terça-feira, 22 de maio de 2012

Projectos de Continuidade

 Talvez o Benfica tenha mesmo de ser um clube vendedor. Talvez tenham de sair uma ou duas pérolas por ano, sim. Da equipa do título de 2009/2010 saíram Quim, Coentrão, David Luiz, Dí Maria e Ramires, o que significa que em dois anos vendemos 5 dos habituais titulares. Talvez não seja motivo de orgulho, mas resignamo-nos à dureza da vida: há as vontades dos jogadores, deslumbrados por capitais Europeias e dinheiro a rodos, há as necessidades económicas do Benfica e o envelhecimento natural dos jogadores. Até aí, nada de estranho. Estranho, sim, é que o plantel tinha mais quinze jogadores, para lá dos habitualmente titulares, e desses só Miguel Vítor continua. Significa que, em dois anos, o plantel mudou dois terços. Não será assim tão estranho se tivermos em conta a realidade vendedora das equipas portuguesas, dir-me-ão: afinal, contra os nossos sete, Porto e Sporting só mantêm nove jogadores e, se excluírmos os grandes tubarões europrus, isto é uma realidade comum.
 No entanto, isto está muito longe de ser verdade. Em primeiro lugar porque, caso se tratasse de necessidade de vender, vender-se-iam os jogadores. No entanto, da equipa de 2009/2010, há pelo menos treze que estão emprestados: Júlio César, Patric, Shaffer, Roderick, Sidnei, Airton, Rúben Amorim, Felipe Bastos, Carlos Martins, Urreta, Felipe Menezes, Kardec e Éder Luís.
 Haveria a possibilidade, também, destes serem emprestados porque não têm ainda condições para jogar pelo Benfica e, portanto, precisam de empréstimos onde joguem. No entanto, para os lugares deles contratam-se Mika, Emerson, Garay, Jardel, Matic, Nuno Coelho, B. César, Nolito, Rodrigo, Mora, Melgarejo... Tudo jogadores com menos de 28 anos, que podem, portanto, jogar várias épocas ao serviço do Benfica e alguns deles ainda em formação. Ora, isto significa que, durante vários anos, estarão tapados uns pelos outros, rodando constantemente o plantel do Benfica.
 Podemos, também, dizer que os jogadores foram contratados para espicaçar os titulares e que, passados uns tempos, se acomodaram ao banco, o que fez com que tivessem de vir novos jogadores: é frenquente ver isto com os guarda-redes - variam-se os segundos para refrescar a luta e para que o primeiro não adormeça. No entanto, isto faz sentido se o titular permanecer no clube anos suficientes para que os índices de motivação possam baixar. Ora, num clube vendedor, isso raramente acontece: os jogadores ficam no clube pouco tempo, pelo que o principal objectivo dos suplentes deveria ser diferente; Urreta fica no plantel para precaver a saída de Dí María, Sidnei fica no plantel para precaver a saída de David Luiz. Contratam-se jogadores jovens para que, quando são vendidas as pérolas, não tenha de se começar o trabalho de novo, com os processos de adaptação dos novos jogadores.
 No Benfica, no entanto, trabalha-se de outra forma. Contrata-se Carole para precaver a saída de Coentrão. Mas, quando este sai, empresta-se Carole, para que vá por água abaixo a tentativa de minimizar os tempos de adaptação; contrata-se Júlio César para precaver a saída de Quim e, quando este sai, contrata-se um novo guarda-redes. Um jogador suplente no Benfica não tem qualquer perspectiva de ser titular: é preparado para a sucessão e, na hora da verdade, vai-se embora no pacote. É estranho que Enzo Perez se queira ir embora? Nenhum jogador cumpre contratos! Se é titular, é normal vender as estrelas. Se é suplente, nunca será aposta. Nenhum jogador é inserido aos poucos, como foi Ronaldo no United. Eles têm mais tempo? Pelo contrário, eles não vendem as estrelas, pelo que a afirmação de um jovem se torna muito mais difícil. Quando é que Wllbeck terá o lugar seguro, se Rooney está para ficar? No Benfica, se Witsel sai, nem Matic, nem Amorim, nem David Simão serão apostas. Virá outro, para que comece tudo do novo e para que a lenga-lenga do costume se oiça outra vez...

1 comentário:

  1. Ora cá esta um dos maiores problemas do futebol do Benfica ...há muito tempo.

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