Em primeiro lugar, dava-lhe este nome, mais condizente com a história do SLB. Vários dos nossos notáveis fundadores jogaram nas segundas categorias do Benfica, pelo que um cheiro histórico sobre a novidade não ficava mal e distanciava da amostra engasgada de há uns anos. Tratado já o problema estético e pouco relevante, passemos ao importante.
Uma equipa B, ou uma equipa de segunda categoria, agrada tanto ao povo como leva credores a franzir o sobrolho. Se é verdade que pode deixar empresários a salivar com a perspectiva de movimentações constantes de brasileiros com expectativas goradas e de trintões com mais salário do que pernas, também pode ser um saudável laboratório de jogadores, que apura talentos em ebulição e lapida jovens com futebol nos pés mas falta dele na cabeça. Isto depende, na verdade, mais do que dos jogadores em questão ou do campeonato em que jogam, depende da própria concepção ideológica associada às segundas categorias.
Aventou-se, durante muito tempo, a impossibilidade de jogar na II divisão como desculpa para o fracasso do primeiro ensaio deste projecto. No entanto, a Castilla madrilena está agora a disputar o acesso à equivalente espanhola e não vejo, no Brasil, mesmo em piores condições, razões para um queixume sobre segundas categorias. E, mesmo que só agora o Real comece a ser um exemplo no modo de aproveitamento da sua cantera, nunca houve dúvidas sobre a utilidade desta independentemente da divisão em que jogasse.
É claro que a possibilidade de jogar na segunda divisão facilita contratações que passem, numa primeira fase, pela segunda categoria. No entanto, mesmo isto pode vir armadilhado, ao permitir a entrada de contentores de jogadores desnecessários.
O que está, acima de tudo, em causa é um modelo de segunda categoria como próxima da equipa principal; um modelo em que as chamadas promessas são preparadas para poderem um dia integrar a equipa principal. E se isto, por agora, parece um exercício de idealismo vago, já veremos que tem implicações práticas sérias.
Em primeiro lugar, vemos que a solução é importante, não só a longo prazo mas imediatamente. É já um costume velho estragar promessas novas com a sua integração no plantel. Rúben Pinto, pretendido há uns anos pelo Arsenal, esteve parado um ano sem jogar, o que constitui um perigo para a sua evolução. Por outro lado, como Rui Costa dizia numa entrevista, é, por vezes, mais importante treinar e aprender diariamente com Saviola, Aimar e Rui Costa do que jogar regularmente no Belenenses como fez Miguel Rosa ou Kanú. Há maneira de, ao mesmo tempo, um jogador aprender diariamente com os melhores e jogar regularmente? Sim. Jogando nas segundas categorias. A treinar lado a lado com Aimar e a jogar no fim-de-semana, sem o perigo da pressão excessiva. Isto implica que os lugares tipicamente ocupados pelas nossas promessas, como o de terceiro guarda-redes, quarto central, enésimo médio e extremo descartável sejam ocupados por novas contratações? Não, implica que o terceiro guarda-redes ou o quarto central sejam os titulares da segunda equipa. Para quê ter um quarto-central, que joga em média cinco jogos por época, se podemos ter três centrais e um quarto a jogar semanalmente, para o caso de ser preciso. Claro que isto implica ter uma segunda equipa inteiramente subordinada ao modelo de jogo da primeira, mas isto parece-me óbvio se o objectivo principal for o de formar jogadores para a primeira equipa.
Podem dizer-me que uma equipa que joga em várias frentes precisa de ter um plantel longo. No entanto, para que serve ter um plantel longo se os jogadores pouco rotinados, por estarem pouco rotinados, acabam por não contar? Que diferença há entre ter um plantel com 25 jogadores em que cinco deles não jogam - como aconteceu com Mika, Luís Martins, David Simão, Rúben Pinto e Mora, e só não com Miguel Vítor porque houve um momento de indefinição quanto ao terceiro central - e ter um plantel com 20 jogadores que são realmente alternativas e estão em igualdade de circunstâncias, que jogam regularmente, com mais 20 rotinados para uma eventual urgência?
É mais rentável ter dois plantéis curtos mas com certa maleabilidade entre eles do que um plantel longo em que há jogadores que estão num patamar inferior - como é legítimo que estejam dada a sua inexperiência - e que por isso perdem um ano sem experiência de jogo.
Ora, isto também comporta certas exigências no modo de constituição das segundas categorias. A existência de uma segunda equipa não implica uma extinção total dos empréstimos: o período de manutenção de um jogador numa segunda categoria tem de ser curto e de integração progressiva na primeira equipa. Seria ideal que, a cada jogador vendido, um jogador da segunda categoria da mesma posição pudesse subir para ocupar o lugar de suplente, enquanto o suplente se afirmaria como titular. Isto, no entanto, é bastante pouco provável. Mas, se um jogador, em três anos na segunda equipa, não se consegue afirmar como alternativa credível para uma primeira, deve ser emprestado ou vendido. Ora, isto tem implicações no modo de composição dos dois plantéis. Lembro-me de ver uma entrevista de Carlos Freitas em que este justificava a compra de um central velho com a esperança que depositavam em Daniel Carriço, miúdo que, uns anos depois, deveria estar na equipa principal. E isto é compreensível: há a moda de não querer comprar senão jovens pelo futebol português. No entanto, isto não é tão simples assim. A compra de um avançado com grande margem de progressão para substituir Cardozo seria, hoje, um erro porque taparia a evolução de Rodrigo e Nélson Oliveira. Se não há a certeza da sua rentabilidade imediata, deve ser contratado alguém com um rendimento óptimo durante um, no máximo dois, anos, sob perigo de desvalorizar activos jovens e prestes a explodir. Na contratação de alguém para a equipa principal deve ser tida em conta a capacidade de explosão dos atletas da segunda equipa na posição respectiva. É um risco? Terá, talvez, um certo risco, mas, na idade destes atletas, pouco. Claro que há falhanços, mas são, geralmente, motivados pela falta de jogo. Sem aposta, claro que não evoluirão. Com uma aposta controlada, há esperança, até porque, como diz Wenger, a partir dos 18 anos já temos uma ideia aproximada do potencial completo, quer técnico quer mental, do jogador.
A segunda equipa deve, portanto, ser sempre vista como um laborátorio prestes a servir a equipa principal. Não como um alívio fácil para os jogadores em excesso, nem como um abrigo de ex-júniores sem critério. A segunda equipa deve ser o posto onde estão apenas as alternativas credíveis. Não seria razoável contar com atletas como Diogo Caramelo na equipa, simplesmente por serem ex-júniores. A segunda equipa deve ser composta pelos jogadores que estão mais próximos de integrar a equipa principal. Há jogadores que são ainda uma incógnita, que podem dar o salto? Esses sim, podem ser emprestados a equipas de divisões diferentes, conforme o potencial actual.
Se é possível, por agora, uma equipa de segunda categoria ideal? Dificilmente. Jogadores com vários anos de primeira liga não deveriam estar agora a voltar à segunda. Jogadores com Jara dificilmente integrarão uma equipa B. Mas, aos poucos, deveria ser feito um esforço para encurtar o volume de activos, até a um ponto em que restassem cerca de 20 jogadores para cada equipa. Dois guarda-redes, três laterais e três centrais, seis médios divididos entre as várias posições do miolo, três extremos e três avançados. Será assim brevemente? Duvido. Mas não custa sonhar...
Considero o artigo interessante, as reconheço-lhe algumas falhas no final. 3 laterias implica que uma das posições seria coberta pela equipa B, mas qual seria o lateral escolhido? o direito ou o esquerdo? e com que critérios? na linha média 6 medios sem ter em conta o esquema adoptado pelo treinador? imaginemos que o mesmo usa um losango... com um medio defensivo, 2 interiores e 1 numero 10, quem seriam os dois substitutos e para que posiçoes?
ResponderEliminarOlá,
EliminarTrês laterais não implica necessariamente que uma das posições seja coberta pela equipa B, pode dar-se o caso de haver um lateral que cobre duas posições e que, na prática, é o que acaba por acontecer em grande parte das equipas do futebol mundial, em que os laterais, à semelhança dos extremos, variam o flanco com relativa frequência. Claro que, no caso de não se avistar nenhuma solução polivalente (o que é pouco normal, e vemos que nos anos recentes até temos preferido adaptar médios e centrais com mais minutos de jogo) nem um jogador de reserva como alternativa séria, pode haver quatro laterais. O único critério em causa é o da validade da alternativa e a tentativa de não estragar jogadores pelo tempo parado. No caso de se usar um losango, os três jogadores contemplados como extremos são distribuídos pelas posições de interior ou de avançado. O essencial é que uma equipa montada à base de 20 jogadores é suficiente no caso de se ter uma segunda equipa bem montada...
Obrigado pelo comentário, bem-vindo à assembleia e volte sempre!
Gostei do que li, tanto neste como no post anterior. Vou voltar à assembleia com todo o gosto.
ResponderEliminarObrigado de um fã incondicional, quer do cabelo do aimar, quer do blogue sobre ele!
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