Por trás dos Magos e guerreiros, das botas afinadas que lembravam os antecessores, havia borbulhas e ânimo adolescente. Se Aimar, Dí María, Ramires, David Luiz e Saviola - apesar das semelhanças no dorso e nos golos - não tinham o bigode de Chalana, Humberto, Toni ou Veloso apenas porque não queriam, também é verdade que a segunda linha era ainda imberbe, não só pela idade mas também pelo estatuto. Sidnei, Miguel Vítor, Felipe Bastos, Urreta, Airton, Menezes ou Kardec: todos eles tinham ainda a camaleónica voz adolescente, que alterna passes adultos com erros de criança. Tudo normal, tudo parte do processo que, no drama de Bernard Shaw, Elizabeth passa com Higgins: a primeira desenvoltura não esconde o cerne ainda infantil; havia trabalho a fazer com Airton, apesar da aparente facilidade com que substituía Javi. A intensidade de Menezes tinha de ser melhorada, caso se pretendesse transformar aquela finta de moleque jeitoso no estilo quase filosófico de Aimar.
Mas, três anos depois, só resta um. Miguel Vítor, manutenção burocrática no plantel, que parece um quarentão pós-moderno, estagnado na adolescência futebolística de há três anos. Sem pisadelas de Barcelos, sem botas enlameadas pela Mata Real, sem cicatrizes de disputas em Olhão, sem calos de tanto pisar a luz e sem a voz grossa de quem tem três anos de vida.
Da mesma maneira que Roderick, caído nas boas graças do clube, acaba por ter a sua própria fortuna virada contra si: a nossa jóia precoce, o nosso diamante em bruto, é vítima de uma mãe galinha que não deixa lapidar o diamante. É tão absurdo como não querer ferrar um cavalo pela dor que lhe vai causar, sabendo que, passada aquela primeira dor, ser-lhe-à muito mais confortável a ferradura; ou como não vacinar uma criança com medo do terrível aspecto da agulha.
Dos nossos jogadores em laboratório, nenhum chega ao campo. Não chegou Airton, Urreta ou Menezes, como não chegaram Fábio Faria, Carole ou Jara, como não chegaram Mora ou Wass. Os outros, os Rodericks, Vítors, Rúbens Pintos ou mesmo Nélsons Oliveiras, continuam a aquecer, à espera do dia em que estiverem prontos. Já estão? Claro que não, não estão prontos. Mas o que havia a fazer em laboratório, já está feito. Uma incubadora não aguenta um bebé durante uma vida inteira, o resto do crescimento faz-se no campo. No mesmo sítio onde cresceram os imberbes Saviola e Aimar e onde crescem todos os dias milhares de brasileiros.
Não se trata, obviamente, de uma banalização da camisola: o monge tem de merecer o hábito. Não se dá um 10 de Eusébio e Rui Costa a alguém que ainda não sabe controlar a sua própria voz, quanto mais a equipa de seis milhões. Mas os calos podem-se ganhar. Há tantos minutos, que mesmo um anticomunista crónico poderia optar por distribuí-los melhor. E, sobretudo, dar confiança. Se Airton chegou a prometer, para que é que vem depois Nuno Coelho? Para quê Matic, se havia David Simão. O meu sonho é ver a prospecção de mira desviada: sai Witsel e contrata-se um substituo para David Simão. Sai Garay e encontra-se um substituto para Roderick. Saídos os donos do lugar, que saltassem para a ribalta os que já andavam a ser preparados. Como quando saiu Reyes, e na época seguinte o seu Angel da guarda, que lhe guardava as costas e o lugar no banco, brilhou. Era tão mais bonito...
Assembleia de Sexta
Benfica em discussão - prolegómenos às eleições
quinta-feira, 26 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
A minha equipa
Artur Mika
Oblak Varela
Maxi Cancelo
Luisinho Carole
1 jogador Luís Martins
Luisão Roderick
Garay Faria
M. Vítor Kanu
Javi N. Coelho
Witsel M. Rosa
Aimar D. Lopes
B. César A. Almeida
Matic L. Pimenta
C. Martins D. Simão
Ola John H. Vieira
Nolito Djaniny
Melgarejo R. Pinto
Cardozo Mora
Saviola Michel
N. Oliveira I. Cavaleiro
Rodrigo
A última vez que me lembro do Benfica precisar realmente do terceiro guarda-redes foi quando Moreira e Quim se lesionaram, jogando assim o Rui Nereu antes de contratarmos o Moretto. É costume seguir a política de pôr um jovem como terceiro guarda-redes, para aprender com os mais experientes. Geralmente, o que ganham nos treinos, perdem com a falta de ritmo. Para quê, então, ter um terceiro guarda-redes e um titular da segunda categoria? Porque não dar ritmo de jogo ao terceiro guarda-redes?
São poucos, três laterais, se um deles fizer duas posições? Nos anos passados, se o Maxi se lesionasse, quem jogava? Um suplente directo - Luís Filipe primeiro, André Almeida depois - ou uma adaptação mais rodada? É compreensível que a exigência competitiva não permita responsabilizar, a meio da época, um jogador que esteve até aí parado. A solução de encurtar o plantel permite fazer aquilo que sempre se fez: a primeira alternativa a um jogador é outro mais rodado. Em caso de extrema necessidade - que foi quando sempre se usou um quarto lateral - tem-se esse lateral mais rodado. Luís Martins, na época passada, teve de jogar na Champions. Não seria melhor se, em vez de um jogo, já tivesse feito vinte na orangina. Os laterais da segunda equipa são uma opção tão válida como um quarto lateral, isto é: uma opção de recurso. Com a diferença de terem minutos nas pernas no caso de serem chamados.
Será melhor ter Roderick um ano parado - em que faz três jogos - ou tê-lo com um ano inteiro de jogo, sempre preparado para uma chamada à primeira equipa?
Preferia, obviamente, Ruben Amorim a Matic, mas pelas vicissitudes do destino, é impossível.
Três extremos talvez seja pouco, mas três extremos, mais Bruno César, mais Rodrigo, mais três extremos da segunda equipa parece-me mais do que suficiente. E o Gaitán, dada a necessidade de encaixar vários milhões, parece-me o melhor jogador para sair.
Quatro avançados é capaz de ser excessivo, mas não me parece que o Benfica esteja preparado para se ver livre de algum deles.
O essencial desta ideia é a verificação de que, num plantel de 25 jogadores, só 20 são realmente alternativas. Os outros são uma segurança, usada só em caso de extrema necessidade, que significa 4 ou 5 jogos por época. Será, então, muito mais rentável ter esses jogadores com rotinas de jogo constantes. A existência de plantéis curtos, quer numa equipa quer noutra, aumenta também o atractivo da segunda equipa. É diferente estar numa equipa B de estar numa equipa B que se confunde com a segunda linha da equipa A. E não era assim tão difícil...
Oblak Varela
Maxi Cancelo
Luisinho Carole
1 jogador Luís Martins
Luisão Roderick
Garay Faria
M. Vítor Kanu
Javi N. Coelho
Witsel M. Rosa
Aimar D. Lopes
B. César A. Almeida
Matic L. Pimenta
C. Martins D. Simão
Ola John H. Vieira
Nolito Djaniny
Melgarejo R. Pinto
Cardozo Mora
Saviola Michel
N. Oliveira I. Cavaleiro
Rodrigo
A última vez que me lembro do Benfica precisar realmente do terceiro guarda-redes foi quando Moreira e Quim se lesionaram, jogando assim o Rui Nereu antes de contratarmos o Moretto. É costume seguir a política de pôr um jovem como terceiro guarda-redes, para aprender com os mais experientes. Geralmente, o que ganham nos treinos, perdem com a falta de ritmo. Para quê, então, ter um terceiro guarda-redes e um titular da segunda categoria? Porque não dar ritmo de jogo ao terceiro guarda-redes?
São poucos, três laterais, se um deles fizer duas posições? Nos anos passados, se o Maxi se lesionasse, quem jogava? Um suplente directo - Luís Filipe primeiro, André Almeida depois - ou uma adaptação mais rodada? É compreensível que a exigência competitiva não permita responsabilizar, a meio da época, um jogador que esteve até aí parado. A solução de encurtar o plantel permite fazer aquilo que sempre se fez: a primeira alternativa a um jogador é outro mais rodado. Em caso de extrema necessidade - que foi quando sempre se usou um quarto lateral - tem-se esse lateral mais rodado. Luís Martins, na época passada, teve de jogar na Champions. Não seria melhor se, em vez de um jogo, já tivesse feito vinte na orangina. Os laterais da segunda equipa são uma opção tão válida como um quarto lateral, isto é: uma opção de recurso. Com a diferença de terem minutos nas pernas no caso de serem chamados.
Será melhor ter Roderick um ano parado - em que faz três jogos - ou tê-lo com um ano inteiro de jogo, sempre preparado para uma chamada à primeira equipa?
Preferia, obviamente, Ruben Amorim a Matic, mas pelas vicissitudes do destino, é impossível.
Três extremos talvez seja pouco, mas três extremos, mais Bruno César, mais Rodrigo, mais três extremos da segunda equipa parece-me mais do que suficiente. E o Gaitán, dada a necessidade de encaixar vários milhões, parece-me o melhor jogador para sair.
Quatro avançados é capaz de ser excessivo, mas não me parece que o Benfica esteja preparado para se ver livre de algum deles.
O essencial desta ideia é a verificação de que, num plantel de 25 jogadores, só 20 são realmente alternativas. Os outros são uma segurança, usada só em caso de extrema necessidade, que significa 4 ou 5 jogos por época. Será, então, muito mais rentável ter esses jogadores com rotinas de jogo constantes. A existência de plantéis curtos, quer numa equipa quer noutra, aumenta também o atractivo da segunda equipa. É diferente estar numa equipa B de estar numa equipa B que se confunde com a segunda linha da equipa A. E não era assim tão difícil...
domingo, 8 de julho de 2012
Entrevista a Andrade e Sousa - lembram-se?
RECORD – Foi despedido do Benfica porquê e por quem?
ANDRADE E SOUSA – Não se pode dizer que tenha sido despedido. Havia, por exigência minha, um contrato de prestação de serviços. Quando o clube quisesse ver-se livre de mim, podia fazê-lo sem constrangimentos nem cláusulas indemnizatórias, ao contrário do que acontece com muitos que por lá andam. O Benfica prescindiu dos meus serviços na sequência de um e-mail que enviei para a pessoa errada. A minha saída não se resume, contudo, a esse facto e é injusto passar-se essa imagem. Foi um pretexto, pelo que tenho o direito de me defender e não aceito ser tratado como um produto descartável.
R – Qual o teor desse e-mail? E por que fala em pretexto?
AS – Tecia considerações sobre as características profissionais do dr. Domingos Soares Oliveira [administrador executivo da SAD]. Ele teve acesso ao teor da mensagem e aproveitou-se disso para se ver livre de mim. O e-mail tinha como destinatário um amigo. Só que, por engano, enviei-o para um colega, Bernardo Faria de Carvalho [assessor da SAD], que, embora percebendo que não lhe era dirigido, submisso ao chefe, reencaminhou-o para Soares Oliveira.
R – A quem se destinava então o e-mail?
AS – Não vou dizer o nome do meu amigo. Quero protegê-lo e tratou-se de algo privado e confidencial. Nem o conteúdo do e-mail. Posso apenas garantir que não retiro uma vírgula ao que escrevi e que o mesmo tecia considerações de natureza exclusivamente profissional.
R – O seu “amigo” está ligado ao Benfica?
AS – Está ligado ao universo do Benfica.
R – É dirigente?
AS – Não.
R – O que se passou depois de Bernardo Faria de Carvalho reencaminhar a mensagem para Soares Oliveira?
AS – Acabou por ser Soares Oliveira a dar amplitude a esse facto. Depois de receber o e-mail do subordinado, revelou-o, desprotegendo inclusivamente o informador. Serviu-se do meu e-mail, de natureza privada, para exigir a minha cabeça numa reunião de direcção. Colocou-a entre a espada e a parede. “Ou ele ou eu”, chegou mesmo a dizer ao presidente.
R – Mas isso foi só um pretexto, segundo diz. Quer concretizar?
AS – Havia, há cerca de um ano, um grande desgaste na minha relação com o dr. Soares Oliveira, resultante do facto de criticar, interna e repetidamente, a presença de sportinguistas e portistas na estrutura profissional do Benfica. O dr. Soares Oliveira está no topo da pirâmide dessa estrutura e tem enorme poder e influência sobre Luís Filipe Vieira. O presidente dá-lhe esse estatuto e fala com ele vezes sem conta todos os dias.
R – Todos sabemos que Soares Oliveira é simpatizante do Sporting. Isso quer dizer que, na sua óptica, não serve o Benfica com competência?
AS – Não é uma questão de competência. Simplesmente, as grandes decisões do Benfica são tomadas por pessoas que não sentem o clube. Não gostam dele e movem-se por uma agenda própria. Hoje estão no Benfica, amanhã noutro lugar qualquer.
R – Soares Oliveira não gosta do Benfica?
AS – Não ama o Benfica como um benfiquista. Gosta daquilo que o Benfica lhe pode oferecer: notoriedade e um projecto profissional interessante.
R – As grandes decisões, segundo argumenta, são tomadas pelos profissionais de cúpula, curiosamente adeptos de outros clubes. Qual então o papel dos vice-presidentes, sabendo que foram eleitos, há um ano, seis elementos efectivos e dois suplentes?
AS – Um papel meramente decorativo. Luís Filipe Vieira nem sequer sabe os nomes de todos os vice-presidentes. Vi-o, há dias, a perguntar directamente o nome a um deles? Alguns são completamente marginalizados por uma estrutura profissional, que é necessária, mas que não pode desprezar os dirigentes eleitos.
R – Além de Soares Oliveira, quem mais toma decisões importantes ou tem grande influência sobre o presidente?
AS – O dr. Paulo Gonçalves [assessor jurídico da SAD], portista desde pequeno. Começou no departamento jurídico do FC Porto, com Pinto da Costa. Passou depois para o Boavista, na administração Loureiro. Eu próprio, pelo Benfica, e ele, ao serviço do Boavista, tivemos lutas enérgicas em reuniões da Liga. Trata-se de um portista da era Pinto da Costa, que já defendeu importantes posições contra o Benfica e que tem acesso, actualmente, aos documentos mais importantes e sigilosos da área jurídica do clube.
R – Ainda não colocou em causa o profissionalismo ou a lealdade de Soares Oliveira e Paulo Gonçalves. Trata-se tão-só de uma questão de princípio??
AS – Não coloco isso em causa, assim como eles também não podem questionar a minha honestidade e competência. Não me envergonho de nada que tenha feito. Mas os benfiquistas merecem saber o que têm em casa. Soares Oliveira exorbita funções. É um pequeno ditador que só sabe funcionar com pessoas submissas. Ele afasta todos os que são incómodos. Como eu era incómodo, benfiquista, e afirmava não gostar de sportinguistas e portistas à frente do meu clube, fui afastado.
R – Pelo cenário traçado, o Benfica parece estar em guerra aberta?
AS – Não diria guerra aberta. Mas existe, de facto, um clima de grande tensão no interior do clube.
ANDRADE E SOUSA – Não se pode dizer que tenha sido despedido. Havia, por exigência minha, um contrato de prestação de serviços. Quando o clube quisesse ver-se livre de mim, podia fazê-lo sem constrangimentos nem cláusulas indemnizatórias, ao contrário do que acontece com muitos que por lá andam. O Benfica prescindiu dos meus serviços na sequência de um e-mail que enviei para a pessoa errada. A minha saída não se resume, contudo, a esse facto e é injusto passar-se essa imagem. Foi um pretexto, pelo que tenho o direito de me defender e não aceito ser tratado como um produto descartável.
R – Qual o teor desse e-mail? E por que fala em pretexto?
AS – Tecia considerações sobre as características profissionais do dr. Domingos Soares Oliveira [administrador executivo da SAD]. Ele teve acesso ao teor da mensagem e aproveitou-se disso para se ver livre de mim. O e-mail tinha como destinatário um amigo. Só que, por engano, enviei-o para um colega, Bernardo Faria de Carvalho [assessor da SAD], que, embora percebendo que não lhe era dirigido, submisso ao chefe, reencaminhou-o para Soares Oliveira.
R – A quem se destinava então o e-mail?
AS – Não vou dizer o nome do meu amigo. Quero protegê-lo e tratou-se de algo privado e confidencial. Nem o conteúdo do e-mail. Posso apenas garantir que não retiro uma vírgula ao que escrevi e que o mesmo tecia considerações de natureza exclusivamente profissional.
R – O seu “amigo” está ligado ao Benfica?
AS – Está ligado ao universo do Benfica.
R – É dirigente?
AS – Não.
R – O que se passou depois de Bernardo Faria de Carvalho reencaminhar a mensagem para Soares Oliveira?
AS – Acabou por ser Soares Oliveira a dar amplitude a esse facto. Depois de receber o e-mail do subordinado, revelou-o, desprotegendo inclusivamente o informador. Serviu-se do meu e-mail, de natureza privada, para exigir a minha cabeça numa reunião de direcção. Colocou-a entre a espada e a parede. “Ou ele ou eu”, chegou mesmo a dizer ao presidente.
R – Mas isso foi só um pretexto, segundo diz. Quer concretizar?
AS – Havia, há cerca de um ano, um grande desgaste na minha relação com o dr. Soares Oliveira, resultante do facto de criticar, interna e repetidamente, a presença de sportinguistas e portistas na estrutura profissional do Benfica. O dr. Soares Oliveira está no topo da pirâmide dessa estrutura e tem enorme poder e influência sobre Luís Filipe Vieira. O presidente dá-lhe esse estatuto e fala com ele vezes sem conta todos os dias.
R – Todos sabemos que Soares Oliveira é simpatizante do Sporting. Isso quer dizer que, na sua óptica, não serve o Benfica com competência?
AS – Não é uma questão de competência. Simplesmente, as grandes decisões do Benfica são tomadas por pessoas que não sentem o clube. Não gostam dele e movem-se por uma agenda própria. Hoje estão no Benfica, amanhã noutro lugar qualquer.
R – Soares Oliveira não gosta do Benfica?
AS – Não ama o Benfica como um benfiquista. Gosta daquilo que o Benfica lhe pode oferecer: notoriedade e um projecto profissional interessante.
R – As grandes decisões, segundo argumenta, são tomadas pelos profissionais de cúpula, curiosamente adeptos de outros clubes. Qual então o papel dos vice-presidentes, sabendo que foram eleitos, há um ano, seis elementos efectivos e dois suplentes?
AS – Um papel meramente decorativo. Luís Filipe Vieira nem sequer sabe os nomes de todos os vice-presidentes. Vi-o, há dias, a perguntar directamente o nome a um deles? Alguns são completamente marginalizados por uma estrutura profissional, que é necessária, mas que não pode desprezar os dirigentes eleitos.
R – Além de Soares Oliveira, quem mais toma decisões importantes ou tem grande influência sobre o presidente?
AS – O dr. Paulo Gonçalves [assessor jurídico da SAD], portista desde pequeno. Começou no departamento jurídico do FC Porto, com Pinto da Costa. Passou depois para o Boavista, na administração Loureiro. Eu próprio, pelo Benfica, e ele, ao serviço do Boavista, tivemos lutas enérgicas em reuniões da Liga. Trata-se de um portista da era Pinto da Costa, que já defendeu importantes posições contra o Benfica e que tem acesso, actualmente, aos documentos mais importantes e sigilosos da área jurídica do clube.
R – Ainda não colocou em causa o profissionalismo ou a lealdade de Soares Oliveira e Paulo Gonçalves. Trata-se tão-só de uma questão de princípio??
AS – Não coloco isso em causa, assim como eles também não podem questionar a minha honestidade e competência. Não me envergonho de nada que tenha feito. Mas os benfiquistas merecem saber o que têm em casa. Soares Oliveira exorbita funções. É um pequeno ditador que só sabe funcionar com pessoas submissas. Ele afasta todos os que são incómodos. Como eu era incómodo, benfiquista, e afirmava não gostar de sportinguistas e portistas à frente do meu clube, fui afastado.
R – Pelo cenário traçado, o Benfica parece estar em guerra aberta?
AS – Não diria guerra aberta. Mas existe, de facto, um clima de grande tensão no interior do clube.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Suma contra regulamento
Vai a minha suma - e a revelação da minha fraqueza pela argumentação escolástica -, qual doctor angelicus, sobre as novas medidas aprovadas pela liga:
1. Pareceria que a extinção dos empréstimos a clubes do mesmo escalão seria uma medida benéfica para o futebol português.
argumento 1: Dá maior transparência ao futebol, porque evita as lesões de última hora, as grandes penalidades falhadas incompreensivelmente, os súbitos apagões dos jogadores mais talentosos, entre outras coisas.
argumento 2: Diminui a dependência dos clubes pequenos em relação aos grandes, que deixam de estar dependentes destes para planear a época.
argumento 3: Impede as equipas de estagnar carreiras de jogadores através de sucessivos empréstimos - o que escraviza o jogador e o impede de dar livre curso à sua carreira - pelo medo de desaproveitar um jogador e de que este venha a ser aproveitado por um rival.
argumento 4: Baixará a folha salarial dos clubes, pois não terão tantas facilidades em colocar os emprestados, o que levará à venda de jogadores que estão claramente a mais.
No entanto, não concordamos com a medida adoptada.
contra-argumento 1: Os empréstimos são uma moda recente, mais recente do que o apagamento dos jogadores revelação. A corrupção tem o pé ligeiro e entra por qualquer brecha. As promessas de contratos, as compensações extra-salariais, tudo isso existe há tanto ou mais tempo que os empréstimos. Basta ver que os árbitros não são emprestados e também fecham olhos e assinalam penalidades incompreensíveis...
contra-argumento 2: Talvez diminua a dependência dos pequenos em relação aos grandes, mas também os impede de ter melhores jogadores. A realidade económica portuguesa só permite ter grandes craques em fase laboratorial. Ora, isto implica que, muitas vezes, apesar de já se antever um grande futuro aos jogadores, estes ainda não estão preparados para jogar num grande. E também implica que um jogador de futuro, perante a opção de assinar por um clube português ou por qualquer outro, veja estreitados os atractivos lusos perante a possibilidade de ser emprestado a um clube da segunda liga. Além do mais, é uma oportunidade privilegiada dos clubes pequenos, contarem com jogadores que fizeram uma boa formação e que têm, portanto, além de qualidades técnicas, um manancial táctico muito mais evoluído. Impedir estes empréstimos significa, portanto, baixar a qualidade da primeira liga. Não foi, David Simão, uma mais-valia para a sua equipa? Foi. Tinha qualidade para jogar continuamente pelo Benfica? Para já, não. Seria benéfico para a qualidade de jogo da liga, para o Benfica, ou para a evolução do próprio jogador, um retrocesso e consequente empréstimo a um clube da segunda liga? Não.
contra-argumento 3: Talvez aconteça o contrário, e a carreira estagne mais abaixo. O empréstimo a um clube da primeira liga é uma etapa mais avançada na evolução do jogador, entre a saída de júnior e o regresso ao clube de origem. Se, muitas vezes, o regresso a casa é adiado porque há pouco espaço no plantel e a qualidade de jogo numa equipa de meio da tabela não permite calcular seguramente o desempenho do jogador numa equipa grande, muito menos o fará se cortarmos a etapa competitiva mais próxima do clube de origem. Aquilo que veremos serão jogadores estagnados na segunda liga, sem novos desafios na altura em que precisam de exacerbar o seu nível de competição.
contra-argumento 4: Com segundas categorias, possibilidade de empréstimos a equipas de outro escalão e ao estrangeiro, não baixará a folha salarial dos clubes. Provocará, isso sim, uma dispersão dos jogadores potencialmente talentosos pelos outros países, sem hipótese de jogarem na nossa liga. Em vez de termos o Nacional, durante um ano, a desfrutar da cedência de Fábio Coentrão por parte do Benfica, teremos o futebol mais pobre e o jogador a cirandar pela noite de Saragoça, sem o menor controlo da entidade patronal.
Doctor angelicus, patronum soclasticum, dixit. Ita missa est.
1. Pareceria que a extinção dos empréstimos a clubes do mesmo escalão seria uma medida benéfica para o futebol português.
argumento 1: Dá maior transparência ao futebol, porque evita as lesões de última hora, as grandes penalidades falhadas incompreensivelmente, os súbitos apagões dos jogadores mais talentosos, entre outras coisas.
argumento 2: Diminui a dependência dos clubes pequenos em relação aos grandes, que deixam de estar dependentes destes para planear a época.
argumento 3: Impede as equipas de estagnar carreiras de jogadores através de sucessivos empréstimos - o que escraviza o jogador e o impede de dar livre curso à sua carreira - pelo medo de desaproveitar um jogador e de que este venha a ser aproveitado por um rival.
argumento 4: Baixará a folha salarial dos clubes, pois não terão tantas facilidades em colocar os emprestados, o que levará à venda de jogadores que estão claramente a mais.
No entanto, não concordamos com a medida adoptada.
contra-argumento 1: Os empréstimos são uma moda recente, mais recente do que o apagamento dos jogadores revelação. A corrupção tem o pé ligeiro e entra por qualquer brecha. As promessas de contratos, as compensações extra-salariais, tudo isso existe há tanto ou mais tempo que os empréstimos. Basta ver que os árbitros não são emprestados e também fecham olhos e assinalam penalidades incompreensíveis...
contra-argumento 2: Talvez diminua a dependência dos pequenos em relação aos grandes, mas também os impede de ter melhores jogadores. A realidade económica portuguesa só permite ter grandes craques em fase laboratorial. Ora, isto implica que, muitas vezes, apesar de já se antever um grande futuro aos jogadores, estes ainda não estão preparados para jogar num grande. E também implica que um jogador de futuro, perante a opção de assinar por um clube português ou por qualquer outro, veja estreitados os atractivos lusos perante a possibilidade de ser emprestado a um clube da segunda liga. Além do mais, é uma oportunidade privilegiada dos clubes pequenos, contarem com jogadores que fizeram uma boa formação e que têm, portanto, além de qualidades técnicas, um manancial táctico muito mais evoluído. Impedir estes empréstimos significa, portanto, baixar a qualidade da primeira liga. Não foi, David Simão, uma mais-valia para a sua equipa? Foi. Tinha qualidade para jogar continuamente pelo Benfica? Para já, não. Seria benéfico para a qualidade de jogo da liga, para o Benfica, ou para a evolução do próprio jogador, um retrocesso e consequente empréstimo a um clube da segunda liga? Não.
contra-argumento 3: Talvez aconteça o contrário, e a carreira estagne mais abaixo. O empréstimo a um clube da primeira liga é uma etapa mais avançada na evolução do jogador, entre a saída de júnior e o regresso ao clube de origem. Se, muitas vezes, o regresso a casa é adiado porque há pouco espaço no plantel e a qualidade de jogo numa equipa de meio da tabela não permite calcular seguramente o desempenho do jogador numa equipa grande, muito menos o fará se cortarmos a etapa competitiva mais próxima do clube de origem. Aquilo que veremos serão jogadores estagnados na segunda liga, sem novos desafios na altura em que precisam de exacerbar o seu nível de competição.
contra-argumento 4: Com segundas categorias, possibilidade de empréstimos a equipas de outro escalão e ao estrangeiro, não baixará a folha salarial dos clubes. Provocará, isso sim, uma dispersão dos jogadores potencialmente talentosos pelos outros países, sem hipótese de jogarem na nossa liga. Em vez de termos o Nacional, durante um ano, a desfrutar da cedência de Fábio Coentrão por parte do Benfica, teremos o futebol mais pobre e o jogador a cirandar pela noite de Saragoça, sem o menor controlo da entidade patronal.
Doctor angelicus, patronum soclasticum, dixit. Ita missa est.
terça-feira, 26 de junho de 2012
A Escola de Treinadores
Em primeiro lugar, queremos evitar excessos interpretativos. Não falamos de uma espécie de trama maçónica, com infiltrados por tudo quanto seja clube desportivo, que procure favorecer interesses que estão à margem de quem acolhe. Isso chama-se corrupção e não cabe em Catedrais. Também admitimos que se trate de uma estratégia que fará rir quem tem a barriga cheia: o United ou o Arsenal olhariam para isto com legítima perplexidade.
Isto porque falar de formação de treinadores implica um encurtar do prazo de validade destes. Não faz sentido formar treinadores que nunca se sentarão no banco. E se em Manchester há uma espécie de insulamento britânico que não deixa ouvir o mundo, há no Benfica uma certa tradição democrática que provoca rotatividades constantes. Sendo assim, não faz sentido, a cada vez que um treinador deixa a Luz, ter de encontrar um novo treinador a qualquer custo. Ora, isto não é diferente do que se passa com os jogadores: se o Benfica sabe que perderá Coentrão, prepara-lhe um sucessor; Nélson Oliveira está no plantel porque Cardozo não vai durar para sempre - preparam-se as saídas.
Com os treinadores, no entanto, não se faz a mesma coisa. É, até certo ponto, compreensível: o papel mais exposto do treinador não dá quaisquer garantias da duração do cargo; se o treinador ganha, continua, e pode continuar por muitos anos. A história, no entanto, não nos dá exemplos de treinadores a quem tenhamos visto nascer rugas numa cara jovem - não duram tempo suficiente no banco que justifique a falta de referências no que toca aos treinadores. Cada novo treinador aparece com muito mais pelouros do que devia, porque a cada novo treinador, surge um novo rumo. Alguém vê semelhanças entre Camacho, Quique e Jesus? Cada um deles começou pelo princípio, como se estivesse a criar um clube. Ora, o treinador deve estar tão subordinado à ideia do clube como o jogador à ideia do treinador. Jaime Pacheco não treinaria, com certeza, com Aimar. Pois bem: cabe ao clube decidir se quer uma política à Jaime Pacheco ou à Aimar. Se quer Aimares, não contrata Pachecos, se quer Pachecos, não contrata Aimares! E isto não tem que ver com uma subordinação dos treinadores aos jogadores, ou vice-versa. Tem que ver com a subordinação dos nomes a ideias; no Benfica não se devem contratar treinadores, devem-se contratar seguidores de uma ideia. Como Cruyff era seguidor de Ruiz, Guardiola de Cruyff e Vilanova de Guardiola.
O contrário implica moldar um clube à imagem do treinador, ou um treinador que não acredita na própria equipa. Têm de ser dadas as melhores condições possíveis para que um treinador trabalhe à vontade, sem que isto implique a perda de identidade do clube. E isto só se faz com a garantia de que o clube e o treinador pensam da mesma maneira.
Ora, e como é que se garante que um treinador pensa da mesma maneira que o clube? Não será, com certeza, através de uma pesca furiosa, que tem na avaliação muitos factores que a distraem do ponto certo: jogadores contrários à filosofia que o treinador adopta, pressões de direcção, crises financeiras... Tudo isto alterará o rendimento da equipa, e de uma forma que é em grande parte alheia ao treinador. Claro que o treinador pode fazer milagres, mas também pode ser que apenas os fizesse com quem partilhasse as suas ideias.
Não se percebe, então, porque é que, com os treinadores, não se faz o mesmo que com os jogadores - ensiná-los. Porque é que os treinadores das camadas jovens não têm uma escala projectada aquando do começo do contrato, porque é que não há espaço na equipa técnica para enquadrar os treinadores em formação e treinos comuns entre equipas jovens e seniores, que expressassem o pensamento benfiquista.
A alteração de escalões permite ver também qual é a reacção aos diferentes níveis de pressão, não só dos jogadores como dos treinadores. É claro que não é a mesma coisa treinar juniores ou seniores; mas tecnicamente, a partir dos escalões de juvenis, os processos já não são muito diferentes. Um treinador com competência técnica para os juvenis do Benfica tem de a ter também para os seniores. Um treinador de camadas jovens deve ser visto, assim, não só como um potencial treinador do Benfica, mas como um alvo privilegiado para treinar o Benfica, pelo conhecimento já adquirido da estrutura e das ideias do clube.
Os factores extra-técnicos, descobrem-se com a pressão e com a experiência sénior. E se a segunda equipa não é laboratório suficiente, o Benfica deveria manter relações privilegiadas com certos clubes que facilitassem a entrada dos treinadores no futebol profissional. Não se trata, de maneira nenhuma, de influências pouco honestas. Também a cedência de jogadores se pode fazer através de protocolos que podem ser honestos - o Benfica já teve relações protocolares com Alverca, Fátima, Granada, sem que isso tenha de ser desonesto.
No caso dos treinadores, trata-se de algo especial. Em primeiro lugar, estes não têm contrato com o Benfica, pelo que são livres de fazer o que quiserem a partir do momento em que deixam a luz. Mas o Benfica pode dar-lhe indicações da hipótese que têm de serem treinadores do Benfica: podem facilitar empréstimos por já haver conhecimento dos atletas treinados nas camadas jovens e, sobretudo, podem dar o exemplo.
O caso de Rui Vitória, se viesse a treinar o Benfica, seria sintomático daquilo que estou a dizer. Alguém que treinou as camadas inferiores do Benfica, que seguiu o seu caminho com apoio de alguns jovens que treinou no Benfica e que acabava a treinar o Benfica. Também aqui, a selecção qualitativa se faria naturalmente. Um treinador sem qualidade, chegado ao Fátima, não subiria para o Paços de Ferreira. E, seguindo o princípio de Peter, se não tivesse mais qualidade do que a necessária para chegar à capital do Móvel, por aí se quedaria, sem chegar a Guimarães. A subida na hierarquia faz-se sem ajuda do Benfica, é natural. Mas a partir do momento em que Rui Vitória chegou a Paços de Ferreira, deveria estar a sair outro treinador das camadas jovens benfiquistas para abraçar um projecto da segunda divisão, com possibilidade de calejar os processos até chegar ao Benfica. Também isto facilitaria a inserção dos jogadores no futebol profissional, por terem alguém que já os seguia de perto há alguns anos.
E, sobretudo, quem ganhava era o Benfica. Também os treinadores podem ter escola, também os treinadores podem ter treino. E não ficaria mal ao Benfica voltar ao seu lugar de pioneiro na descoberta de caminhos para a Vitória...
Isto porque falar de formação de treinadores implica um encurtar do prazo de validade destes. Não faz sentido formar treinadores que nunca se sentarão no banco. E se em Manchester há uma espécie de insulamento britânico que não deixa ouvir o mundo, há no Benfica uma certa tradição democrática que provoca rotatividades constantes. Sendo assim, não faz sentido, a cada vez que um treinador deixa a Luz, ter de encontrar um novo treinador a qualquer custo. Ora, isto não é diferente do que se passa com os jogadores: se o Benfica sabe que perderá Coentrão, prepara-lhe um sucessor; Nélson Oliveira está no plantel porque Cardozo não vai durar para sempre - preparam-se as saídas.
Com os treinadores, no entanto, não se faz a mesma coisa. É, até certo ponto, compreensível: o papel mais exposto do treinador não dá quaisquer garantias da duração do cargo; se o treinador ganha, continua, e pode continuar por muitos anos. A história, no entanto, não nos dá exemplos de treinadores a quem tenhamos visto nascer rugas numa cara jovem - não duram tempo suficiente no banco que justifique a falta de referências no que toca aos treinadores. Cada novo treinador aparece com muito mais pelouros do que devia, porque a cada novo treinador, surge um novo rumo. Alguém vê semelhanças entre Camacho, Quique e Jesus? Cada um deles começou pelo princípio, como se estivesse a criar um clube. Ora, o treinador deve estar tão subordinado à ideia do clube como o jogador à ideia do treinador. Jaime Pacheco não treinaria, com certeza, com Aimar. Pois bem: cabe ao clube decidir se quer uma política à Jaime Pacheco ou à Aimar. Se quer Aimares, não contrata Pachecos, se quer Pachecos, não contrata Aimares! E isto não tem que ver com uma subordinação dos treinadores aos jogadores, ou vice-versa. Tem que ver com a subordinação dos nomes a ideias; no Benfica não se devem contratar treinadores, devem-se contratar seguidores de uma ideia. Como Cruyff era seguidor de Ruiz, Guardiola de Cruyff e Vilanova de Guardiola.
O contrário implica moldar um clube à imagem do treinador, ou um treinador que não acredita na própria equipa. Têm de ser dadas as melhores condições possíveis para que um treinador trabalhe à vontade, sem que isto implique a perda de identidade do clube. E isto só se faz com a garantia de que o clube e o treinador pensam da mesma maneira.
Ora, e como é que se garante que um treinador pensa da mesma maneira que o clube? Não será, com certeza, através de uma pesca furiosa, que tem na avaliação muitos factores que a distraem do ponto certo: jogadores contrários à filosofia que o treinador adopta, pressões de direcção, crises financeiras... Tudo isto alterará o rendimento da equipa, e de uma forma que é em grande parte alheia ao treinador. Claro que o treinador pode fazer milagres, mas também pode ser que apenas os fizesse com quem partilhasse as suas ideias.
Não se percebe, então, porque é que, com os treinadores, não se faz o mesmo que com os jogadores - ensiná-los. Porque é que os treinadores das camadas jovens não têm uma escala projectada aquando do começo do contrato, porque é que não há espaço na equipa técnica para enquadrar os treinadores em formação e treinos comuns entre equipas jovens e seniores, que expressassem o pensamento benfiquista.
A alteração de escalões permite ver também qual é a reacção aos diferentes níveis de pressão, não só dos jogadores como dos treinadores. É claro que não é a mesma coisa treinar juniores ou seniores; mas tecnicamente, a partir dos escalões de juvenis, os processos já não são muito diferentes. Um treinador com competência técnica para os juvenis do Benfica tem de a ter também para os seniores. Um treinador de camadas jovens deve ser visto, assim, não só como um potencial treinador do Benfica, mas como um alvo privilegiado para treinar o Benfica, pelo conhecimento já adquirido da estrutura e das ideias do clube.
Os factores extra-técnicos, descobrem-se com a pressão e com a experiência sénior. E se a segunda equipa não é laboratório suficiente, o Benfica deveria manter relações privilegiadas com certos clubes que facilitassem a entrada dos treinadores no futebol profissional. Não se trata, de maneira nenhuma, de influências pouco honestas. Também a cedência de jogadores se pode fazer através de protocolos que podem ser honestos - o Benfica já teve relações protocolares com Alverca, Fátima, Granada, sem que isso tenha de ser desonesto.
No caso dos treinadores, trata-se de algo especial. Em primeiro lugar, estes não têm contrato com o Benfica, pelo que são livres de fazer o que quiserem a partir do momento em que deixam a luz. Mas o Benfica pode dar-lhe indicações da hipótese que têm de serem treinadores do Benfica: podem facilitar empréstimos por já haver conhecimento dos atletas treinados nas camadas jovens e, sobretudo, podem dar o exemplo.
O caso de Rui Vitória, se viesse a treinar o Benfica, seria sintomático daquilo que estou a dizer. Alguém que treinou as camadas inferiores do Benfica, que seguiu o seu caminho com apoio de alguns jovens que treinou no Benfica e que acabava a treinar o Benfica. Também aqui, a selecção qualitativa se faria naturalmente. Um treinador sem qualidade, chegado ao Fátima, não subiria para o Paços de Ferreira. E, seguindo o princípio de Peter, se não tivesse mais qualidade do que a necessária para chegar à capital do Móvel, por aí se quedaria, sem chegar a Guimarães. A subida na hierarquia faz-se sem ajuda do Benfica, é natural. Mas a partir do momento em que Rui Vitória chegou a Paços de Ferreira, deveria estar a sair outro treinador das camadas jovens benfiquistas para abraçar um projecto da segunda divisão, com possibilidade de calejar os processos até chegar ao Benfica. Também isto facilitaria a inserção dos jogadores no futebol profissional, por terem alguém que já os seguia de perto há alguns anos.
E, sobretudo, quem ganhava era o Benfica. Também os treinadores podem ter escola, também os treinadores podem ter treino. E não ficaria mal ao Benfica voltar ao seu lugar de pioneiro na descoberta de caminhos para a Vitória...
sexta-feira, 22 de junho de 2012
O manifesto do meu candidato
Há clubes de futebol e clubes desportivos. Para lá desses, há clubes de pessoas, que só depois são de desporto. São esses clubes - os que juntam guerrilheiros e magalas, os que alimentam almas a quem não pode alimentar o estômago, os que marcam golos com milhares de pés e não com uma única bota dourada que se tornam camisola oficial dos sonhos infantis. Quem cresce com os olhos na bola e com a bola no coração não gosta de promiscuidades: não gosta de ver taças a correr todo o arco-íris das camisolas existentes nem jogadores poliglotas: gosta da segurança de conhecer os seus, da constância do lar arrumado, do esforço do quotidiano duradouro. Quer ver jogadores constantes e títulos constantes, quer ver uma única cor em troféus e pessoas. Não lhe chamem poesia - é mais caro comprar do que manter, gasta-se mais nas compras do que se ganha nas vendas. Eles não querem ficar? Não querem porque lhes dão números, e esses crescem em todo o lado; quer em Inglaterra, quer em Espanha, quer nas contas dos "benfiquistas profissionais". Se lhes dermos história, respondem-nos com títulos; se lhes dermos, como demos ao Chalana, pão para a família, dão-nos golos para todos.
O Benfica quer jogadores da formação, e não por uma qualquer tara ´chauvinista dourada com rentabilizações económicas. O Benfica quer formação porque ser jogador do Benfica é diferente de ser jogador de futebol. E isso só se aprende com o Benfica. Com o verdadeiro Benfica, claro. Com o Benfica da resistência armada nos pés e dos pés nos olhos de milhões. Quem é extremo do Benfica, tem de saber que o adepto não o vê a ele na faixa, vê Chalana e Simões, Simão e Poborski. O central tem de saber que ao seu lado tem Veloso e Mozer e Ricardo. No Benfica, só quem não joga é que se torna jogador. Só quem percebe que não joga ele, mas o Benfica é que poderá ser lembrado. Perder a vida para ganhá-la, parece irónico mas é verdadeiro.
Hão-de vir daí títulos. Não destes, que rodam, quais meretrizes, meia europa. O Benfica sabe o que é que lhe pertence. Sabe que cada taça noutra vitrina é uma taça roubada, que não foi defendida com o carinho que merece. E é mesmo assim - os outros trabalham para ganhar títulos, nós trabalhamos para defendê-los, já são nossos. Não se trata de um aspecto acrescentado ao benfiquismo - não se pode ser benfiquista sem ser ciumento. Não se pode ser Benfiquista sem esta fúria na defesa do que é seu. Um Benfiquista não tem fome dos títulos - já são seus. Tem, isso sim, vontade de honrar o título, com quem já se comprometeu quando saiu da farmácia Franco. Por favor: não me deixem voltar a ouvir a expressão "defender o título" sem estar aplicada ao Benfica.
Claro que a casa se constrói a partir de cima. No Benfica não pode haver sonhos desviados: olhos nos jogos mas cabeça no dinheiro. Isso não! Lembram-se do que dizia, há uns anos, Andrade e Sousa ao ser despedido? Se na comunicação se dispensam criancices, na direcção é imprescindível o entusiasmo infantil de quem sonha com o que faz e faz o que sonha. Que me limpem a casa, devolvam-lhe a inabalável cor única e que os dirigentes vibrem como um adepto que além de ver também é visto, mais nada.
Há questões profissionais? Claro. Isto é suficiente? Não. Mas por favor, não me reduzam o Benfica a números. Não me reduzam o Benfica a equilíbrios de contas, quando não há nada de equilibrado neste meu entusiasmo doente. Não me reduzam o Benfica a equações, quando não há nenhuma igualdade entre o Benfica e os outros. Não me tragam nomes vendidos por milhões, quando há milhões sem nome que só querem títulos. Há de vir um texto mais técnico, mas como irmão pobre do que realmente interessa. Porque o Benfica não se aprende nas Universidades de Gestão nem com as Becas do desporto. Podem aprender economia, mas não economia do benfica; futebol, mas não futebol do Benfica. Que venham profissionais, mas daqueles que asseguram que ainda sentem nos dedos o cheiro da cola, de colar os cromos do benfica na caderneta. Daqueles que se safavam no teste de geografia porque sabiam onde tinha o benfica jogado a eliminatória anterior da liga dos campeões. Se me derem isto, dou-lhes o voto. Porque os melhores gestores, todos os têm. Mas os melhores benfiquistas, a esses, só os podemos ter nós. Que venha um presidente destes...
O Benfica quer jogadores da formação, e não por uma qualquer tara ´chauvinista dourada com rentabilizações económicas. O Benfica quer formação porque ser jogador do Benfica é diferente de ser jogador de futebol. E isso só se aprende com o Benfica. Com o verdadeiro Benfica, claro. Com o Benfica da resistência armada nos pés e dos pés nos olhos de milhões. Quem é extremo do Benfica, tem de saber que o adepto não o vê a ele na faixa, vê Chalana e Simões, Simão e Poborski. O central tem de saber que ao seu lado tem Veloso e Mozer e Ricardo. No Benfica, só quem não joga é que se torna jogador. Só quem percebe que não joga ele, mas o Benfica é que poderá ser lembrado. Perder a vida para ganhá-la, parece irónico mas é verdadeiro.
Hão-de vir daí títulos. Não destes, que rodam, quais meretrizes, meia europa. O Benfica sabe o que é que lhe pertence. Sabe que cada taça noutra vitrina é uma taça roubada, que não foi defendida com o carinho que merece. E é mesmo assim - os outros trabalham para ganhar títulos, nós trabalhamos para defendê-los, já são nossos. Não se trata de um aspecto acrescentado ao benfiquismo - não se pode ser benfiquista sem ser ciumento. Não se pode ser Benfiquista sem esta fúria na defesa do que é seu. Um Benfiquista não tem fome dos títulos - já são seus. Tem, isso sim, vontade de honrar o título, com quem já se comprometeu quando saiu da farmácia Franco. Por favor: não me deixem voltar a ouvir a expressão "defender o título" sem estar aplicada ao Benfica.
Claro que a casa se constrói a partir de cima. No Benfica não pode haver sonhos desviados: olhos nos jogos mas cabeça no dinheiro. Isso não! Lembram-se do que dizia, há uns anos, Andrade e Sousa ao ser despedido? Se na comunicação se dispensam criancices, na direcção é imprescindível o entusiasmo infantil de quem sonha com o que faz e faz o que sonha. Que me limpem a casa, devolvam-lhe a inabalável cor única e que os dirigentes vibrem como um adepto que além de ver também é visto, mais nada.
Há questões profissionais? Claro. Isto é suficiente? Não. Mas por favor, não me reduzam o Benfica a números. Não me reduzam o Benfica a equilíbrios de contas, quando não há nada de equilibrado neste meu entusiasmo doente. Não me reduzam o Benfica a equações, quando não há nenhuma igualdade entre o Benfica e os outros. Não me tragam nomes vendidos por milhões, quando há milhões sem nome que só querem títulos. Há de vir um texto mais técnico, mas como irmão pobre do que realmente interessa. Porque o Benfica não se aprende nas Universidades de Gestão nem com as Becas do desporto. Podem aprender economia, mas não economia do benfica; futebol, mas não futebol do Benfica. Que venham profissionais, mas daqueles que asseguram que ainda sentem nos dedos o cheiro da cola, de colar os cromos do benfica na caderneta. Daqueles que se safavam no teste de geografia porque sabiam onde tinha o benfica jogado a eliminatória anterior da liga dos campeões. Se me derem isto, dou-lhes o voto. Porque os melhores gestores, todos os têm. Mas os melhores benfiquistas, a esses, só os podemos ter nós. Que venha um presidente destes...
terça-feira, 22 de maio de 2012
Projectos de Continuidade
Talvez o Benfica tenha mesmo de ser um clube vendedor. Talvez tenham de sair uma ou duas pérolas por ano, sim. Da equipa do título de 2009/2010 saíram Quim, Coentrão, David Luiz, Dí Maria e Ramires, o que significa que em dois anos vendemos 5 dos habituais titulares. Talvez não seja motivo de orgulho, mas resignamo-nos à dureza da vida: há as vontades dos jogadores, deslumbrados por capitais Europeias e dinheiro a rodos, há as necessidades económicas do Benfica e o envelhecimento natural dos jogadores. Até aí, nada de estranho. Estranho, sim, é que o plantel tinha mais quinze jogadores, para lá dos habitualmente titulares, e desses só Miguel Vítor continua. Significa que, em dois anos, o plantel mudou dois terços. Não será assim tão estranho se tivermos em conta a realidade vendedora das equipas portuguesas, dir-me-ão: afinal, contra os nossos sete, Porto e Sporting só mantêm nove jogadores e, se excluírmos os grandes tubarões europrus, isto é uma realidade comum.
No entanto, isto está muito longe de ser verdade. Em primeiro lugar porque, caso se tratasse de necessidade de vender, vender-se-iam os jogadores. No entanto, da equipa de 2009/2010, há pelo menos treze que estão emprestados: Júlio César, Patric, Shaffer, Roderick, Sidnei, Airton, Rúben Amorim, Felipe Bastos, Carlos Martins, Urreta, Felipe Menezes, Kardec e Éder Luís.
Haveria a possibilidade, também, destes serem emprestados porque não têm ainda condições para jogar pelo Benfica e, portanto, precisam de empréstimos onde joguem. No entanto, para os lugares deles contratam-se Mika, Emerson, Garay, Jardel, Matic, Nuno Coelho, B. César, Nolito, Rodrigo, Mora, Melgarejo... Tudo jogadores com menos de 28 anos, que podem, portanto, jogar várias épocas ao serviço do Benfica e alguns deles ainda em formação. Ora, isto significa que, durante vários anos, estarão tapados uns pelos outros, rodando constantemente o plantel do Benfica.
Podemos, também, dizer que os jogadores foram contratados para espicaçar os titulares e que, passados uns tempos, se acomodaram ao banco, o que fez com que tivessem de vir novos jogadores: é frenquente ver isto com os guarda-redes - variam-se os segundos para refrescar a luta e para que o primeiro não adormeça. No entanto, isto faz sentido se o titular permanecer no clube anos suficientes para que os índices de motivação possam baixar. Ora, num clube vendedor, isso raramente acontece: os jogadores ficam no clube pouco tempo, pelo que o principal objectivo dos suplentes deveria ser diferente; Urreta fica no plantel para precaver a saída de Dí María, Sidnei fica no plantel para precaver a saída de David Luiz. Contratam-se jogadores jovens para que, quando são vendidas as pérolas, não tenha de se começar o trabalho de novo, com os processos de adaptação dos novos jogadores.
No Benfica, no entanto, trabalha-se de outra forma. Contrata-se Carole para precaver a saída de Coentrão. Mas, quando este sai, empresta-se Carole, para que vá por água abaixo a tentativa de minimizar os tempos de adaptação; contrata-se Júlio César para precaver a saída de Quim e, quando este sai, contrata-se um novo guarda-redes. Um jogador suplente no Benfica não tem qualquer perspectiva de ser titular: é preparado para a sucessão e, na hora da verdade, vai-se embora no pacote. É estranho que Enzo Perez se queira ir embora? Nenhum jogador cumpre contratos! Se é titular, é normal vender as estrelas. Se é suplente, nunca será aposta. Nenhum jogador é inserido aos poucos, como foi Ronaldo no United. Eles têm mais tempo? Pelo contrário, eles não vendem as estrelas, pelo que a afirmação de um jovem se torna muito mais difícil. Quando é que Wllbeck terá o lugar seguro, se Rooney está para ficar? No Benfica, se Witsel sai, nem Matic, nem Amorim, nem David Simão serão apostas. Virá outro, para que comece tudo do novo e para que a lenga-lenga do costume se oiça outra vez...
No entanto, isto está muito longe de ser verdade. Em primeiro lugar porque, caso se tratasse de necessidade de vender, vender-se-iam os jogadores. No entanto, da equipa de 2009/2010, há pelo menos treze que estão emprestados: Júlio César, Patric, Shaffer, Roderick, Sidnei, Airton, Rúben Amorim, Felipe Bastos, Carlos Martins, Urreta, Felipe Menezes, Kardec e Éder Luís.
Haveria a possibilidade, também, destes serem emprestados porque não têm ainda condições para jogar pelo Benfica e, portanto, precisam de empréstimos onde joguem. No entanto, para os lugares deles contratam-se Mika, Emerson, Garay, Jardel, Matic, Nuno Coelho, B. César, Nolito, Rodrigo, Mora, Melgarejo... Tudo jogadores com menos de 28 anos, que podem, portanto, jogar várias épocas ao serviço do Benfica e alguns deles ainda em formação. Ora, isto significa que, durante vários anos, estarão tapados uns pelos outros, rodando constantemente o plantel do Benfica.
Podemos, também, dizer que os jogadores foram contratados para espicaçar os titulares e que, passados uns tempos, se acomodaram ao banco, o que fez com que tivessem de vir novos jogadores: é frenquente ver isto com os guarda-redes - variam-se os segundos para refrescar a luta e para que o primeiro não adormeça. No entanto, isto faz sentido se o titular permanecer no clube anos suficientes para que os índices de motivação possam baixar. Ora, num clube vendedor, isso raramente acontece: os jogadores ficam no clube pouco tempo, pelo que o principal objectivo dos suplentes deveria ser diferente; Urreta fica no plantel para precaver a saída de Dí María, Sidnei fica no plantel para precaver a saída de David Luiz. Contratam-se jogadores jovens para que, quando são vendidas as pérolas, não tenha de se começar o trabalho de novo, com os processos de adaptação dos novos jogadores.
No Benfica, no entanto, trabalha-se de outra forma. Contrata-se Carole para precaver a saída de Coentrão. Mas, quando este sai, empresta-se Carole, para que vá por água abaixo a tentativa de minimizar os tempos de adaptação; contrata-se Júlio César para precaver a saída de Quim e, quando este sai, contrata-se um novo guarda-redes. Um jogador suplente no Benfica não tem qualquer perspectiva de ser titular: é preparado para a sucessão e, na hora da verdade, vai-se embora no pacote. É estranho que Enzo Perez se queira ir embora? Nenhum jogador cumpre contratos! Se é titular, é normal vender as estrelas. Se é suplente, nunca será aposta. Nenhum jogador é inserido aos poucos, como foi Ronaldo no United. Eles têm mais tempo? Pelo contrário, eles não vendem as estrelas, pelo que a afirmação de um jovem se torna muito mais difícil. Quando é que Wllbeck terá o lugar seguro, se Rooney está para ficar? No Benfica, se Witsel sai, nem Matic, nem Amorim, nem David Simão serão apostas. Virá outro, para que comece tudo do novo e para que a lenga-lenga do costume se oiça outra vez...
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