante uma integração sutentada dos júniores no futebol sénior. Encarar aqueles que integram a equipa principal como verdadeiros reforços, fazer uma gestão equilibrada da segunda equipa e escalonar os empréstimos por jogadores com capacidade imediata para actuar na primeira, segunda ou terceira ligas, de modo a fazerem sempre um percurso ascendente. Jogadores com Sancidino Silva, neste ano que aí vem, ou Diego Lopes, no ano que passou deveriam ter sido, desde logo, integrados numa equipa de futebol profissional.
Sobre a integração dos jovens, em si, e sobre o aproveitamento dos talentos, haverá um texto para breve. Por agora, "respeitemos a noite"
domingo, 20 de maio de 2012
Nuno Gomes ou Simão?
Modo assembleia: decisões polémicas, barulho e roquidão, fúria e amor fraterno. Dois capitães, dois dos nossos, é só escolher: Nuno Gomes ou Simão?
Sobre modalidades (d)e economia
Que a doutrina é propícia a divisões, já todos o sabemos: é o que acontece nos assuntos importantes. Platão e as formas ideais, Aristóteles e as formas terrenas, Agostinho e S. Tomás, Beatles e Stones e Nuno Gomes ou Simão. Formam-se exércitos de argumentos afiados e línguas preparadas, onde não se admitem meias coisas. Já diz o Apocalipse - para adoçar o sabor épico da guerra - que, aos mornos, vomitá-los-à da sua boca.
O peso das modalidades, portanto, não foge à regra. Há quem defenda a pluralidade, um clube de desporto e não de futebol, e um Benfica à laia de diamante: sempre o mesmo mas com várias faces. Outros, porém, falam de prémios de consolação, da inviabilidade económica e de distracções em relação ao essencial.
Os argumentos estão bem fundamentados: vai-se ao complexo mundo positivo da estatística, revelam-se bastiões históricos importantes e projectam-se futuros com uma única coisa em comum: a garantia de sucesso no caso de se enveredar por aquela via.
Não abona certamente a meu favor, mas tenho uma certa queda louvaminheira, uma jesuítica veia conciliatória que me dá o epíteto do tal "morno" que não escapará ao Apocalipse. Qual criança, que quer o bolo e o chocolate, também eu quero o futebol e as modalidades. Não que eu seja economista de beca e galões dourados, mas parece-me, até economicamente, o mais viável. Vejamos:
O problema da aposta nas modalidades é sempre o mesmo: o parco rendimento que dão pode minar o futebol, por lhe gastar dinheiro excessivo. Trata-se de uma espécie de parasita que impede o crescimento do futebol por lhe sorver o dinheiro. Claro que, se acharmos que as dívidas "não são para pagar, apenas para gerir", isto não é um problema. Mas no meu Benfica só cabem gentis-homens, que honram os seus compromissos e portanto pagam dívidas. Claro que, se acharmos que o futebol já cresceu quanto baste, isto não é problema. Mas a minha loucura Napoleónica acha que o Benfica deve competir com os grandes clubes da europa em tudo, sem precisar de "encaixar 30 milhões por ano" - o que é um eufemismo para a venda de jogadores-chave -, apesar da liga em que joga (que não é assim tão má, nem a liga que contratou Eto'o assim tão boa).
Há, de facto, modalidades que só muito a custo serão rentáveis financeiramente. Como é que o râguebi, desporto amador e de pouca monta em Portugal, pode ser rentável? Modalidades como esta são, à partida, um sorvedouro de dinheiro, que retira poder de nível europeu ao futebol.
Por outro lado, o peso histórico de modalidades como o ciclismo ou o atletismo na nossa história impedem-nos de encarar como menos do que uma facada nas costas de Cosme Damião o descurar de uma modalidade.
Só parece, portanto, haver dois modos de encarar a questão: ou investimos mais no futebol para que, a prazo, haja retorno que permita investir nas modalidades - o que implica um prejuízo imediato destas; ou se investe imediatamente nas modalidades para que, a prazo, se tornem auto-sustentáveis, com o perigo de um prejuízo imediato do futebol. Ora, qualquer das situações - enquanto interrupção momentânea do fervor do investimento - pode significar uma passagem dos próximos anos a correr atrás da cauda dos adversários, à laia de Arsenal.
Há, no entanto, maneira de investir ao mesmo tempo nos pares e nos impares, sem que a roleta nos seja desfavorável? Talvez haja, implicando a hipoteca do movimento da nossa caixa-forte, do nosso ex libris desportivo, do nosso eixo desportivo Seixal-Luz.
Se há ponto em que a actual direcção, juntamente com a anterior, teve um papel importante, foi na restruturação financeira. Não discutirei equilíbrios de contas nem a inflamação dos benefícios apregoados. Interessa, isso sim, que foi reposta uma credibilidade que tem de ser óbvia no Benfica: que um clube com tantos adeptos é o mais apetecível dos alvos comerciais. O Benfica tem dezenas, centenas, milhares (nunca fui homem dos números) de parceiros comerciais à espera de negócios que não se fecham pela incapacidade do Benfica em dar vazão a tantos pedidos. É compreensível, não há espaço, não há tempo para dar aos interessados a visibilidade pretendida. Ora, isto provém de um centramento do Benfica - até certo ponto compreensível - numa região muito específica. Teve-se, durante vários anos, filiais espalhadas pelo país. Se é compreensível que um desejo de facilitar a comunicação, de controlar os factores de variação, tenha levado a um centramento do benfica, também há um prejuízo financeiro motivado pela incapacidade de corresponder às necessidades dos potenciais investidores. Isto é: da mesma maneira que uma livraria pode mostrar mais livros se tiver mais espaço, também um clube tem mais expositores se tiver mais actividade. Há público que assiste a futsal? Há. Poderia haver mais? Poderia: há adeptos que vivem no Porto e que, com certeza, não têm disponibilidade para vir até ao Seixal ou à Luz assistir aos jogos das modalidades.
Claro que o Benfica não pode enfraquecer as suas equipas principais e, para isso, é bom que haja um certo centramento. Mas um pavilhão desportivo virado para a formação no Porto seria, com certeza, além de mais um espaço de exposição para investidores, um bastião benfiquista em território potencialmente adverso. Noutro texto, discutirei as vantagens pedagógicas de uma desregionalização da formação. Interessa-me, no entanto, por agora, explicar que há, no Benfica, capacidade para que um investimento destes seja auto-sustentável. Não há capacidade, isso não, para investir mais no mesmo sítio: não há público e não há montras suficientes.
O Seixal, obviamente, tem vantagens, e deve ser o único pólo sénior de qualquer desporto, e mesmo dos últimos anos da formação. Mas estes, normalmente, não são os factores economicamente problemáticos. Esses podem ser resolvidos com apoios, que podem existir desde que o Benfica também alargue a sua disponibilidade.
O peso das modalidades, portanto, não foge à regra. Há quem defenda a pluralidade, um clube de desporto e não de futebol, e um Benfica à laia de diamante: sempre o mesmo mas com várias faces. Outros, porém, falam de prémios de consolação, da inviabilidade económica e de distracções em relação ao essencial.
Os argumentos estão bem fundamentados: vai-se ao complexo mundo positivo da estatística, revelam-se bastiões históricos importantes e projectam-se futuros com uma única coisa em comum: a garantia de sucesso no caso de se enveredar por aquela via.
Não abona certamente a meu favor, mas tenho uma certa queda louvaminheira, uma jesuítica veia conciliatória que me dá o epíteto do tal "morno" que não escapará ao Apocalipse. Qual criança, que quer o bolo e o chocolate, também eu quero o futebol e as modalidades. Não que eu seja economista de beca e galões dourados, mas parece-me, até economicamente, o mais viável. Vejamos:
O problema da aposta nas modalidades é sempre o mesmo: o parco rendimento que dão pode minar o futebol, por lhe gastar dinheiro excessivo. Trata-se de uma espécie de parasita que impede o crescimento do futebol por lhe sorver o dinheiro. Claro que, se acharmos que as dívidas "não são para pagar, apenas para gerir", isto não é um problema. Mas no meu Benfica só cabem gentis-homens, que honram os seus compromissos e portanto pagam dívidas. Claro que, se acharmos que o futebol já cresceu quanto baste, isto não é problema. Mas a minha loucura Napoleónica acha que o Benfica deve competir com os grandes clubes da europa em tudo, sem precisar de "encaixar 30 milhões por ano" - o que é um eufemismo para a venda de jogadores-chave -, apesar da liga em que joga (que não é assim tão má, nem a liga que contratou Eto'o assim tão boa).
Há, de facto, modalidades que só muito a custo serão rentáveis financeiramente. Como é que o râguebi, desporto amador e de pouca monta em Portugal, pode ser rentável? Modalidades como esta são, à partida, um sorvedouro de dinheiro, que retira poder de nível europeu ao futebol.
Por outro lado, o peso histórico de modalidades como o ciclismo ou o atletismo na nossa história impedem-nos de encarar como menos do que uma facada nas costas de Cosme Damião o descurar de uma modalidade.
Só parece, portanto, haver dois modos de encarar a questão: ou investimos mais no futebol para que, a prazo, haja retorno que permita investir nas modalidades - o que implica um prejuízo imediato destas; ou se investe imediatamente nas modalidades para que, a prazo, se tornem auto-sustentáveis, com o perigo de um prejuízo imediato do futebol. Ora, qualquer das situações - enquanto interrupção momentânea do fervor do investimento - pode significar uma passagem dos próximos anos a correr atrás da cauda dos adversários, à laia de Arsenal.
Há, no entanto, maneira de investir ao mesmo tempo nos pares e nos impares, sem que a roleta nos seja desfavorável? Talvez haja, implicando a hipoteca do movimento da nossa caixa-forte, do nosso ex libris desportivo, do nosso eixo desportivo Seixal-Luz.
Se há ponto em que a actual direcção, juntamente com a anterior, teve um papel importante, foi na restruturação financeira. Não discutirei equilíbrios de contas nem a inflamação dos benefícios apregoados. Interessa, isso sim, que foi reposta uma credibilidade que tem de ser óbvia no Benfica: que um clube com tantos adeptos é o mais apetecível dos alvos comerciais. O Benfica tem dezenas, centenas, milhares (nunca fui homem dos números) de parceiros comerciais à espera de negócios que não se fecham pela incapacidade do Benfica em dar vazão a tantos pedidos. É compreensível, não há espaço, não há tempo para dar aos interessados a visibilidade pretendida. Ora, isto provém de um centramento do Benfica - até certo ponto compreensível - numa região muito específica. Teve-se, durante vários anos, filiais espalhadas pelo país. Se é compreensível que um desejo de facilitar a comunicação, de controlar os factores de variação, tenha levado a um centramento do benfica, também há um prejuízo financeiro motivado pela incapacidade de corresponder às necessidades dos potenciais investidores. Isto é: da mesma maneira que uma livraria pode mostrar mais livros se tiver mais espaço, também um clube tem mais expositores se tiver mais actividade. Há público que assiste a futsal? Há. Poderia haver mais? Poderia: há adeptos que vivem no Porto e que, com certeza, não têm disponibilidade para vir até ao Seixal ou à Luz assistir aos jogos das modalidades.
Claro que o Benfica não pode enfraquecer as suas equipas principais e, para isso, é bom que haja um certo centramento. Mas um pavilhão desportivo virado para a formação no Porto seria, com certeza, além de mais um espaço de exposição para investidores, um bastião benfiquista em território potencialmente adverso. Noutro texto, discutirei as vantagens pedagógicas de uma desregionalização da formação. Interessa-me, no entanto, por agora, explicar que há, no Benfica, capacidade para que um investimento destes seja auto-sustentável. Não há capacidade, isso não, para investir mais no mesmo sítio: não há público e não há montras suficientes.
O Seixal, obviamente, tem vantagens, e deve ser o único pólo sénior de qualquer desporto, e mesmo dos últimos anos da formação. Mas estes, normalmente, não são os factores economicamente problemáticos. Esses podem ser resolvidos com apoios, que podem existir desde que o Benfica também alargue a sua disponibilidade.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Sobre segundas categorias
Em primeiro lugar, dava-lhe este nome, mais condizente com a história do SLB. Vários dos nossos notáveis fundadores jogaram nas segundas categorias do Benfica, pelo que um cheiro histórico sobre a novidade não ficava mal e distanciava da amostra engasgada de há uns anos. Tratado já o problema estético e pouco relevante, passemos ao importante.
Uma equipa B, ou uma equipa de segunda categoria, agrada tanto ao povo como leva credores a franzir o sobrolho. Se é verdade que pode deixar empresários a salivar com a perspectiva de movimentações constantes de brasileiros com expectativas goradas e de trintões com mais salário do que pernas, também pode ser um saudável laboratório de jogadores, que apura talentos em ebulição e lapida jovens com futebol nos pés mas falta dele na cabeça. Isto depende, na verdade, mais do que dos jogadores em questão ou do campeonato em que jogam, depende da própria concepção ideológica associada às segundas categorias.
Aventou-se, durante muito tempo, a impossibilidade de jogar na II divisão como desculpa para o fracasso do primeiro ensaio deste projecto. No entanto, a Castilla madrilena está agora a disputar o acesso à equivalente espanhola e não vejo, no Brasil, mesmo em piores condições, razões para um queixume sobre segundas categorias. E, mesmo que só agora o Real comece a ser um exemplo no modo de aproveitamento da sua cantera, nunca houve dúvidas sobre a utilidade desta independentemente da divisão em que jogasse.
É claro que a possibilidade de jogar na segunda divisão facilita contratações que passem, numa primeira fase, pela segunda categoria. No entanto, mesmo isto pode vir armadilhado, ao permitir a entrada de contentores de jogadores desnecessários.
O que está, acima de tudo, em causa é um modelo de segunda categoria como próxima da equipa principal; um modelo em que as chamadas promessas são preparadas para poderem um dia integrar a equipa principal. E se isto, por agora, parece um exercício de idealismo vago, já veremos que tem implicações práticas sérias.
Em primeiro lugar, vemos que a solução é importante, não só a longo prazo mas imediatamente. É já um costume velho estragar promessas novas com a sua integração no plantel. Rúben Pinto, pretendido há uns anos pelo Arsenal, esteve parado um ano sem jogar, o que constitui um perigo para a sua evolução. Por outro lado, como Rui Costa dizia numa entrevista, é, por vezes, mais importante treinar e aprender diariamente com Saviola, Aimar e Rui Costa do que jogar regularmente no Belenenses como fez Miguel Rosa ou Kanú. Há maneira de, ao mesmo tempo, um jogador aprender diariamente com os melhores e jogar regularmente? Sim. Jogando nas segundas categorias. A treinar lado a lado com Aimar e a jogar no fim-de-semana, sem o perigo da pressão excessiva. Isto implica que os lugares tipicamente ocupados pelas nossas promessas, como o de terceiro guarda-redes, quarto central, enésimo médio e extremo descartável sejam ocupados por novas contratações? Não, implica que o terceiro guarda-redes ou o quarto central sejam os titulares da segunda equipa. Para quê ter um quarto-central, que joga em média cinco jogos por época, se podemos ter três centrais e um quarto a jogar semanalmente, para o caso de ser preciso. Claro que isto implica ter uma segunda equipa inteiramente subordinada ao modelo de jogo da primeira, mas isto parece-me óbvio se o objectivo principal for o de formar jogadores para a primeira equipa.
Podem dizer-me que uma equipa que joga em várias frentes precisa de ter um plantel longo. No entanto, para que serve ter um plantel longo se os jogadores pouco rotinados, por estarem pouco rotinados, acabam por não contar? Que diferença há entre ter um plantel com 25 jogadores em que cinco deles não jogam - como aconteceu com Mika, Luís Martins, David Simão, Rúben Pinto e Mora, e só não com Miguel Vítor porque houve um momento de indefinição quanto ao terceiro central - e ter um plantel com 20 jogadores que são realmente alternativas e estão em igualdade de circunstâncias, que jogam regularmente, com mais 20 rotinados para uma eventual urgência?
É mais rentável ter dois plantéis curtos mas com certa maleabilidade entre eles do que um plantel longo em que há jogadores que estão num patamar inferior - como é legítimo que estejam dada a sua inexperiência - e que por isso perdem um ano sem experiência de jogo.
Ora, isto também comporta certas exigências no modo de constituição das segundas categorias. A existência de uma segunda equipa não implica uma extinção total dos empréstimos: o período de manutenção de um jogador numa segunda categoria tem de ser curto e de integração progressiva na primeira equipa. Seria ideal que, a cada jogador vendido, um jogador da segunda categoria da mesma posição pudesse subir para ocupar o lugar de suplente, enquanto o suplente se afirmaria como titular. Isto, no entanto, é bastante pouco provável. Mas, se um jogador, em três anos na segunda equipa, não se consegue afirmar como alternativa credível para uma primeira, deve ser emprestado ou vendido. Ora, isto tem implicações no modo de composição dos dois plantéis. Lembro-me de ver uma entrevista de Carlos Freitas em que este justificava a compra de um central velho com a esperança que depositavam em Daniel Carriço, miúdo que, uns anos depois, deveria estar na equipa principal. E isto é compreensível: há a moda de não querer comprar senão jovens pelo futebol português. No entanto, isto não é tão simples assim. A compra de um avançado com grande margem de progressão para substituir Cardozo seria, hoje, um erro porque taparia a evolução de Rodrigo e Nélson Oliveira. Se não há a certeza da sua rentabilidade imediata, deve ser contratado alguém com um rendimento óptimo durante um, no máximo dois, anos, sob perigo de desvalorizar activos jovens e prestes a explodir. Na contratação de alguém para a equipa principal deve ser tida em conta a capacidade de explosão dos atletas da segunda equipa na posição respectiva. É um risco? Terá, talvez, um certo risco, mas, na idade destes atletas, pouco. Claro que há falhanços, mas são, geralmente, motivados pela falta de jogo. Sem aposta, claro que não evoluirão. Com uma aposta controlada, há esperança, até porque, como diz Wenger, a partir dos 18 anos já temos uma ideia aproximada do potencial completo, quer técnico quer mental, do jogador.
A segunda equipa deve, portanto, ser sempre vista como um laborátorio prestes a servir a equipa principal. Não como um alívio fácil para os jogadores em excesso, nem como um abrigo de ex-júniores sem critério. A segunda equipa deve ser o posto onde estão apenas as alternativas credíveis. Não seria razoável contar com atletas como Diogo Caramelo na equipa, simplesmente por serem ex-júniores. A segunda equipa deve ser composta pelos jogadores que estão mais próximos de integrar a equipa principal. Há jogadores que são ainda uma incógnita, que podem dar o salto? Esses sim, podem ser emprestados a equipas de divisões diferentes, conforme o potencial actual.
Se é possível, por agora, uma equipa de segunda categoria ideal? Dificilmente. Jogadores com vários anos de primeira liga não deveriam estar agora a voltar à segunda. Jogadores com Jara dificilmente integrarão uma equipa B. Mas, aos poucos, deveria ser feito um esforço para encurtar o volume de activos, até a um ponto em que restassem cerca de 20 jogadores para cada equipa. Dois guarda-redes, três laterais e três centrais, seis médios divididos entre as várias posições do miolo, três extremos e três avançados. Será assim brevemente? Duvido. Mas não custa sonhar...
Uma equipa B, ou uma equipa de segunda categoria, agrada tanto ao povo como leva credores a franzir o sobrolho. Se é verdade que pode deixar empresários a salivar com a perspectiva de movimentações constantes de brasileiros com expectativas goradas e de trintões com mais salário do que pernas, também pode ser um saudável laboratório de jogadores, que apura talentos em ebulição e lapida jovens com futebol nos pés mas falta dele na cabeça. Isto depende, na verdade, mais do que dos jogadores em questão ou do campeonato em que jogam, depende da própria concepção ideológica associada às segundas categorias.
Aventou-se, durante muito tempo, a impossibilidade de jogar na II divisão como desculpa para o fracasso do primeiro ensaio deste projecto. No entanto, a Castilla madrilena está agora a disputar o acesso à equivalente espanhola e não vejo, no Brasil, mesmo em piores condições, razões para um queixume sobre segundas categorias. E, mesmo que só agora o Real comece a ser um exemplo no modo de aproveitamento da sua cantera, nunca houve dúvidas sobre a utilidade desta independentemente da divisão em que jogasse.
É claro que a possibilidade de jogar na segunda divisão facilita contratações que passem, numa primeira fase, pela segunda categoria. No entanto, mesmo isto pode vir armadilhado, ao permitir a entrada de contentores de jogadores desnecessários.
O que está, acima de tudo, em causa é um modelo de segunda categoria como próxima da equipa principal; um modelo em que as chamadas promessas são preparadas para poderem um dia integrar a equipa principal. E se isto, por agora, parece um exercício de idealismo vago, já veremos que tem implicações práticas sérias.
Em primeiro lugar, vemos que a solução é importante, não só a longo prazo mas imediatamente. É já um costume velho estragar promessas novas com a sua integração no plantel. Rúben Pinto, pretendido há uns anos pelo Arsenal, esteve parado um ano sem jogar, o que constitui um perigo para a sua evolução. Por outro lado, como Rui Costa dizia numa entrevista, é, por vezes, mais importante treinar e aprender diariamente com Saviola, Aimar e Rui Costa do que jogar regularmente no Belenenses como fez Miguel Rosa ou Kanú. Há maneira de, ao mesmo tempo, um jogador aprender diariamente com os melhores e jogar regularmente? Sim. Jogando nas segundas categorias. A treinar lado a lado com Aimar e a jogar no fim-de-semana, sem o perigo da pressão excessiva. Isto implica que os lugares tipicamente ocupados pelas nossas promessas, como o de terceiro guarda-redes, quarto central, enésimo médio e extremo descartável sejam ocupados por novas contratações? Não, implica que o terceiro guarda-redes ou o quarto central sejam os titulares da segunda equipa. Para quê ter um quarto-central, que joga em média cinco jogos por época, se podemos ter três centrais e um quarto a jogar semanalmente, para o caso de ser preciso. Claro que isto implica ter uma segunda equipa inteiramente subordinada ao modelo de jogo da primeira, mas isto parece-me óbvio se o objectivo principal for o de formar jogadores para a primeira equipa.
Podem dizer-me que uma equipa que joga em várias frentes precisa de ter um plantel longo. No entanto, para que serve ter um plantel longo se os jogadores pouco rotinados, por estarem pouco rotinados, acabam por não contar? Que diferença há entre ter um plantel com 25 jogadores em que cinco deles não jogam - como aconteceu com Mika, Luís Martins, David Simão, Rúben Pinto e Mora, e só não com Miguel Vítor porque houve um momento de indefinição quanto ao terceiro central - e ter um plantel com 20 jogadores que são realmente alternativas e estão em igualdade de circunstâncias, que jogam regularmente, com mais 20 rotinados para uma eventual urgência?
É mais rentável ter dois plantéis curtos mas com certa maleabilidade entre eles do que um plantel longo em que há jogadores que estão num patamar inferior - como é legítimo que estejam dada a sua inexperiência - e que por isso perdem um ano sem experiência de jogo.
Ora, isto também comporta certas exigências no modo de constituição das segundas categorias. A existência de uma segunda equipa não implica uma extinção total dos empréstimos: o período de manutenção de um jogador numa segunda categoria tem de ser curto e de integração progressiva na primeira equipa. Seria ideal que, a cada jogador vendido, um jogador da segunda categoria da mesma posição pudesse subir para ocupar o lugar de suplente, enquanto o suplente se afirmaria como titular. Isto, no entanto, é bastante pouco provável. Mas, se um jogador, em três anos na segunda equipa, não se consegue afirmar como alternativa credível para uma primeira, deve ser emprestado ou vendido. Ora, isto tem implicações no modo de composição dos dois plantéis. Lembro-me de ver uma entrevista de Carlos Freitas em que este justificava a compra de um central velho com a esperança que depositavam em Daniel Carriço, miúdo que, uns anos depois, deveria estar na equipa principal. E isto é compreensível: há a moda de não querer comprar senão jovens pelo futebol português. No entanto, isto não é tão simples assim. A compra de um avançado com grande margem de progressão para substituir Cardozo seria, hoje, um erro porque taparia a evolução de Rodrigo e Nélson Oliveira. Se não há a certeza da sua rentabilidade imediata, deve ser contratado alguém com um rendimento óptimo durante um, no máximo dois, anos, sob perigo de desvalorizar activos jovens e prestes a explodir. Na contratação de alguém para a equipa principal deve ser tida em conta a capacidade de explosão dos atletas da segunda equipa na posição respectiva. É um risco? Terá, talvez, um certo risco, mas, na idade destes atletas, pouco. Claro que há falhanços, mas são, geralmente, motivados pela falta de jogo. Sem aposta, claro que não evoluirão. Com uma aposta controlada, há esperança, até porque, como diz Wenger, a partir dos 18 anos já temos uma ideia aproximada do potencial completo, quer técnico quer mental, do jogador.
A segunda equipa deve, portanto, ser sempre vista como um laborátorio prestes a servir a equipa principal. Não como um alívio fácil para os jogadores em excesso, nem como um abrigo de ex-júniores sem critério. A segunda equipa deve ser o posto onde estão apenas as alternativas credíveis. Não seria razoável contar com atletas como Diogo Caramelo na equipa, simplesmente por serem ex-júniores. A segunda equipa deve ser composta pelos jogadores que estão mais próximos de integrar a equipa principal. Há jogadores que são ainda uma incógnita, que podem dar o salto? Esses sim, podem ser emprestados a equipas de divisões diferentes, conforme o potencial actual.
Se é possível, por agora, uma equipa de segunda categoria ideal? Dificilmente. Jogadores com vários anos de primeira liga não deveriam estar agora a voltar à segunda. Jogadores com Jara dificilmente integrarão uma equipa B. Mas, aos poucos, deveria ser feito um esforço para encurtar o volume de activos, até a um ponto em que restassem cerca de 20 jogadores para cada equipa. Dois guarda-redes, três laterais e três centrais, seis médios divididos entre as várias posições do miolo, três extremos e três avançados. Será assim brevemente? Duvido. Mas não custa sonhar...
Assembleia Vazia
Se houvessem ambições políticas ou intenções dissimuladas, poderiam ser já esquecidas. Quem mostra o jogo todo à partida mostra também o seu certificado de inaptidão estratégica e de nabice diplomática. Pois bem, é esse o caso da assembleia e é esse o caso de Catão - não está mais em causa do que aquilo que vemos no nome; um espaço de discussão, uma assembleia, que visa as eleições no benfica. Não há quaisquer marcas visionárias no discurso deste espaço: espera-se, qual Catão, o insistente papagaio de uma única frase, apenas uma repetição daquilo que tem sido a história do Benfica. Quem é benfiquista não pede novidade: pede antiguidade, pede aquilo que não teve. Talvez não seja por acaso a velha ligação do benfica ao Restelo: quem tem costados de ouro precisa de um velho ancião que os lembre de vez em quando.
Também o nome prova esta velhice crónica: Assembleia à sexta-feira, moda antiga na luz, em que se espera casa cheia. Não é apenas um exercício prático de quem só tem a sexta-feira para escrever, é a junção de oxímoros própria do Benfica - Passado e futuro, beleza e pragmatismo, povo e condes do Restelo, como também aqui se junta o útil ao agradável.
Prometem-se gargantas roucas e ânimos exaltados, exortação da glória e flagelo da desgraça, prometem-se assembleias à benfica. Só não se promete novidade porque o Benfica não quer novidade, quer restauração daquilo que sempre foi.
Acompanhem, de sexta em sexta, o rumo do benfica ruma à escolha de um novo comandante. Tracem perfis de candidatos, de equipas e de sonhos. É assembleia, tudo é permitido!
Se ficou alguma coisa por dizer, perdoem o descuido. Na verdade, a distracção benfiquista está abençoada desde o dia em que Cosme Damião se esqueceu de pôr o seu nome entre os fundadores do nosso clube.
A assembleia está aberta e espera-se a afluência das massas. Aberta a sessão, jogue o Benfica!
Também o nome prova esta velhice crónica: Assembleia à sexta-feira, moda antiga na luz, em que se espera casa cheia. Não é apenas um exercício prático de quem só tem a sexta-feira para escrever, é a junção de oxímoros própria do Benfica - Passado e futuro, beleza e pragmatismo, povo e condes do Restelo, como também aqui se junta o útil ao agradável.
Prometem-se gargantas roucas e ânimos exaltados, exortação da glória e flagelo da desgraça, prometem-se assembleias à benfica. Só não se promete novidade porque o Benfica não quer novidade, quer restauração daquilo que sempre foi.
Acompanhem, de sexta em sexta, o rumo do benfica ruma à escolha de um novo comandante. Tracem perfis de candidatos, de equipas e de sonhos. É assembleia, tudo é permitido!
Se ficou alguma coisa por dizer, perdoem o descuido. Na verdade, a distracção benfiquista está abençoada desde o dia em que Cosme Damião se esqueceu de pôr o seu nome entre os fundadores do nosso clube.
A assembleia está aberta e espera-se a afluência das massas. Aberta a sessão, jogue o Benfica!
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