Por trás dos Magos e guerreiros, das botas afinadas que lembravam os antecessores, havia borbulhas e ânimo adolescente. Se Aimar, Dí María, Ramires, David Luiz e Saviola - apesar das semelhanças no dorso e nos golos - não tinham o bigode de Chalana, Humberto, Toni ou Veloso apenas porque não queriam, também é verdade que a segunda linha era ainda imberbe, não só pela idade mas também pelo estatuto. Sidnei, Miguel Vítor, Felipe Bastos, Urreta, Airton, Menezes ou Kardec: todos eles tinham ainda a camaleónica voz adolescente, que alterna passes adultos com erros de criança. Tudo normal, tudo parte do processo que, no drama de Bernard Shaw, Elizabeth passa com Higgins: a primeira desenvoltura não esconde o cerne ainda infantil; havia trabalho a fazer com Airton, apesar da aparente facilidade com que substituía Javi. A intensidade de Menezes tinha de ser melhorada, caso se pretendesse transformar aquela finta de moleque jeitoso no estilo quase filosófico de Aimar.
Mas, três anos depois, só resta um. Miguel Vítor, manutenção burocrática no plantel, que parece um quarentão pós-moderno, estagnado na adolescência futebolística de há três anos. Sem pisadelas de Barcelos, sem botas enlameadas pela Mata Real, sem cicatrizes de disputas em Olhão, sem calos de tanto pisar a luz e sem a voz grossa de quem tem três anos de vida.
Da mesma maneira que Roderick, caído nas boas graças do clube, acaba por ter a sua própria fortuna virada contra si: a nossa jóia precoce, o nosso diamante em bruto, é vítima de uma mãe galinha que não deixa lapidar o diamante. É tão absurdo como não querer ferrar um cavalo pela dor que lhe vai causar, sabendo que, passada aquela primeira dor, ser-lhe-à muito mais confortável a ferradura; ou como não vacinar uma criança com medo do terrível aspecto da agulha.
Dos nossos jogadores em laboratório, nenhum chega ao campo. Não chegou Airton, Urreta ou Menezes, como não chegaram Fábio Faria, Carole ou Jara, como não chegaram Mora ou Wass. Os outros, os Rodericks, Vítors, Rúbens Pintos ou mesmo Nélsons Oliveiras, continuam a aquecer, à espera do dia em que estiverem prontos. Já estão? Claro que não, não estão prontos. Mas o que havia a fazer em laboratório, já está feito. Uma incubadora não aguenta um bebé durante uma vida inteira, o resto do crescimento faz-se no campo. No mesmo sítio onde cresceram os imberbes Saviola e Aimar e onde crescem todos os dias milhares de brasileiros.
Não se trata, obviamente, de uma banalização da camisola: o monge tem de merecer o hábito. Não se dá um 10 de Eusébio e Rui Costa a alguém que ainda não sabe controlar a sua própria voz, quanto mais a equipa de seis milhões. Mas os calos podem-se ganhar. Há tantos minutos, que mesmo um anticomunista crónico poderia optar por distribuí-los melhor. E, sobretudo, dar confiança. Se Airton chegou a prometer, para que é que vem depois Nuno Coelho? Para quê Matic, se havia David Simão. O meu sonho é ver a prospecção de mira desviada: sai Witsel e contrata-se um substituo para David Simão. Sai Garay e encontra-se um substituto para Roderick. Saídos os donos do lugar, que saltassem para a ribalta os que já andavam a ser preparados. Como quando saiu Reyes, e na época seguinte o seu Angel da guarda, que lhe guardava as costas e o lugar no banco, brilhou. Era tão mais bonito...
quinta-feira, 26 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
A minha equipa
Artur Mika
Oblak Varela
Maxi Cancelo
Luisinho Carole
1 jogador Luís Martins
Luisão Roderick
Garay Faria
M. Vítor Kanu
Javi N. Coelho
Witsel M. Rosa
Aimar D. Lopes
B. César A. Almeida
Matic L. Pimenta
C. Martins D. Simão
Ola John H. Vieira
Nolito Djaniny
Melgarejo R. Pinto
Cardozo Mora
Saviola Michel
N. Oliveira I. Cavaleiro
Rodrigo
A última vez que me lembro do Benfica precisar realmente do terceiro guarda-redes foi quando Moreira e Quim se lesionaram, jogando assim o Rui Nereu antes de contratarmos o Moretto. É costume seguir a política de pôr um jovem como terceiro guarda-redes, para aprender com os mais experientes. Geralmente, o que ganham nos treinos, perdem com a falta de ritmo. Para quê, então, ter um terceiro guarda-redes e um titular da segunda categoria? Porque não dar ritmo de jogo ao terceiro guarda-redes?
São poucos, três laterais, se um deles fizer duas posições? Nos anos passados, se o Maxi se lesionasse, quem jogava? Um suplente directo - Luís Filipe primeiro, André Almeida depois - ou uma adaptação mais rodada? É compreensível que a exigência competitiva não permita responsabilizar, a meio da época, um jogador que esteve até aí parado. A solução de encurtar o plantel permite fazer aquilo que sempre se fez: a primeira alternativa a um jogador é outro mais rodado. Em caso de extrema necessidade - que foi quando sempre se usou um quarto lateral - tem-se esse lateral mais rodado. Luís Martins, na época passada, teve de jogar na Champions. Não seria melhor se, em vez de um jogo, já tivesse feito vinte na orangina. Os laterais da segunda equipa são uma opção tão válida como um quarto lateral, isto é: uma opção de recurso. Com a diferença de terem minutos nas pernas no caso de serem chamados.
Será melhor ter Roderick um ano parado - em que faz três jogos - ou tê-lo com um ano inteiro de jogo, sempre preparado para uma chamada à primeira equipa?
Preferia, obviamente, Ruben Amorim a Matic, mas pelas vicissitudes do destino, é impossível.
Três extremos talvez seja pouco, mas três extremos, mais Bruno César, mais Rodrigo, mais três extremos da segunda equipa parece-me mais do que suficiente. E o Gaitán, dada a necessidade de encaixar vários milhões, parece-me o melhor jogador para sair.
Quatro avançados é capaz de ser excessivo, mas não me parece que o Benfica esteja preparado para se ver livre de algum deles.
O essencial desta ideia é a verificação de que, num plantel de 25 jogadores, só 20 são realmente alternativas. Os outros são uma segurança, usada só em caso de extrema necessidade, que significa 4 ou 5 jogos por época. Será, então, muito mais rentável ter esses jogadores com rotinas de jogo constantes. A existência de plantéis curtos, quer numa equipa quer noutra, aumenta também o atractivo da segunda equipa. É diferente estar numa equipa B de estar numa equipa B que se confunde com a segunda linha da equipa A. E não era assim tão difícil...
Oblak Varela
Maxi Cancelo
Luisinho Carole
1 jogador Luís Martins
Luisão Roderick
Garay Faria
M. Vítor Kanu
Javi N. Coelho
Witsel M. Rosa
Aimar D. Lopes
B. César A. Almeida
Matic L. Pimenta
C. Martins D. Simão
Ola John H. Vieira
Nolito Djaniny
Melgarejo R. Pinto
Cardozo Mora
Saviola Michel
N. Oliveira I. Cavaleiro
Rodrigo
A última vez que me lembro do Benfica precisar realmente do terceiro guarda-redes foi quando Moreira e Quim se lesionaram, jogando assim o Rui Nereu antes de contratarmos o Moretto. É costume seguir a política de pôr um jovem como terceiro guarda-redes, para aprender com os mais experientes. Geralmente, o que ganham nos treinos, perdem com a falta de ritmo. Para quê, então, ter um terceiro guarda-redes e um titular da segunda categoria? Porque não dar ritmo de jogo ao terceiro guarda-redes?
São poucos, três laterais, se um deles fizer duas posições? Nos anos passados, se o Maxi se lesionasse, quem jogava? Um suplente directo - Luís Filipe primeiro, André Almeida depois - ou uma adaptação mais rodada? É compreensível que a exigência competitiva não permita responsabilizar, a meio da época, um jogador que esteve até aí parado. A solução de encurtar o plantel permite fazer aquilo que sempre se fez: a primeira alternativa a um jogador é outro mais rodado. Em caso de extrema necessidade - que foi quando sempre se usou um quarto lateral - tem-se esse lateral mais rodado. Luís Martins, na época passada, teve de jogar na Champions. Não seria melhor se, em vez de um jogo, já tivesse feito vinte na orangina. Os laterais da segunda equipa são uma opção tão válida como um quarto lateral, isto é: uma opção de recurso. Com a diferença de terem minutos nas pernas no caso de serem chamados.
Será melhor ter Roderick um ano parado - em que faz três jogos - ou tê-lo com um ano inteiro de jogo, sempre preparado para uma chamada à primeira equipa?
Preferia, obviamente, Ruben Amorim a Matic, mas pelas vicissitudes do destino, é impossível.
Três extremos talvez seja pouco, mas três extremos, mais Bruno César, mais Rodrigo, mais três extremos da segunda equipa parece-me mais do que suficiente. E o Gaitán, dada a necessidade de encaixar vários milhões, parece-me o melhor jogador para sair.
Quatro avançados é capaz de ser excessivo, mas não me parece que o Benfica esteja preparado para se ver livre de algum deles.
O essencial desta ideia é a verificação de que, num plantel de 25 jogadores, só 20 são realmente alternativas. Os outros são uma segurança, usada só em caso de extrema necessidade, que significa 4 ou 5 jogos por época. Será, então, muito mais rentável ter esses jogadores com rotinas de jogo constantes. A existência de plantéis curtos, quer numa equipa quer noutra, aumenta também o atractivo da segunda equipa. É diferente estar numa equipa B de estar numa equipa B que se confunde com a segunda linha da equipa A. E não era assim tão difícil...
domingo, 8 de julho de 2012
Entrevista a Andrade e Sousa - lembram-se?
RECORD – Foi despedido do Benfica porquê e por quem?
ANDRADE E SOUSA – Não se pode dizer que tenha sido despedido. Havia, por exigência minha, um contrato de prestação de serviços. Quando o clube quisesse ver-se livre de mim, podia fazê-lo sem constrangimentos nem cláusulas indemnizatórias, ao contrário do que acontece com muitos que por lá andam. O Benfica prescindiu dos meus serviços na sequência de um e-mail que enviei para a pessoa errada. A minha saída não se resume, contudo, a esse facto e é injusto passar-se essa imagem. Foi um pretexto, pelo que tenho o direito de me defender e não aceito ser tratado como um produto descartável.
R – Qual o teor desse e-mail? E por que fala em pretexto?
AS – Tecia considerações sobre as características profissionais do dr. Domingos Soares Oliveira [administrador executivo da SAD]. Ele teve acesso ao teor da mensagem e aproveitou-se disso para se ver livre de mim. O e-mail tinha como destinatário um amigo. Só que, por engano, enviei-o para um colega, Bernardo Faria de Carvalho [assessor da SAD], que, embora percebendo que não lhe era dirigido, submisso ao chefe, reencaminhou-o para Soares Oliveira.
R – A quem se destinava então o e-mail?
AS – Não vou dizer o nome do meu amigo. Quero protegê-lo e tratou-se de algo privado e confidencial. Nem o conteúdo do e-mail. Posso apenas garantir que não retiro uma vírgula ao que escrevi e que o mesmo tecia considerações de natureza exclusivamente profissional.
R – O seu “amigo” está ligado ao Benfica?
AS – Está ligado ao universo do Benfica.
R – É dirigente?
AS – Não.
R – O que se passou depois de Bernardo Faria de Carvalho reencaminhar a mensagem para Soares Oliveira?
AS – Acabou por ser Soares Oliveira a dar amplitude a esse facto. Depois de receber o e-mail do subordinado, revelou-o, desprotegendo inclusivamente o informador. Serviu-se do meu e-mail, de natureza privada, para exigir a minha cabeça numa reunião de direcção. Colocou-a entre a espada e a parede. “Ou ele ou eu”, chegou mesmo a dizer ao presidente.
R – Mas isso foi só um pretexto, segundo diz. Quer concretizar?
AS – Havia, há cerca de um ano, um grande desgaste na minha relação com o dr. Soares Oliveira, resultante do facto de criticar, interna e repetidamente, a presença de sportinguistas e portistas na estrutura profissional do Benfica. O dr. Soares Oliveira está no topo da pirâmide dessa estrutura e tem enorme poder e influência sobre Luís Filipe Vieira. O presidente dá-lhe esse estatuto e fala com ele vezes sem conta todos os dias.
R – Todos sabemos que Soares Oliveira é simpatizante do Sporting. Isso quer dizer que, na sua óptica, não serve o Benfica com competência?
AS – Não é uma questão de competência. Simplesmente, as grandes decisões do Benfica são tomadas por pessoas que não sentem o clube. Não gostam dele e movem-se por uma agenda própria. Hoje estão no Benfica, amanhã noutro lugar qualquer.
R – Soares Oliveira não gosta do Benfica?
AS – Não ama o Benfica como um benfiquista. Gosta daquilo que o Benfica lhe pode oferecer: notoriedade e um projecto profissional interessante.
R – As grandes decisões, segundo argumenta, são tomadas pelos profissionais de cúpula, curiosamente adeptos de outros clubes. Qual então o papel dos vice-presidentes, sabendo que foram eleitos, há um ano, seis elementos efectivos e dois suplentes?
AS – Um papel meramente decorativo. Luís Filipe Vieira nem sequer sabe os nomes de todos os vice-presidentes. Vi-o, há dias, a perguntar directamente o nome a um deles? Alguns são completamente marginalizados por uma estrutura profissional, que é necessária, mas que não pode desprezar os dirigentes eleitos.
R – Além de Soares Oliveira, quem mais toma decisões importantes ou tem grande influência sobre o presidente?
AS – O dr. Paulo Gonçalves [assessor jurídico da SAD], portista desde pequeno. Começou no departamento jurídico do FC Porto, com Pinto da Costa. Passou depois para o Boavista, na administração Loureiro. Eu próprio, pelo Benfica, e ele, ao serviço do Boavista, tivemos lutas enérgicas em reuniões da Liga. Trata-se de um portista da era Pinto da Costa, que já defendeu importantes posições contra o Benfica e que tem acesso, actualmente, aos documentos mais importantes e sigilosos da área jurídica do clube.
R – Ainda não colocou em causa o profissionalismo ou a lealdade de Soares Oliveira e Paulo Gonçalves. Trata-se tão-só de uma questão de princípio??
AS – Não coloco isso em causa, assim como eles também não podem questionar a minha honestidade e competência. Não me envergonho de nada que tenha feito. Mas os benfiquistas merecem saber o que têm em casa. Soares Oliveira exorbita funções. É um pequeno ditador que só sabe funcionar com pessoas submissas. Ele afasta todos os que são incómodos. Como eu era incómodo, benfiquista, e afirmava não gostar de sportinguistas e portistas à frente do meu clube, fui afastado.
R – Pelo cenário traçado, o Benfica parece estar em guerra aberta?
AS – Não diria guerra aberta. Mas existe, de facto, um clima de grande tensão no interior do clube.
ANDRADE E SOUSA – Não se pode dizer que tenha sido despedido. Havia, por exigência minha, um contrato de prestação de serviços. Quando o clube quisesse ver-se livre de mim, podia fazê-lo sem constrangimentos nem cláusulas indemnizatórias, ao contrário do que acontece com muitos que por lá andam. O Benfica prescindiu dos meus serviços na sequência de um e-mail que enviei para a pessoa errada. A minha saída não se resume, contudo, a esse facto e é injusto passar-se essa imagem. Foi um pretexto, pelo que tenho o direito de me defender e não aceito ser tratado como um produto descartável.
R – Qual o teor desse e-mail? E por que fala em pretexto?
AS – Tecia considerações sobre as características profissionais do dr. Domingos Soares Oliveira [administrador executivo da SAD]. Ele teve acesso ao teor da mensagem e aproveitou-se disso para se ver livre de mim. O e-mail tinha como destinatário um amigo. Só que, por engano, enviei-o para um colega, Bernardo Faria de Carvalho [assessor da SAD], que, embora percebendo que não lhe era dirigido, submisso ao chefe, reencaminhou-o para Soares Oliveira.
R – A quem se destinava então o e-mail?
AS – Não vou dizer o nome do meu amigo. Quero protegê-lo e tratou-se de algo privado e confidencial. Nem o conteúdo do e-mail. Posso apenas garantir que não retiro uma vírgula ao que escrevi e que o mesmo tecia considerações de natureza exclusivamente profissional.
R – O seu “amigo” está ligado ao Benfica?
AS – Está ligado ao universo do Benfica.
R – É dirigente?
AS – Não.
R – O que se passou depois de Bernardo Faria de Carvalho reencaminhar a mensagem para Soares Oliveira?
AS – Acabou por ser Soares Oliveira a dar amplitude a esse facto. Depois de receber o e-mail do subordinado, revelou-o, desprotegendo inclusivamente o informador. Serviu-se do meu e-mail, de natureza privada, para exigir a minha cabeça numa reunião de direcção. Colocou-a entre a espada e a parede. “Ou ele ou eu”, chegou mesmo a dizer ao presidente.
R – Mas isso foi só um pretexto, segundo diz. Quer concretizar?
AS – Havia, há cerca de um ano, um grande desgaste na minha relação com o dr. Soares Oliveira, resultante do facto de criticar, interna e repetidamente, a presença de sportinguistas e portistas na estrutura profissional do Benfica. O dr. Soares Oliveira está no topo da pirâmide dessa estrutura e tem enorme poder e influência sobre Luís Filipe Vieira. O presidente dá-lhe esse estatuto e fala com ele vezes sem conta todos os dias.
R – Todos sabemos que Soares Oliveira é simpatizante do Sporting. Isso quer dizer que, na sua óptica, não serve o Benfica com competência?
AS – Não é uma questão de competência. Simplesmente, as grandes decisões do Benfica são tomadas por pessoas que não sentem o clube. Não gostam dele e movem-se por uma agenda própria. Hoje estão no Benfica, amanhã noutro lugar qualquer.
R – Soares Oliveira não gosta do Benfica?
AS – Não ama o Benfica como um benfiquista. Gosta daquilo que o Benfica lhe pode oferecer: notoriedade e um projecto profissional interessante.
R – As grandes decisões, segundo argumenta, são tomadas pelos profissionais de cúpula, curiosamente adeptos de outros clubes. Qual então o papel dos vice-presidentes, sabendo que foram eleitos, há um ano, seis elementos efectivos e dois suplentes?
AS – Um papel meramente decorativo. Luís Filipe Vieira nem sequer sabe os nomes de todos os vice-presidentes. Vi-o, há dias, a perguntar directamente o nome a um deles? Alguns são completamente marginalizados por uma estrutura profissional, que é necessária, mas que não pode desprezar os dirigentes eleitos.
R – Além de Soares Oliveira, quem mais toma decisões importantes ou tem grande influência sobre o presidente?
AS – O dr. Paulo Gonçalves [assessor jurídico da SAD], portista desde pequeno. Começou no departamento jurídico do FC Porto, com Pinto da Costa. Passou depois para o Boavista, na administração Loureiro. Eu próprio, pelo Benfica, e ele, ao serviço do Boavista, tivemos lutas enérgicas em reuniões da Liga. Trata-se de um portista da era Pinto da Costa, que já defendeu importantes posições contra o Benfica e que tem acesso, actualmente, aos documentos mais importantes e sigilosos da área jurídica do clube.
R – Ainda não colocou em causa o profissionalismo ou a lealdade de Soares Oliveira e Paulo Gonçalves. Trata-se tão-só de uma questão de princípio??
AS – Não coloco isso em causa, assim como eles também não podem questionar a minha honestidade e competência. Não me envergonho de nada que tenha feito. Mas os benfiquistas merecem saber o que têm em casa. Soares Oliveira exorbita funções. É um pequeno ditador que só sabe funcionar com pessoas submissas. Ele afasta todos os que são incómodos. Como eu era incómodo, benfiquista, e afirmava não gostar de sportinguistas e portistas à frente do meu clube, fui afastado.
R – Pelo cenário traçado, o Benfica parece estar em guerra aberta?
AS – Não diria guerra aberta. Mas existe, de facto, um clima de grande tensão no interior do clube.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Suma contra regulamento
Vai a minha suma - e a revelação da minha fraqueza pela argumentação escolástica -, qual doctor angelicus, sobre as novas medidas aprovadas pela liga:
1. Pareceria que a extinção dos empréstimos a clubes do mesmo escalão seria uma medida benéfica para o futebol português.
argumento 1: Dá maior transparência ao futebol, porque evita as lesões de última hora, as grandes penalidades falhadas incompreensivelmente, os súbitos apagões dos jogadores mais talentosos, entre outras coisas.
argumento 2: Diminui a dependência dos clubes pequenos em relação aos grandes, que deixam de estar dependentes destes para planear a época.
argumento 3: Impede as equipas de estagnar carreiras de jogadores através de sucessivos empréstimos - o que escraviza o jogador e o impede de dar livre curso à sua carreira - pelo medo de desaproveitar um jogador e de que este venha a ser aproveitado por um rival.
argumento 4: Baixará a folha salarial dos clubes, pois não terão tantas facilidades em colocar os emprestados, o que levará à venda de jogadores que estão claramente a mais.
No entanto, não concordamos com a medida adoptada.
contra-argumento 1: Os empréstimos são uma moda recente, mais recente do que o apagamento dos jogadores revelação. A corrupção tem o pé ligeiro e entra por qualquer brecha. As promessas de contratos, as compensações extra-salariais, tudo isso existe há tanto ou mais tempo que os empréstimos. Basta ver que os árbitros não são emprestados e também fecham olhos e assinalam penalidades incompreensíveis...
contra-argumento 2: Talvez diminua a dependência dos pequenos em relação aos grandes, mas também os impede de ter melhores jogadores. A realidade económica portuguesa só permite ter grandes craques em fase laboratorial. Ora, isto implica que, muitas vezes, apesar de já se antever um grande futuro aos jogadores, estes ainda não estão preparados para jogar num grande. E também implica que um jogador de futuro, perante a opção de assinar por um clube português ou por qualquer outro, veja estreitados os atractivos lusos perante a possibilidade de ser emprestado a um clube da segunda liga. Além do mais, é uma oportunidade privilegiada dos clubes pequenos, contarem com jogadores que fizeram uma boa formação e que têm, portanto, além de qualidades técnicas, um manancial táctico muito mais evoluído. Impedir estes empréstimos significa, portanto, baixar a qualidade da primeira liga. Não foi, David Simão, uma mais-valia para a sua equipa? Foi. Tinha qualidade para jogar continuamente pelo Benfica? Para já, não. Seria benéfico para a qualidade de jogo da liga, para o Benfica, ou para a evolução do próprio jogador, um retrocesso e consequente empréstimo a um clube da segunda liga? Não.
contra-argumento 3: Talvez aconteça o contrário, e a carreira estagne mais abaixo. O empréstimo a um clube da primeira liga é uma etapa mais avançada na evolução do jogador, entre a saída de júnior e o regresso ao clube de origem. Se, muitas vezes, o regresso a casa é adiado porque há pouco espaço no plantel e a qualidade de jogo numa equipa de meio da tabela não permite calcular seguramente o desempenho do jogador numa equipa grande, muito menos o fará se cortarmos a etapa competitiva mais próxima do clube de origem. Aquilo que veremos serão jogadores estagnados na segunda liga, sem novos desafios na altura em que precisam de exacerbar o seu nível de competição.
contra-argumento 4: Com segundas categorias, possibilidade de empréstimos a equipas de outro escalão e ao estrangeiro, não baixará a folha salarial dos clubes. Provocará, isso sim, uma dispersão dos jogadores potencialmente talentosos pelos outros países, sem hipótese de jogarem na nossa liga. Em vez de termos o Nacional, durante um ano, a desfrutar da cedência de Fábio Coentrão por parte do Benfica, teremos o futebol mais pobre e o jogador a cirandar pela noite de Saragoça, sem o menor controlo da entidade patronal.
Doctor angelicus, patronum soclasticum, dixit. Ita missa est.
1. Pareceria que a extinção dos empréstimos a clubes do mesmo escalão seria uma medida benéfica para o futebol português.
argumento 1: Dá maior transparência ao futebol, porque evita as lesões de última hora, as grandes penalidades falhadas incompreensivelmente, os súbitos apagões dos jogadores mais talentosos, entre outras coisas.
argumento 2: Diminui a dependência dos clubes pequenos em relação aos grandes, que deixam de estar dependentes destes para planear a época.
argumento 3: Impede as equipas de estagnar carreiras de jogadores através de sucessivos empréstimos - o que escraviza o jogador e o impede de dar livre curso à sua carreira - pelo medo de desaproveitar um jogador e de que este venha a ser aproveitado por um rival.
argumento 4: Baixará a folha salarial dos clubes, pois não terão tantas facilidades em colocar os emprestados, o que levará à venda de jogadores que estão claramente a mais.
No entanto, não concordamos com a medida adoptada.
contra-argumento 1: Os empréstimos são uma moda recente, mais recente do que o apagamento dos jogadores revelação. A corrupção tem o pé ligeiro e entra por qualquer brecha. As promessas de contratos, as compensações extra-salariais, tudo isso existe há tanto ou mais tempo que os empréstimos. Basta ver que os árbitros não são emprestados e também fecham olhos e assinalam penalidades incompreensíveis...
contra-argumento 2: Talvez diminua a dependência dos pequenos em relação aos grandes, mas também os impede de ter melhores jogadores. A realidade económica portuguesa só permite ter grandes craques em fase laboratorial. Ora, isto implica que, muitas vezes, apesar de já se antever um grande futuro aos jogadores, estes ainda não estão preparados para jogar num grande. E também implica que um jogador de futuro, perante a opção de assinar por um clube português ou por qualquer outro, veja estreitados os atractivos lusos perante a possibilidade de ser emprestado a um clube da segunda liga. Além do mais, é uma oportunidade privilegiada dos clubes pequenos, contarem com jogadores que fizeram uma boa formação e que têm, portanto, além de qualidades técnicas, um manancial táctico muito mais evoluído. Impedir estes empréstimos significa, portanto, baixar a qualidade da primeira liga. Não foi, David Simão, uma mais-valia para a sua equipa? Foi. Tinha qualidade para jogar continuamente pelo Benfica? Para já, não. Seria benéfico para a qualidade de jogo da liga, para o Benfica, ou para a evolução do próprio jogador, um retrocesso e consequente empréstimo a um clube da segunda liga? Não.
contra-argumento 3: Talvez aconteça o contrário, e a carreira estagne mais abaixo. O empréstimo a um clube da primeira liga é uma etapa mais avançada na evolução do jogador, entre a saída de júnior e o regresso ao clube de origem. Se, muitas vezes, o regresso a casa é adiado porque há pouco espaço no plantel e a qualidade de jogo numa equipa de meio da tabela não permite calcular seguramente o desempenho do jogador numa equipa grande, muito menos o fará se cortarmos a etapa competitiva mais próxima do clube de origem. Aquilo que veremos serão jogadores estagnados na segunda liga, sem novos desafios na altura em que precisam de exacerbar o seu nível de competição.
contra-argumento 4: Com segundas categorias, possibilidade de empréstimos a equipas de outro escalão e ao estrangeiro, não baixará a folha salarial dos clubes. Provocará, isso sim, uma dispersão dos jogadores potencialmente talentosos pelos outros países, sem hipótese de jogarem na nossa liga. Em vez de termos o Nacional, durante um ano, a desfrutar da cedência de Fábio Coentrão por parte do Benfica, teremos o futebol mais pobre e o jogador a cirandar pela noite de Saragoça, sem o menor controlo da entidade patronal.
Doctor angelicus, patronum soclasticum, dixit. Ita missa est.
terça-feira, 26 de junho de 2012
A Escola de Treinadores
Em primeiro lugar, queremos evitar excessos interpretativos. Não falamos de uma espécie de trama maçónica, com infiltrados por tudo quanto seja clube desportivo, que procure favorecer interesses que estão à margem de quem acolhe. Isso chama-se corrupção e não cabe em Catedrais. Também admitimos que se trate de uma estratégia que fará rir quem tem a barriga cheia: o United ou o Arsenal olhariam para isto com legítima perplexidade.
Isto porque falar de formação de treinadores implica um encurtar do prazo de validade destes. Não faz sentido formar treinadores que nunca se sentarão no banco. E se em Manchester há uma espécie de insulamento britânico que não deixa ouvir o mundo, há no Benfica uma certa tradição democrática que provoca rotatividades constantes. Sendo assim, não faz sentido, a cada vez que um treinador deixa a Luz, ter de encontrar um novo treinador a qualquer custo. Ora, isto não é diferente do que se passa com os jogadores: se o Benfica sabe que perderá Coentrão, prepara-lhe um sucessor; Nélson Oliveira está no plantel porque Cardozo não vai durar para sempre - preparam-se as saídas.
Com os treinadores, no entanto, não se faz a mesma coisa. É, até certo ponto, compreensível: o papel mais exposto do treinador não dá quaisquer garantias da duração do cargo; se o treinador ganha, continua, e pode continuar por muitos anos. A história, no entanto, não nos dá exemplos de treinadores a quem tenhamos visto nascer rugas numa cara jovem - não duram tempo suficiente no banco que justifique a falta de referências no que toca aos treinadores. Cada novo treinador aparece com muito mais pelouros do que devia, porque a cada novo treinador, surge um novo rumo. Alguém vê semelhanças entre Camacho, Quique e Jesus? Cada um deles começou pelo princípio, como se estivesse a criar um clube. Ora, o treinador deve estar tão subordinado à ideia do clube como o jogador à ideia do treinador. Jaime Pacheco não treinaria, com certeza, com Aimar. Pois bem: cabe ao clube decidir se quer uma política à Jaime Pacheco ou à Aimar. Se quer Aimares, não contrata Pachecos, se quer Pachecos, não contrata Aimares! E isto não tem que ver com uma subordinação dos treinadores aos jogadores, ou vice-versa. Tem que ver com a subordinação dos nomes a ideias; no Benfica não se devem contratar treinadores, devem-se contratar seguidores de uma ideia. Como Cruyff era seguidor de Ruiz, Guardiola de Cruyff e Vilanova de Guardiola.
O contrário implica moldar um clube à imagem do treinador, ou um treinador que não acredita na própria equipa. Têm de ser dadas as melhores condições possíveis para que um treinador trabalhe à vontade, sem que isto implique a perda de identidade do clube. E isto só se faz com a garantia de que o clube e o treinador pensam da mesma maneira.
Ora, e como é que se garante que um treinador pensa da mesma maneira que o clube? Não será, com certeza, através de uma pesca furiosa, que tem na avaliação muitos factores que a distraem do ponto certo: jogadores contrários à filosofia que o treinador adopta, pressões de direcção, crises financeiras... Tudo isto alterará o rendimento da equipa, e de uma forma que é em grande parte alheia ao treinador. Claro que o treinador pode fazer milagres, mas também pode ser que apenas os fizesse com quem partilhasse as suas ideias.
Não se percebe, então, porque é que, com os treinadores, não se faz o mesmo que com os jogadores - ensiná-los. Porque é que os treinadores das camadas jovens não têm uma escala projectada aquando do começo do contrato, porque é que não há espaço na equipa técnica para enquadrar os treinadores em formação e treinos comuns entre equipas jovens e seniores, que expressassem o pensamento benfiquista.
A alteração de escalões permite ver também qual é a reacção aos diferentes níveis de pressão, não só dos jogadores como dos treinadores. É claro que não é a mesma coisa treinar juniores ou seniores; mas tecnicamente, a partir dos escalões de juvenis, os processos já não são muito diferentes. Um treinador com competência técnica para os juvenis do Benfica tem de a ter também para os seniores. Um treinador de camadas jovens deve ser visto, assim, não só como um potencial treinador do Benfica, mas como um alvo privilegiado para treinar o Benfica, pelo conhecimento já adquirido da estrutura e das ideias do clube.
Os factores extra-técnicos, descobrem-se com a pressão e com a experiência sénior. E se a segunda equipa não é laboratório suficiente, o Benfica deveria manter relações privilegiadas com certos clubes que facilitassem a entrada dos treinadores no futebol profissional. Não se trata, de maneira nenhuma, de influências pouco honestas. Também a cedência de jogadores se pode fazer através de protocolos que podem ser honestos - o Benfica já teve relações protocolares com Alverca, Fátima, Granada, sem que isso tenha de ser desonesto.
No caso dos treinadores, trata-se de algo especial. Em primeiro lugar, estes não têm contrato com o Benfica, pelo que são livres de fazer o que quiserem a partir do momento em que deixam a luz. Mas o Benfica pode dar-lhe indicações da hipótese que têm de serem treinadores do Benfica: podem facilitar empréstimos por já haver conhecimento dos atletas treinados nas camadas jovens e, sobretudo, podem dar o exemplo.
O caso de Rui Vitória, se viesse a treinar o Benfica, seria sintomático daquilo que estou a dizer. Alguém que treinou as camadas inferiores do Benfica, que seguiu o seu caminho com apoio de alguns jovens que treinou no Benfica e que acabava a treinar o Benfica. Também aqui, a selecção qualitativa se faria naturalmente. Um treinador sem qualidade, chegado ao Fátima, não subiria para o Paços de Ferreira. E, seguindo o princípio de Peter, se não tivesse mais qualidade do que a necessária para chegar à capital do Móvel, por aí se quedaria, sem chegar a Guimarães. A subida na hierarquia faz-se sem ajuda do Benfica, é natural. Mas a partir do momento em que Rui Vitória chegou a Paços de Ferreira, deveria estar a sair outro treinador das camadas jovens benfiquistas para abraçar um projecto da segunda divisão, com possibilidade de calejar os processos até chegar ao Benfica. Também isto facilitaria a inserção dos jogadores no futebol profissional, por terem alguém que já os seguia de perto há alguns anos.
E, sobretudo, quem ganhava era o Benfica. Também os treinadores podem ter escola, também os treinadores podem ter treino. E não ficaria mal ao Benfica voltar ao seu lugar de pioneiro na descoberta de caminhos para a Vitória...
Isto porque falar de formação de treinadores implica um encurtar do prazo de validade destes. Não faz sentido formar treinadores que nunca se sentarão no banco. E se em Manchester há uma espécie de insulamento britânico que não deixa ouvir o mundo, há no Benfica uma certa tradição democrática que provoca rotatividades constantes. Sendo assim, não faz sentido, a cada vez que um treinador deixa a Luz, ter de encontrar um novo treinador a qualquer custo. Ora, isto não é diferente do que se passa com os jogadores: se o Benfica sabe que perderá Coentrão, prepara-lhe um sucessor; Nélson Oliveira está no plantel porque Cardozo não vai durar para sempre - preparam-se as saídas.
Com os treinadores, no entanto, não se faz a mesma coisa. É, até certo ponto, compreensível: o papel mais exposto do treinador não dá quaisquer garantias da duração do cargo; se o treinador ganha, continua, e pode continuar por muitos anos. A história, no entanto, não nos dá exemplos de treinadores a quem tenhamos visto nascer rugas numa cara jovem - não duram tempo suficiente no banco que justifique a falta de referências no que toca aos treinadores. Cada novo treinador aparece com muito mais pelouros do que devia, porque a cada novo treinador, surge um novo rumo. Alguém vê semelhanças entre Camacho, Quique e Jesus? Cada um deles começou pelo princípio, como se estivesse a criar um clube. Ora, o treinador deve estar tão subordinado à ideia do clube como o jogador à ideia do treinador. Jaime Pacheco não treinaria, com certeza, com Aimar. Pois bem: cabe ao clube decidir se quer uma política à Jaime Pacheco ou à Aimar. Se quer Aimares, não contrata Pachecos, se quer Pachecos, não contrata Aimares! E isto não tem que ver com uma subordinação dos treinadores aos jogadores, ou vice-versa. Tem que ver com a subordinação dos nomes a ideias; no Benfica não se devem contratar treinadores, devem-se contratar seguidores de uma ideia. Como Cruyff era seguidor de Ruiz, Guardiola de Cruyff e Vilanova de Guardiola.
O contrário implica moldar um clube à imagem do treinador, ou um treinador que não acredita na própria equipa. Têm de ser dadas as melhores condições possíveis para que um treinador trabalhe à vontade, sem que isto implique a perda de identidade do clube. E isto só se faz com a garantia de que o clube e o treinador pensam da mesma maneira.
Ora, e como é que se garante que um treinador pensa da mesma maneira que o clube? Não será, com certeza, através de uma pesca furiosa, que tem na avaliação muitos factores que a distraem do ponto certo: jogadores contrários à filosofia que o treinador adopta, pressões de direcção, crises financeiras... Tudo isto alterará o rendimento da equipa, e de uma forma que é em grande parte alheia ao treinador. Claro que o treinador pode fazer milagres, mas também pode ser que apenas os fizesse com quem partilhasse as suas ideias.
Não se percebe, então, porque é que, com os treinadores, não se faz o mesmo que com os jogadores - ensiná-los. Porque é que os treinadores das camadas jovens não têm uma escala projectada aquando do começo do contrato, porque é que não há espaço na equipa técnica para enquadrar os treinadores em formação e treinos comuns entre equipas jovens e seniores, que expressassem o pensamento benfiquista.
A alteração de escalões permite ver também qual é a reacção aos diferentes níveis de pressão, não só dos jogadores como dos treinadores. É claro que não é a mesma coisa treinar juniores ou seniores; mas tecnicamente, a partir dos escalões de juvenis, os processos já não são muito diferentes. Um treinador com competência técnica para os juvenis do Benfica tem de a ter também para os seniores. Um treinador de camadas jovens deve ser visto, assim, não só como um potencial treinador do Benfica, mas como um alvo privilegiado para treinar o Benfica, pelo conhecimento já adquirido da estrutura e das ideias do clube.
Os factores extra-técnicos, descobrem-se com a pressão e com a experiência sénior. E se a segunda equipa não é laboratório suficiente, o Benfica deveria manter relações privilegiadas com certos clubes que facilitassem a entrada dos treinadores no futebol profissional. Não se trata, de maneira nenhuma, de influências pouco honestas. Também a cedência de jogadores se pode fazer através de protocolos que podem ser honestos - o Benfica já teve relações protocolares com Alverca, Fátima, Granada, sem que isso tenha de ser desonesto.
No caso dos treinadores, trata-se de algo especial. Em primeiro lugar, estes não têm contrato com o Benfica, pelo que são livres de fazer o que quiserem a partir do momento em que deixam a luz. Mas o Benfica pode dar-lhe indicações da hipótese que têm de serem treinadores do Benfica: podem facilitar empréstimos por já haver conhecimento dos atletas treinados nas camadas jovens e, sobretudo, podem dar o exemplo.
O caso de Rui Vitória, se viesse a treinar o Benfica, seria sintomático daquilo que estou a dizer. Alguém que treinou as camadas inferiores do Benfica, que seguiu o seu caminho com apoio de alguns jovens que treinou no Benfica e que acabava a treinar o Benfica. Também aqui, a selecção qualitativa se faria naturalmente. Um treinador sem qualidade, chegado ao Fátima, não subiria para o Paços de Ferreira. E, seguindo o princípio de Peter, se não tivesse mais qualidade do que a necessária para chegar à capital do Móvel, por aí se quedaria, sem chegar a Guimarães. A subida na hierarquia faz-se sem ajuda do Benfica, é natural. Mas a partir do momento em que Rui Vitória chegou a Paços de Ferreira, deveria estar a sair outro treinador das camadas jovens benfiquistas para abraçar um projecto da segunda divisão, com possibilidade de calejar os processos até chegar ao Benfica. Também isto facilitaria a inserção dos jogadores no futebol profissional, por terem alguém que já os seguia de perto há alguns anos.
E, sobretudo, quem ganhava era o Benfica. Também os treinadores podem ter escola, também os treinadores podem ter treino. E não ficaria mal ao Benfica voltar ao seu lugar de pioneiro na descoberta de caminhos para a Vitória...
sexta-feira, 22 de junho de 2012
O manifesto do meu candidato
Há clubes de futebol e clubes desportivos. Para lá desses, há clubes de pessoas, que só depois são de desporto. São esses clubes - os que juntam guerrilheiros e magalas, os que alimentam almas a quem não pode alimentar o estômago, os que marcam golos com milhares de pés e não com uma única bota dourada que se tornam camisola oficial dos sonhos infantis. Quem cresce com os olhos na bola e com a bola no coração não gosta de promiscuidades: não gosta de ver taças a correr todo o arco-íris das camisolas existentes nem jogadores poliglotas: gosta da segurança de conhecer os seus, da constância do lar arrumado, do esforço do quotidiano duradouro. Quer ver jogadores constantes e títulos constantes, quer ver uma única cor em troféus e pessoas. Não lhe chamem poesia - é mais caro comprar do que manter, gasta-se mais nas compras do que se ganha nas vendas. Eles não querem ficar? Não querem porque lhes dão números, e esses crescem em todo o lado; quer em Inglaterra, quer em Espanha, quer nas contas dos "benfiquistas profissionais". Se lhes dermos história, respondem-nos com títulos; se lhes dermos, como demos ao Chalana, pão para a família, dão-nos golos para todos.
O Benfica quer jogadores da formação, e não por uma qualquer tara ´chauvinista dourada com rentabilizações económicas. O Benfica quer formação porque ser jogador do Benfica é diferente de ser jogador de futebol. E isso só se aprende com o Benfica. Com o verdadeiro Benfica, claro. Com o Benfica da resistência armada nos pés e dos pés nos olhos de milhões. Quem é extremo do Benfica, tem de saber que o adepto não o vê a ele na faixa, vê Chalana e Simões, Simão e Poborski. O central tem de saber que ao seu lado tem Veloso e Mozer e Ricardo. No Benfica, só quem não joga é que se torna jogador. Só quem percebe que não joga ele, mas o Benfica é que poderá ser lembrado. Perder a vida para ganhá-la, parece irónico mas é verdadeiro.
Hão-de vir daí títulos. Não destes, que rodam, quais meretrizes, meia europa. O Benfica sabe o que é que lhe pertence. Sabe que cada taça noutra vitrina é uma taça roubada, que não foi defendida com o carinho que merece. E é mesmo assim - os outros trabalham para ganhar títulos, nós trabalhamos para defendê-los, já são nossos. Não se trata de um aspecto acrescentado ao benfiquismo - não se pode ser benfiquista sem ser ciumento. Não se pode ser Benfiquista sem esta fúria na defesa do que é seu. Um Benfiquista não tem fome dos títulos - já são seus. Tem, isso sim, vontade de honrar o título, com quem já se comprometeu quando saiu da farmácia Franco. Por favor: não me deixem voltar a ouvir a expressão "defender o título" sem estar aplicada ao Benfica.
Claro que a casa se constrói a partir de cima. No Benfica não pode haver sonhos desviados: olhos nos jogos mas cabeça no dinheiro. Isso não! Lembram-se do que dizia, há uns anos, Andrade e Sousa ao ser despedido? Se na comunicação se dispensam criancices, na direcção é imprescindível o entusiasmo infantil de quem sonha com o que faz e faz o que sonha. Que me limpem a casa, devolvam-lhe a inabalável cor única e que os dirigentes vibrem como um adepto que além de ver também é visto, mais nada.
Há questões profissionais? Claro. Isto é suficiente? Não. Mas por favor, não me reduzam o Benfica a números. Não me reduzam o Benfica a equilíbrios de contas, quando não há nada de equilibrado neste meu entusiasmo doente. Não me reduzam o Benfica a equações, quando não há nenhuma igualdade entre o Benfica e os outros. Não me tragam nomes vendidos por milhões, quando há milhões sem nome que só querem títulos. Há de vir um texto mais técnico, mas como irmão pobre do que realmente interessa. Porque o Benfica não se aprende nas Universidades de Gestão nem com as Becas do desporto. Podem aprender economia, mas não economia do benfica; futebol, mas não futebol do Benfica. Que venham profissionais, mas daqueles que asseguram que ainda sentem nos dedos o cheiro da cola, de colar os cromos do benfica na caderneta. Daqueles que se safavam no teste de geografia porque sabiam onde tinha o benfica jogado a eliminatória anterior da liga dos campeões. Se me derem isto, dou-lhes o voto. Porque os melhores gestores, todos os têm. Mas os melhores benfiquistas, a esses, só os podemos ter nós. Que venha um presidente destes...
O Benfica quer jogadores da formação, e não por uma qualquer tara ´chauvinista dourada com rentabilizações económicas. O Benfica quer formação porque ser jogador do Benfica é diferente de ser jogador de futebol. E isso só se aprende com o Benfica. Com o verdadeiro Benfica, claro. Com o Benfica da resistência armada nos pés e dos pés nos olhos de milhões. Quem é extremo do Benfica, tem de saber que o adepto não o vê a ele na faixa, vê Chalana e Simões, Simão e Poborski. O central tem de saber que ao seu lado tem Veloso e Mozer e Ricardo. No Benfica, só quem não joga é que se torna jogador. Só quem percebe que não joga ele, mas o Benfica é que poderá ser lembrado. Perder a vida para ganhá-la, parece irónico mas é verdadeiro.
Hão-de vir daí títulos. Não destes, que rodam, quais meretrizes, meia europa. O Benfica sabe o que é que lhe pertence. Sabe que cada taça noutra vitrina é uma taça roubada, que não foi defendida com o carinho que merece. E é mesmo assim - os outros trabalham para ganhar títulos, nós trabalhamos para defendê-los, já são nossos. Não se trata de um aspecto acrescentado ao benfiquismo - não se pode ser benfiquista sem ser ciumento. Não se pode ser Benfiquista sem esta fúria na defesa do que é seu. Um Benfiquista não tem fome dos títulos - já são seus. Tem, isso sim, vontade de honrar o título, com quem já se comprometeu quando saiu da farmácia Franco. Por favor: não me deixem voltar a ouvir a expressão "defender o título" sem estar aplicada ao Benfica.
Claro que a casa se constrói a partir de cima. No Benfica não pode haver sonhos desviados: olhos nos jogos mas cabeça no dinheiro. Isso não! Lembram-se do que dizia, há uns anos, Andrade e Sousa ao ser despedido? Se na comunicação se dispensam criancices, na direcção é imprescindível o entusiasmo infantil de quem sonha com o que faz e faz o que sonha. Que me limpem a casa, devolvam-lhe a inabalável cor única e que os dirigentes vibrem como um adepto que além de ver também é visto, mais nada.
Há questões profissionais? Claro. Isto é suficiente? Não. Mas por favor, não me reduzam o Benfica a números. Não me reduzam o Benfica a equilíbrios de contas, quando não há nada de equilibrado neste meu entusiasmo doente. Não me reduzam o Benfica a equações, quando não há nenhuma igualdade entre o Benfica e os outros. Não me tragam nomes vendidos por milhões, quando há milhões sem nome que só querem títulos. Há de vir um texto mais técnico, mas como irmão pobre do que realmente interessa. Porque o Benfica não se aprende nas Universidades de Gestão nem com as Becas do desporto. Podem aprender economia, mas não economia do benfica; futebol, mas não futebol do Benfica. Que venham profissionais, mas daqueles que asseguram que ainda sentem nos dedos o cheiro da cola, de colar os cromos do benfica na caderneta. Daqueles que se safavam no teste de geografia porque sabiam onde tinha o benfica jogado a eliminatória anterior da liga dos campeões. Se me derem isto, dou-lhes o voto. Porque os melhores gestores, todos os têm. Mas os melhores benfiquistas, a esses, só os podemos ter nós. Que venha um presidente destes...
terça-feira, 22 de maio de 2012
Projectos de Continuidade
Talvez o Benfica tenha mesmo de ser um clube vendedor. Talvez tenham de sair uma ou duas pérolas por ano, sim. Da equipa do título de 2009/2010 saíram Quim, Coentrão, David Luiz, Dí Maria e Ramires, o que significa que em dois anos vendemos 5 dos habituais titulares. Talvez não seja motivo de orgulho, mas resignamo-nos à dureza da vida: há as vontades dos jogadores, deslumbrados por capitais Europeias e dinheiro a rodos, há as necessidades económicas do Benfica e o envelhecimento natural dos jogadores. Até aí, nada de estranho. Estranho, sim, é que o plantel tinha mais quinze jogadores, para lá dos habitualmente titulares, e desses só Miguel Vítor continua. Significa que, em dois anos, o plantel mudou dois terços. Não será assim tão estranho se tivermos em conta a realidade vendedora das equipas portuguesas, dir-me-ão: afinal, contra os nossos sete, Porto e Sporting só mantêm nove jogadores e, se excluírmos os grandes tubarões europrus, isto é uma realidade comum.
No entanto, isto está muito longe de ser verdade. Em primeiro lugar porque, caso se tratasse de necessidade de vender, vender-se-iam os jogadores. No entanto, da equipa de 2009/2010, há pelo menos treze que estão emprestados: Júlio César, Patric, Shaffer, Roderick, Sidnei, Airton, Rúben Amorim, Felipe Bastos, Carlos Martins, Urreta, Felipe Menezes, Kardec e Éder Luís.
Haveria a possibilidade, também, destes serem emprestados porque não têm ainda condições para jogar pelo Benfica e, portanto, precisam de empréstimos onde joguem. No entanto, para os lugares deles contratam-se Mika, Emerson, Garay, Jardel, Matic, Nuno Coelho, B. César, Nolito, Rodrigo, Mora, Melgarejo... Tudo jogadores com menos de 28 anos, que podem, portanto, jogar várias épocas ao serviço do Benfica e alguns deles ainda em formação. Ora, isto significa que, durante vários anos, estarão tapados uns pelos outros, rodando constantemente o plantel do Benfica.
Podemos, também, dizer que os jogadores foram contratados para espicaçar os titulares e que, passados uns tempos, se acomodaram ao banco, o que fez com que tivessem de vir novos jogadores: é frenquente ver isto com os guarda-redes - variam-se os segundos para refrescar a luta e para que o primeiro não adormeça. No entanto, isto faz sentido se o titular permanecer no clube anos suficientes para que os índices de motivação possam baixar. Ora, num clube vendedor, isso raramente acontece: os jogadores ficam no clube pouco tempo, pelo que o principal objectivo dos suplentes deveria ser diferente; Urreta fica no plantel para precaver a saída de Dí María, Sidnei fica no plantel para precaver a saída de David Luiz. Contratam-se jogadores jovens para que, quando são vendidas as pérolas, não tenha de se começar o trabalho de novo, com os processos de adaptação dos novos jogadores.
No Benfica, no entanto, trabalha-se de outra forma. Contrata-se Carole para precaver a saída de Coentrão. Mas, quando este sai, empresta-se Carole, para que vá por água abaixo a tentativa de minimizar os tempos de adaptação; contrata-se Júlio César para precaver a saída de Quim e, quando este sai, contrata-se um novo guarda-redes. Um jogador suplente no Benfica não tem qualquer perspectiva de ser titular: é preparado para a sucessão e, na hora da verdade, vai-se embora no pacote. É estranho que Enzo Perez se queira ir embora? Nenhum jogador cumpre contratos! Se é titular, é normal vender as estrelas. Se é suplente, nunca será aposta. Nenhum jogador é inserido aos poucos, como foi Ronaldo no United. Eles têm mais tempo? Pelo contrário, eles não vendem as estrelas, pelo que a afirmação de um jovem se torna muito mais difícil. Quando é que Wllbeck terá o lugar seguro, se Rooney está para ficar? No Benfica, se Witsel sai, nem Matic, nem Amorim, nem David Simão serão apostas. Virá outro, para que comece tudo do novo e para que a lenga-lenga do costume se oiça outra vez...
No entanto, isto está muito longe de ser verdade. Em primeiro lugar porque, caso se tratasse de necessidade de vender, vender-se-iam os jogadores. No entanto, da equipa de 2009/2010, há pelo menos treze que estão emprestados: Júlio César, Patric, Shaffer, Roderick, Sidnei, Airton, Rúben Amorim, Felipe Bastos, Carlos Martins, Urreta, Felipe Menezes, Kardec e Éder Luís.
Haveria a possibilidade, também, destes serem emprestados porque não têm ainda condições para jogar pelo Benfica e, portanto, precisam de empréstimos onde joguem. No entanto, para os lugares deles contratam-se Mika, Emerson, Garay, Jardel, Matic, Nuno Coelho, B. César, Nolito, Rodrigo, Mora, Melgarejo... Tudo jogadores com menos de 28 anos, que podem, portanto, jogar várias épocas ao serviço do Benfica e alguns deles ainda em formação. Ora, isto significa que, durante vários anos, estarão tapados uns pelos outros, rodando constantemente o plantel do Benfica.
Podemos, também, dizer que os jogadores foram contratados para espicaçar os titulares e que, passados uns tempos, se acomodaram ao banco, o que fez com que tivessem de vir novos jogadores: é frenquente ver isto com os guarda-redes - variam-se os segundos para refrescar a luta e para que o primeiro não adormeça. No entanto, isto faz sentido se o titular permanecer no clube anos suficientes para que os índices de motivação possam baixar. Ora, num clube vendedor, isso raramente acontece: os jogadores ficam no clube pouco tempo, pelo que o principal objectivo dos suplentes deveria ser diferente; Urreta fica no plantel para precaver a saída de Dí María, Sidnei fica no plantel para precaver a saída de David Luiz. Contratam-se jogadores jovens para que, quando são vendidas as pérolas, não tenha de se começar o trabalho de novo, com os processos de adaptação dos novos jogadores.
No Benfica, no entanto, trabalha-se de outra forma. Contrata-se Carole para precaver a saída de Coentrão. Mas, quando este sai, empresta-se Carole, para que vá por água abaixo a tentativa de minimizar os tempos de adaptação; contrata-se Júlio César para precaver a saída de Quim e, quando este sai, contrata-se um novo guarda-redes. Um jogador suplente no Benfica não tem qualquer perspectiva de ser titular: é preparado para a sucessão e, na hora da verdade, vai-se embora no pacote. É estranho que Enzo Perez se queira ir embora? Nenhum jogador cumpre contratos! Se é titular, é normal vender as estrelas. Se é suplente, nunca será aposta. Nenhum jogador é inserido aos poucos, como foi Ronaldo no United. Eles têm mais tempo? Pelo contrário, eles não vendem as estrelas, pelo que a afirmação de um jovem se torna muito mais difícil. Quando é que Wllbeck terá o lugar seguro, se Rooney está para ficar? No Benfica, se Witsel sai, nem Matic, nem Amorim, nem David Simão serão apostas. Virá outro, para que comece tudo do novo e para que a lenga-lenga do costume se oiça outra vez...
David Luiz ou Garay?
Um veio moço e saiu craque, outro veio craque e continua. Separados pela pátria, unidos por Luisão, escolhe a assembleia: David Luiz ou Garay?
Formar a formação II
Ser bom para os outros é bom para mim. Afirmo-o, e tenho um arsenal de nomes suficientemente pesados para me aquecerem as costas: Tocqueville defende-o quando explica a importância do cristianismo para a democracia, La Rochefoucauld chama-lhe uma forma avançada de amor sui e mesmo Nietzsche, no Anticristo, explica que esta vontade de ajudar os fracos é uma forma peculiar de superioridade.
No futebol de dribles e potência, velocidade e altura, no entanto, isto não é sempre assim. E isto talvez seja útil para um golo bonito, mas o futebol de valorização do outro, de equipa no verdadeiro sentido do termo, é válido mais vezes. É isso, portanto, que se deve procurar na formação: não o melhor jogador do mundo, mas sim o melhor jogador para fazer da equipa a melhor equipa do mundo.
Em primeiro lugar, há-que conceder todas as indulgências aos jogadores. Se têm apenas 10 minutos de oportunidade para mostrar o que valem, é natural que queiram ser exuberantes. Nunca culparei o Nélson Oliveira pela quantidade de vezes que se agarrou desnecessariamente à bola durante este ano - só me admira que não tenha pintado o cabelo de cor-de-rosa para der nas vistas, desse por onde desse. Isto, no entanto, só prejudica o Benfica. Desaproveitar talentos, mais do que prejudicar um rapazito com poucas perspectivas, prejudica o clube. Este, portanto, deve fazer os possíveis por aproveitar o talento. Não interessa se o rapaz é um anormal, birrento, egoísta ou mimado: casos como o de Fábio Paim não devem acontecer, porque quem fica mais prejudicado é o clube, que perde um potencial activo importante.
Este não é, portanto, um texto técnico. Apenas pretender mostrar que o modelar da personalidade tem reflexos competitivos. Isto é: se um jogador é egoísta fora de campo, por que razão não o será dentro de campo? Se perde a cabeça com facilidade, como é que vai ter frieza num momento competitivo importante? Da mesma maneira que a escola é importante para o desenvolvimento de uma inteligência que terá reflexos naturais dentro do campo, a formação do carácter não será diferente. O que impressionava em Guardiola não era apenas uma forma de jogar à bola. Nós víamos aqueles passes milimétricos e sabíamos o cuidado com que pediria a mulher em casamento. Um jogo de Guardiola era uma descrição psicológica da sua vida, e isto é mais comum do que parece. É claro que, depois, temos Maradona, o homem que deve ser admirado em tudo e imitado em nada, mas mesmo neste vemos um futebol em bruto a crescer pari passu com a sua vida. A tese fundamental, portanto, é esta: de um rapaz generoso podemos esperar mais facilmente uma atenção para os movimentos dos companheiros de equipa, como podemos esperar um jogo mais inteligente de alguém que é, de facto, mais inteligente: o futebol não muda aquelas que são características humanas e não técnicas.
E, a partir do momento em que o carácter é formado, não faz sentido perder a rentabilidade de um jogador sénior em correcções educativas, da mesma forma que é um desperdício ter de corrigir posicionamentos tácticos a jogadores tecnicamente dotados. Esta formação dá-se, portanto, na altura prática. Os castigos duros, as ausências de convocatórias, as correcções educativas dão-se no devido lugar: na formação. A ânsia de títulos jovens, no entanto, parece torcer este olhar a ponto de, chegados a séniores, os jogadores não terem estas noções. Para um jogador ser um sénior mal comportado, foi um júnior mal educado. E é esta a vantagem da formação: saber com que é que contamos à partida e a tempo de o corrigir. Se há casos desses no futebol sénior? Haverá, mas não deve ser com os nossos. Enzo Perez quer sair? Haja dureza, para que o Miguel Herlein e o Diego Lopes aprendam. O que não pode é ser o Manuel Fernandes a fazer birra, quando o tivemos tanto tempo nas mãos para o moldar.
Há, obviamente, jogadores mais problemáticos e quase incorrigíveis. Mas, também nesses casos, perde o Benfica por não os aproveitar: Gascoigne teve boas épocas, Futre teve boas épocas, Ronaldinho teve boas épocas. Não poderá também o Sidnei ter? Rédea curta quando anda por cá, acompanhamento constante (para que serve, afinal, o gabinete de inteligência desportiva?), definição de objectivos a superar e cuidado especial com os empréstimos. É mais útil um empréstimo ao Fátima, clube de cidade pequena, do que ao Estoril onde a noite é tão atractiva.
Claro que os bad-boys não são os únicos casos de desaproveitamento de talentos, e talvez nem sejam os mais prementes. Importante, no entanto, é perceber que o Benfica tem obrigação máxima de explorar os seus activos. Quer eles estraguem os joelhos por desleixo, quer se portem mal, quer sejam demasiado tímidos para expôr à partida todo o futebol. Se há talento, que se aproveite. E, de preferência, desde pequeno, porque a personalidade também molda o talento.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Cardozo ou Van Hooijdonk?
A esperança dos tempos negros ou a besta negra dos tempos de esperança? É escolher, a Assembleia é que sabe...
Formar a formação I
Descartes, pensador, pensava o pensar. A assembleia, blogue ainda a formar-se, quer formar a formação. Se havia traços de soberba em pretender ensinar alguma coisa a quem tem competências para treinar equipas jovens, estes estão ainda mais vincados ao compararmo-nos a um dos grandes pensadores da história. Na esperança que o desplante maior disfarce o menor, arrancamos:
Não se pretende, pelo menos por agora, especificar competências técnicas, modos de treinar ou ideologias desportivas. Haverá lugar para isso noutro texto que visará o desenvolvimento do jovem em si. Aquilo que se pretende, por agora, é apenas explicar aquilo que deve ser uma estrutura do futebol de formação.
Diz-se, e é em parte verdadeiro, que o futebol de formação do Benfica melhorou. As equipas estão mais competitivas, há mais jogadores nas selecções e uma geração com possibilidades de ter alguns representantes na primeira equipa do Benfica. No entanto, a ideia de base é, de certa forma, estranha. Fala-se, e podemos vê-lo na apresentação oficial da formação do Benfica, de vários tipos de desenvolvimento, da escola de humanidade que o benfica é, de protocolos académicos e de todo o tipo de minúcia desportiva científica, sem que haja uma referência - salvo na apresentação da geração benfica - à tentativa de formar jogadores para o benfica. Este é o primeiro ponto que deve ser tido em conta: que o objectivo de um jovem da formação tem de ser jogar pelo Benfica. Não se trata de ser jogador do Chelsea ou do Real Madrid, nem sequer de ser jogador de futebol, mas sim de ser jogador do Benfica. Kierkegaard falava da importância do exemplo como uma possibilidade que é aberta para a minha própria vida: este é talvez o pelouro em que tem mais importância a presença de verdadeiros Benfiquistas, que mostrem o que é ter dedicação ao clube, que é possível ambicionar um coração cheio e não um bolso cheio; lembro-me de ver uma entrevista a Oriol Romeo em que, no jornal do Barça, lhe perguntavam se estava muito triste com o seu falhanço desportivo. Romeo tinha acabado de passar de uma equipa B para o Chelsea: mas não jogava no Barcelona, que é o que realmente interessa. Esta mentalidade deveria estar presente no Benfica: os miúdos devem querer, mais do que ser futebolistas, ser jogadores do Benfica. Claro que isto só é possível enquanto a possibilidade se afigurar real - se ninguém chega, da formação, a jogador importante do Benfica, não é possível cultivar-se esta mentalidade. Este problema é notório nos jogadores vindos da nossa formação: Manuel Fernandes, mal começou a ganhar importância, quis fugir; David Simão falava em afirmar-se na liga porque a história recente mostrava a dificuldade em afirmar-se no Benfica; os jogadores têm de ver a possibilidade de serem jogadores do Benfica como real, sob perigo de se desmotivarem.
Há, no entanto, outro ponto importante. Se é verdade que eles devem querer o Benfica, também é verdade que o Benfica os deve querer a eles. Não pretendo, de maneira nenhuma, ter jogadores no plantel principal por favor. O atleta só deve integrar a equipa se tiver condições para isso. Não precisamos de ter o Romeu Ribeiro e o Hélio Roque na equipa para mostrar que temos formação: a formação é que tem de ser boa e lançar bons jogadores. O que está em causa aqui, portanto, são estratégias para rentabilizar a formação.
Em primeiro lugar, há um factor essencial, referido na apresentação da Geração Benfica e esquecido (erradamente) nas etapas finais: a compreensão do jogo. É engraçado que o fracasso do Barcelona nesta época veio plantar novos catedráticos que davam o exemplo dos catalães como a prova da imprevisibilidade do futebol e de que não há modelos certos. É, no entanto, nesta permissa que assenta o futebol do Barcelona: a percepção de que o jogo tem factores imprevisíveis que não são controlados por características físicas mas pela capacidade de reacção a estes fenómenos imprevisíveis, isto é: a inteligência. E a inteligência não se forma apenas no campo: quem sabe interpretar bem um texto também tem uma melhor capacidade interpretativa do jogo, a inteligência não se esvai. A aposta no sucesso escolar deve portanto ser séria, não apenas para um louvor da correcção cívica, mas porque desenvolve a própria inteligência desportiva. Claro que, a partir daí, os treinos também devem ser feitos para o desenvolvimento da característica mais importante do jogador, a sua inteligência; mas, num jogador inteligente, as probabilidades de ter sucesso desportivo são logo maiores: a capacidade de interpretação do seu próprio jogo, de forma a evoluir e a capacidade de adaptação a uma nova equipa são sempre maiores.
A própria estrutura deve, também, estar montada para facilitar a entrada dos jogadores na equipa principal. Certos treinadores defendem o uso do 4x3x3 em todas as etapas de formação porque desenvolve mais os jogadores; parece-me, no entanto, mais lógico, para quem quer formar jogadores do Benfica e não quaisquer jogadores, adaptar o modelo, nas etapas mais avançadas, ao modelo da equipa sénior. Há certos métodos de integração, já usados, por exemplo no Barcelona ou no Inter, úteis para isto mesmo: a semelhança nos treinos entre seniores, juniores e juvenis é um exemplo disto mesmo.
O atleta jovem precisa, além do mais, de jogar. Pelo que os plantéis devem ser curtos, a ponto de promover, por vezes, adaptações posicionais que alarguem a capacidade de compreensão do jogo. Há o risco de perder jogadores importantes? Talvez, mas o risco esbate-se no caso de abrirmos as tais filiais formativas de que falávamos. O centramento homogeniza o treino, sim; mas há, hoje em dia, suficientes meios de comunicação para que haja uma compreensão alargada do que se faz em cada pólo; isto evita também encargos excessivos com os jogadores que têm de vir morar para o Seixal e que ficam órfãos de uma estrutura familiar equilibrada e constante, que permita um maior acompanhamento do miúdo. Evita também excessos de pressão precoces, de pais que acham que, a partir do momento em que o filho vem para Lisboa, será uma superestrela futebolística. Não há qualquer razão para não estender a formação a várias regiões, até porque há viabilidade financeira, como foi explicado no texto anterior. Podíamos, mesmo, abrir filiais no Brasil e nas ex-colónias, para facilitar a integração no futebol europeu, e onde a perspectiva de um salto para o futebol europeu mais iminente daria acesso privilegiado a certas promessas.
Por fim, seria importante uma integração sutentada dos júniores no futebol sénior. Encarar aqueles que integram a equipa principal como verdadeiros reforços, fazer uma gestão equilibrada da segunda equipa e escalonar os empréstimos por jogadores com capacidade imediata para actuar na primeira, segunda ou terceira ligas, de modo a fazerem sempre um percurso ascendente. Jogadores com Sancidino Silva, neste ano que aí vem, ou Diego Lopes, no ano que passou deveriam ter sido, desde logo, integrados numa equipa de futebol profissional.
Sobre a integração dos jovens, em si, e sobre o aproveitamento dos talentos, haverá um texto para breve. Por agora, "respeitemos a noite"
Não se pretende, pelo menos por agora, especificar competências técnicas, modos de treinar ou ideologias desportivas. Haverá lugar para isso noutro texto que visará o desenvolvimento do jovem em si. Aquilo que se pretende, por agora, é apenas explicar aquilo que deve ser uma estrutura do futebol de formação.
Diz-se, e é em parte verdadeiro, que o futebol de formação do Benfica melhorou. As equipas estão mais competitivas, há mais jogadores nas selecções e uma geração com possibilidades de ter alguns representantes na primeira equipa do Benfica. No entanto, a ideia de base é, de certa forma, estranha. Fala-se, e podemos vê-lo na apresentação oficial da formação do Benfica, de vários tipos de desenvolvimento, da escola de humanidade que o benfica é, de protocolos académicos e de todo o tipo de minúcia desportiva científica, sem que haja uma referência - salvo na apresentação da geração benfica - à tentativa de formar jogadores para o benfica. Este é o primeiro ponto que deve ser tido em conta: que o objectivo de um jovem da formação tem de ser jogar pelo Benfica. Não se trata de ser jogador do Chelsea ou do Real Madrid, nem sequer de ser jogador de futebol, mas sim de ser jogador do Benfica. Kierkegaard falava da importância do exemplo como uma possibilidade que é aberta para a minha própria vida: este é talvez o pelouro em que tem mais importância a presença de verdadeiros Benfiquistas, que mostrem o que é ter dedicação ao clube, que é possível ambicionar um coração cheio e não um bolso cheio; lembro-me de ver uma entrevista a Oriol Romeo em que, no jornal do Barça, lhe perguntavam se estava muito triste com o seu falhanço desportivo. Romeo tinha acabado de passar de uma equipa B para o Chelsea: mas não jogava no Barcelona, que é o que realmente interessa. Esta mentalidade deveria estar presente no Benfica: os miúdos devem querer, mais do que ser futebolistas, ser jogadores do Benfica. Claro que isto só é possível enquanto a possibilidade se afigurar real - se ninguém chega, da formação, a jogador importante do Benfica, não é possível cultivar-se esta mentalidade. Este problema é notório nos jogadores vindos da nossa formação: Manuel Fernandes, mal começou a ganhar importância, quis fugir; David Simão falava em afirmar-se na liga porque a história recente mostrava a dificuldade em afirmar-se no Benfica; os jogadores têm de ver a possibilidade de serem jogadores do Benfica como real, sob perigo de se desmotivarem.
Há, no entanto, outro ponto importante. Se é verdade que eles devem querer o Benfica, também é verdade que o Benfica os deve querer a eles. Não pretendo, de maneira nenhuma, ter jogadores no plantel principal por favor. O atleta só deve integrar a equipa se tiver condições para isso. Não precisamos de ter o Romeu Ribeiro e o Hélio Roque na equipa para mostrar que temos formação: a formação é que tem de ser boa e lançar bons jogadores. O que está em causa aqui, portanto, são estratégias para rentabilizar a formação.
Em primeiro lugar, há um factor essencial, referido na apresentação da Geração Benfica e esquecido (erradamente) nas etapas finais: a compreensão do jogo. É engraçado que o fracasso do Barcelona nesta época veio plantar novos catedráticos que davam o exemplo dos catalães como a prova da imprevisibilidade do futebol e de que não há modelos certos. É, no entanto, nesta permissa que assenta o futebol do Barcelona: a percepção de que o jogo tem factores imprevisíveis que não são controlados por características físicas mas pela capacidade de reacção a estes fenómenos imprevisíveis, isto é: a inteligência. E a inteligência não se forma apenas no campo: quem sabe interpretar bem um texto também tem uma melhor capacidade interpretativa do jogo, a inteligência não se esvai. A aposta no sucesso escolar deve portanto ser séria, não apenas para um louvor da correcção cívica, mas porque desenvolve a própria inteligência desportiva. Claro que, a partir daí, os treinos também devem ser feitos para o desenvolvimento da característica mais importante do jogador, a sua inteligência; mas, num jogador inteligente, as probabilidades de ter sucesso desportivo são logo maiores: a capacidade de interpretação do seu próprio jogo, de forma a evoluir e a capacidade de adaptação a uma nova equipa são sempre maiores.
A própria estrutura deve, também, estar montada para facilitar a entrada dos jogadores na equipa principal. Certos treinadores defendem o uso do 4x3x3 em todas as etapas de formação porque desenvolve mais os jogadores; parece-me, no entanto, mais lógico, para quem quer formar jogadores do Benfica e não quaisquer jogadores, adaptar o modelo, nas etapas mais avançadas, ao modelo da equipa sénior. Há certos métodos de integração, já usados, por exemplo no Barcelona ou no Inter, úteis para isto mesmo: a semelhança nos treinos entre seniores, juniores e juvenis é um exemplo disto mesmo.
O atleta jovem precisa, além do mais, de jogar. Pelo que os plantéis devem ser curtos, a ponto de promover, por vezes, adaptações posicionais que alarguem a capacidade de compreensão do jogo. Há o risco de perder jogadores importantes? Talvez, mas o risco esbate-se no caso de abrirmos as tais filiais formativas de que falávamos. O centramento homogeniza o treino, sim; mas há, hoje em dia, suficientes meios de comunicação para que haja uma compreensão alargada do que se faz em cada pólo; isto evita também encargos excessivos com os jogadores que têm de vir morar para o Seixal e que ficam órfãos de uma estrutura familiar equilibrada e constante, que permita um maior acompanhamento do miúdo. Evita também excessos de pressão precoces, de pais que acham que, a partir do momento em que o filho vem para Lisboa, será uma superestrela futebolística. Não há qualquer razão para não estender a formação a várias regiões, até porque há viabilidade financeira, como foi explicado no texto anterior. Podíamos, mesmo, abrir filiais no Brasil e nas ex-colónias, para facilitar a integração no futebol europeu, e onde a perspectiva de um salto para o futebol europeu mais iminente daria acesso privilegiado a certas promessas.
Por fim, seria importante uma integração sutentada dos júniores no futebol sénior. Encarar aqueles que integram a equipa principal como verdadeiros reforços, fazer uma gestão equilibrada da segunda equipa e escalonar os empréstimos por jogadores com capacidade imediata para actuar na primeira, segunda ou terceira ligas, de modo a fazerem sempre um percurso ascendente. Jogadores com Sancidino Silva, neste ano que aí vem, ou Diego Lopes, no ano que passou deveriam ter sido, desde logo, integrados numa equipa de futebol profissional.
Sobre a integração dos jovens, em si, e sobre o aproveitamento dos talentos, haverá um texto para breve. Por agora, "respeitemos a noite"
domingo, 20 de maio de 2012
Nuno Gomes ou Simão?
Modo assembleia: decisões polémicas, barulho e roquidão, fúria e amor fraterno. Dois capitães, dois dos nossos, é só escolher: Nuno Gomes ou Simão?
Sobre modalidades (d)e economia
Que a doutrina é propícia a divisões, já todos o sabemos: é o que acontece nos assuntos importantes. Platão e as formas ideais, Aristóteles e as formas terrenas, Agostinho e S. Tomás, Beatles e Stones e Nuno Gomes ou Simão. Formam-se exércitos de argumentos afiados e línguas preparadas, onde não se admitem meias coisas. Já diz o Apocalipse - para adoçar o sabor épico da guerra - que, aos mornos, vomitá-los-à da sua boca.
O peso das modalidades, portanto, não foge à regra. Há quem defenda a pluralidade, um clube de desporto e não de futebol, e um Benfica à laia de diamante: sempre o mesmo mas com várias faces. Outros, porém, falam de prémios de consolação, da inviabilidade económica e de distracções em relação ao essencial.
Os argumentos estão bem fundamentados: vai-se ao complexo mundo positivo da estatística, revelam-se bastiões históricos importantes e projectam-se futuros com uma única coisa em comum: a garantia de sucesso no caso de se enveredar por aquela via.
Não abona certamente a meu favor, mas tenho uma certa queda louvaminheira, uma jesuítica veia conciliatória que me dá o epíteto do tal "morno" que não escapará ao Apocalipse. Qual criança, que quer o bolo e o chocolate, também eu quero o futebol e as modalidades. Não que eu seja economista de beca e galões dourados, mas parece-me, até economicamente, o mais viável. Vejamos:
O problema da aposta nas modalidades é sempre o mesmo: o parco rendimento que dão pode minar o futebol, por lhe gastar dinheiro excessivo. Trata-se de uma espécie de parasita que impede o crescimento do futebol por lhe sorver o dinheiro. Claro que, se acharmos que as dívidas "não são para pagar, apenas para gerir", isto não é um problema. Mas no meu Benfica só cabem gentis-homens, que honram os seus compromissos e portanto pagam dívidas. Claro que, se acharmos que o futebol já cresceu quanto baste, isto não é problema. Mas a minha loucura Napoleónica acha que o Benfica deve competir com os grandes clubes da europa em tudo, sem precisar de "encaixar 30 milhões por ano" - o que é um eufemismo para a venda de jogadores-chave -, apesar da liga em que joga (que não é assim tão má, nem a liga que contratou Eto'o assim tão boa).
Há, de facto, modalidades que só muito a custo serão rentáveis financeiramente. Como é que o râguebi, desporto amador e de pouca monta em Portugal, pode ser rentável? Modalidades como esta são, à partida, um sorvedouro de dinheiro, que retira poder de nível europeu ao futebol.
Por outro lado, o peso histórico de modalidades como o ciclismo ou o atletismo na nossa história impedem-nos de encarar como menos do que uma facada nas costas de Cosme Damião o descurar de uma modalidade.
Só parece, portanto, haver dois modos de encarar a questão: ou investimos mais no futebol para que, a prazo, haja retorno que permita investir nas modalidades - o que implica um prejuízo imediato destas; ou se investe imediatamente nas modalidades para que, a prazo, se tornem auto-sustentáveis, com o perigo de um prejuízo imediato do futebol. Ora, qualquer das situações - enquanto interrupção momentânea do fervor do investimento - pode significar uma passagem dos próximos anos a correr atrás da cauda dos adversários, à laia de Arsenal.
Há, no entanto, maneira de investir ao mesmo tempo nos pares e nos impares, sem que a roleta nos seja desfavorável? Talvez haja, implicando a hipoteca do movimento da nossa caixa-forte, do nosso ex libris desportivo, do nosso eixo desportivo Seixal-Luz.
Se há ponto em que a actual direcção, juntamente com a anterior, teve um papel importante, foi na restruturação financeira. Não discutirei equilíbrios de contas nem a inflamação dos benefícios apregoados. Interessa, isso sim, que foi reposta uma credibilidade que tem de ser óbvia no Benfica: que um clube com tantos adeptos é o mais apetecível dos alvos comerciais. O Benfica tem dezenas, centenas, milhares (nunca fui homem dos números) de parceiros comerciais à espera de negócios que não se fecham pela incapacidade do Benfica em dar vazão a tantos pedidos. É compreensível, não há espaço, não há tempo para dar aos interessados a visibilidade pretendida. Ora, isto provém de um centramento do Benfica - até certo ponto compreensível - numa região muito específica. Teve-se, durante vários anos, filiais espalhadas pelo país. Se é compreensível que um desejo de facilitar a comunicação, de controlar os factores de variação, tenha levado a um centramento do benfica, também há um prejuízo financeiro motivado pela incapacidade de corresponder às necessidades dos potenciais investidores. Isto é: da mesma maneira que uma livraria pode mostrar mais livros se tiver mais espaço, também um clube tem mais expositores se tiver mais actividade. Há público que assiste a futsal? Há. Poderia haver mais? Poderia: há adeptos que vivem no Porto e que, com certeza, não têm disponibilidade para vir até ao Seixal ou à Luz assistir aos jogos das modalidades.
Claro que o Benfica não pode enfraquecer as suas equipas principais e, para isso, é bom que haja um certo centramento. Mas um pavilhão desportivo virado para a formação no Porto seria, com certeza, além de mais um espaço de exposição para investidores, um bastião benfiquista em território potencialmente adverso. Noutro texto, discutirei as vantagens pedagógicas de uma desregionalização da formação. Interessa-me, no entanto, por agora, explicar que há, no Benfica, capacidade para que um investimento destes seja auto-sustentável. Não há capacidade, isso não, para investir mais no mesmo sítio: não há público e não há montras suficientes.
O Seixal, obviamente, tem vantagens, e deve ser o único pólo sénior de qualquer desporto, e mesmo dos últimos anos da formação. Mas estes, normalmente, não são os factores economicamente problemáticos. Esses podem ser resolvidos com apoios, que podem existir desde que o Benfica também alargue a sua disponibilidade.
O peso das modalidades, portanto, não foge à regra. Há quem defenda a pluralidade, um clube de desporto e não de futebol, e um Benfica à laia de diamante: sempre o mesmo mas com várias faces. Outros, porém, falam de prémios de consolação, da inviabilidade económica e de distracções em relação ao essencial.
Os argumentos estão bem fundamentados: vai-se ao complexo mundo positivo da estatística, revelam-se bastiões históricos importantes e projectam-se futuros com uma única coisa em comum: a garantia de sucesso no caso de se enveredar por aquela via.
Não abona certamente a meu favor, mas tenho uma certa queda louvaminheira, uma jesuítica veia conciliatória que me dá o epíteto do tal "morno" que não escapará ao Apocalipse. Qual criança, que quer o bolo e o chocolate, também eu quero o futebol e as modalidades. Não que eu seja economista de beca e galões dourados, mas parece-me, até economicamente, o mais viável. Vejamos:
O problema da aposta nas modalidades é sempre o mesmo: o parco rendimento que dão pode minar o futebol, por lhe gastar dinheiro excessivo. Trata-se de uma espécie de parasita que impede o crescimento do futebol por lhe sorver o dinheiro. Claro que, se acharmos que as dívidas "não são para pagar, apenas para gerir", isto não é um problema. Mas no meu Benfica só cabem gentis-homens, que honram os seus compromissos e portanto pagam dívidas. Claro que, se acharmos que o futebol já cresceu quanto baste, isto não é problema. Mas a minha loucura Napoleónica acha que o Benfica deve competir com os grandes clubes da europa em tudo, sem precisar de "encaixar 30 milhões por ano" - o que é um eufemismo para a venda de jogadores-chave -, apesar da liga em que joga (que não é assim tão má, nem a liga que contratou Eto'o assim tão boa).
Há, de facto, modalidades que só muito a custo serão rentáveis financeiramente. Como é que o râguebi, desporto amador e de pouca monta em Portugal, pode ser rentável? Modalidades como esta são, à partida, um sorvedouro de dinheiro, que retira poder de nível europeu ao futebol.
Por outro lado, o peso histórico de modalidades como o ciclismo ou o atletismo na nossa história impedem-nos de encarar como menos do que uma facada nas costas de Cosme Damião o descurar de uma modalidade.
Só parece, portanto, haver dois modos de encarar a questão: ou investimos mais no futebol para que, a prazo, haja retorno que permita investir nas modalidades - o que implica um prejuízo imediato destas; ou se investe imediatamente nas modalidades para que, a prazo, se tornem auto-sustentáveis, com o perigo de um prejuízo imediato do futebol. Ora, qualquer das situações - enquanto interrupção momentânea do fervor do investimento - pode significar uma passagem dos próximos anos a correr atrás da cauda dos adversários, à laia de Arsenal.
Há, no entanto, maneira de investir ao mesmo tempo nos pares e nos impares, sem que a roleta nos seja desfavorável? Talvez haja, implicando a hipoteca do movimento da nossa caixa-forte, do nosso ex libris desportivo, do nosso eixo desportivo Seixal-Luz.
Se há ponto em que a actual direcção, juntamente com a anterior, teve um papel importante, foi na restruturação financeira. Não discutirei equilíbrios de contas nem a inflamação dos benefícios apregoados. Interessa, isso sim, que foi reposta uma credibilidade que tem de ser óbvia no Benfica: que um clube com tantos adeptos é o mais apetecível dos alvos comerciais. O Benfica tem dezenas, centenas, milhares (nunca fui homem dos números) de parceiros comerciais à espera de negócios que não se fecham pela incapacidade do Benfica em dar vazão a tantos pedidos. É compreensível, não há espaço, não há tempo para dar aos interessados a visibilidade pretendida. Ora, isto provém de um centramento do Benfica - até certo ponto compreensível - numa região muito específica. Teve-se, durante vários anos, filiais espalhadas pelo país. Se é compreensível que um desejo de facilitar a comunicação, de controlar os factores de variação, tenha levado a um centramento do benfica, também há um prejuízo financeiro motivado pela incapacidade de corresponder às necessidades dos potenciais investidores. Isto é: da mesma maneira que uma livraria pode mostrar mais livros se tiver mais espaço, também um clube tem mais expositores se tiver mais actividade. Há público que assiste a futsal? Há. Poderia haver mais? Poderia: há adeptos que vivem no Porto e que, com certeza, não têm disponibilidade para vir até ao Seixal ou à Luz assistir aos jogos das modalidades.
Claro que o Benfica não pode enfraquecer as suas equipas principais e, para isso, é bom que haja um certo centramento. Mas um pavilhão desportivo virado para a formação no Porto seria, com certeza, além de mais um espaço de exposição para investidores, um bastião benfiquista em território potencialmente adverso. Noutro texto, discutirei as vantagens pedagógicas de uma desregionalização da formação. Interessa-me, no entanto, por agora, explicar que há, no Benfica, capacidade para que um investimento destes seja auto-sustentável. Não há capacidade, isso não, para investir mais no mesmo sítio: não há público e não há montras suficientes.
O Seixal, obviamente, tem vantagens, e deve ser o único pólo sénior de qualquer desporto, e mesmo dos últimos anos da formação. Mas estes, normalmente, não são os factores economicamente problemáticos. Esses podem ser resolvidos com apoios, que podem existir desde que o Benfica também alargue a sua disponibilidade.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Sobre segundas categorias
Em primeiro lugar, dava-lhe este nome, mais condizente com a história do SLB. Vários dos nossos notáveis fundadores jogaram nas segundas categorias do Benfica, pelo que um cheiro histórico sobre a novidade não ficava mal e distanciava da amostra engasgada de há uns anos. Tratado já o problema estético e pouco relevante, passemos ao importante.
Uma equipa B, ou uma equipa de segunda categoria, agrada tanto ao povo como leva credores a franzir o sobrolho. Se é verdade que pode deixar empresários a salivar com a perspectiva de movimentações constantes de brasileiros com expectativas goradas e de trintões com mais salário do que pernas, também pode ser um saudável laboratório de jogadores, que apura talentos em ebulição e lapida jovens com futebol nos pés mas falta dele na cabeça. Isto depende, na verdade, mais do que dos jogadores em questão ou do campeonato em que jogam, depende da própria concepção ideológica associada às segundas categorias.
Aventou-se, durante muito tempo, a impossibilidade de jogar na II divisão como desculpa para o fracasso do primeiro ensaio deste projecto. No entanto, a Castilla madrilena está agora a disputar o acesso à equivalente espanhola e não vejo, no Brasil, mesmo em piores condições, razões para um queixume sobre segundas categorias. E, mesmo que só agora o Real comece a ser um exemplo no modo de aproveitamento da sua cantera, nunca houve dúvidas sobre a utilidade desta independentemente da divisão em que jogasse.
É claro que a possibilidade de jogar na segunda divisão facilita contratações que passem, numa primeira fase, pela segunda categoria. No entanto, mesmo isto pode vir armadilhado, ao permitir a entrada de contentores de jogadores desnecessários.
O que está, acima de tudo, em causa é um modelo de segunda categoria como próxima da equipa principal; um modelo em que as chamadas promessas são preparadas para poderem um dia integrar a equipa principal. E se isto, por agora, parece um exercício de idealismo vago, já veremos que tem implicações práticas sérias.
Em primeiro lugar, vemos que a solução é importante, não só a longo prazo mas imediatamente. É já um costume velho estragar promessas novas com a sua integração no plantel. Rúben Pinto, pretendido há uns anos pelo Arsenal, esteve parado um ano sem jogar, o que constitui um perigo para a sua evolução. Por outro lado, como Rui Costa dizia numa entrevista, é, por vezes, mais importante treinar e aprender diariamente com Saviola, Aimar e Rui Costa do que jogar regularmente no Belenenses como fez Miguel Rosa ou Kanú. Há maneira de, ao mesmo tempo, um jogador aprender diariamente com os melhores e jogar regularmente? Sim. Jogando nas segundas categorias. A treinar lado a lado com Aimar e a jogar no fim-de-semana, sem o perigo da pressão excessiva. Isto implica que os lugares tipicamente ocupados pelas nossas promessas, como o de terceiro guarda-redes, quarto central, enésimo médio e extremo descartável sejam ocupados por novas contratações? Não, implica que o terceiro guarda-redes ou o quarto central sejam os titulares da segunda equipa. Para quê ter um quarto-central, que joga em média cinco jogos por época, se podemos ter três centrais e um quarto a jogar semanalmente, para o caso de ser preciso. Claro que isto implica ter uma segunda equipa inteiramente subordinada ao modelo de jogo da primeira, mas isto parece-me óbvio se o objectivo principal for o de formar jogadores para a primeira equipa.
Podem dizer-me que uma equipa que joga em várias frentes precisa de ter um plantel longo. No entanto, para que serve ter um plantel longo se os jogadores pouco rotinados, por estarem pouco rotinados, acabam por não contar? Que diferença há entre ter um plantel com 25 jogadores em que cinco deles não jogam - como aconteceu com Mika, Luís Martins, David Simão, Rúben Pinto e Mora, e só não com Miguel Vítor porque houve um momento de indefinição quanto ao terceiro central - e ter um plantel com 20 jogadores que são realmente alternativas e estão em igualdade de circunstâncias, que jogam regularmente, com mais 20 rotinados para uma eventual urgência?
É mais rentável ter dois plantéis curtos mas com certa maleabilidade entre eles do que um plantel longo em que há jogadores que estão num patamar inferior - como é legítimo que estejam dada a sua inexperiência - e que por isso perdem um ano sem experiência de jogo.
Ora, isto também comporta certas exigências no modo de constituição das segundas categorias. A existência de uma segunda equipa não implica uma extinção total dos empréstimos: o período de manutenção de um jogador numa segunda categoria tem de ser curto e de integração progressiva na primeira equipa. Seria ideal que, a cada jogador vendido, um jogador da segunda categoria da mesma posição pudesse subir para ocupar o lugar de suplente, enquanto o suplente se afirmaria como titular. Isto, no entanto, é bastante pouco provável. Mas, se um jogador, em três anos na segunda equipa, não se consegue afirmar como alternativa credível para uma primeira, deve ser emprestado ou vendido. Ora, isto tem implicações no modo de composição dos dois plantéis. Lembro-me de ver uma entrevista de Carlos Freitas em que este justificava a compra de um central velho com a esperança que depositavam em Daniel Carriço, miúdo que, uns anos depois, deveria estar na equipa principal. E isto é compreensível: há a moda de não querer comprar senão jovens pelo futebol português. No entanto, isto não é tão simples assim. A compra de um avançado com grande margem de progressão para substituir Cardozo seria, hoje, um erro porque taparia a evolução de Rodrigo e Nélson Oliveira. Se não há a certeza da sua rentabilidade imediata, deve ser contratado alguém com um rendimento óptimo durante um, no máximo dois, anos, sob perigo de desvalorizar activos jovens e prestes a explodir. Na contratação de alguém para a equipa principal deve ser tida em conta a capacidade de explosão dos atletas da segunda equipa na posição respectiva. É um risco? Terá, talvez, um certo risco, mas, na idade destes atletas, pouco. Claro que há falhanços, mas são, geralmente, motivados pela falta de jogo. Sem aposta, claro que não evoluirão. Com uma aposta controlada, há esperança, até porque, como diz Wenger, a partir dos 18 anos já temos uma ideia aproximada do potencial completo, quer técnico quer mental, do jogador.
A segunda equipa deve, portanto, ser sempre vista como um laborátorio prestes a servir a equipa principal. Não como um alívio fácil para os jogadores em excesso, nem como um abrigo de ex-júniores sem critério. A segunda equipa deve ser o posto onde estão apenas as alternativas credíveis. Não seria razoável contar com atletas como Diogo Caramelo na equipa, simplesmente por serem ex-júniores. A segunda equipa deve ser composta pelos jogadores que estão mais próximos de integrar a equipa principal. Há jogadores que são ainda uma incógnita, que podem dar o salto? Esses sim, podem ser emprestados a equipas de divisões diferentes, conforme o potencial actual.
Se é possível, por agora, uma equipa de segunda categoria ideal? Dificilmente. Jogadores com vários anos de primeira liga não deveriam estar agora a voltar à segunda. Jogadores com Jara dificilmente integrarão uma equipa B. Mas, aos poucos, deveria ser feito um esforço para encurtar o volume de activos, até a um ponto em que restassem cerca de 20 jogadores para cada equipa. Dois guarda-redes, três laterais e três centrais, seis médios divididos entre as várias posições do miolo, três extremos e três avançados. Será assim brevemente? Duvido. Mas não custa sonhar...
Uma equipa B, ou uma equipa de segunda categoria, agrada tanto ao povo como leva credores a franzir o sobrolho. Se é verdade que pode deixar empresários a salivar com a perspectiva de movimentações constantes de brasileiros com expectativas goradas e de trintões com mais salário do que pernas, também pode ser um saudável laboratório de jogadores, que apura talentos em ebulição e lapida jovens com futebol nos pés mas falta dele na cabeça. Isto depende, na verdade, mais do que dos jogadores em questão ou do campeonato em que jogam, depende da própria concepção ideológica associada às segundas categorias.
Aventou-se, durante muito tempo, a impossibilidade de jogar na II divisão como desculpa para o fracasso do primeiro ensaio deste projecto. No entanto, a Castilla madrilena está agora a disputar o acesso à equivalente espanhola e não vejo, no Brasil, mesmo em piores condições, razões para um queixume sobre segundas categorias. E, mesmo que só agora o Real comece a ser um exemplo no modo de aproveitamento da sua cantera, nunca houve dúvidas sobre a utilidade desta independentemente da divisão em que jogasse.
É claro que a possibilidade de jogar na segunda divisão facilita contratações que passem, numa primeira fase, pela segunda categoria. No entanto, mesmo isto pode vir armadilhado, ao permitir a entrada de contentores de jogadores desnecessários.
O que está, acima de tudo, em causa é um modelo de segunda categoria como próxima da equipa principal; um modelo em que as chamadas promessas são preparadas para poderem um dia integrar a equipa principal. E se isto, por agora, parece um exercício de idealismo vago, já veremos que tem implicações práticas sérias.
Em primeiro lugar, vemos que a solução é importante, não só a longo prazo mas imediatamente. É já um costume velho estragar promessas novas com a sua integração no plantel. Rúben Pinto, pretendido há uns anos pelo Arsenal, esteve parado um ano sem jogar, o que constitui um perigo para a sua evolução. Por outro lado, como Rui Costa dizia numa entrevista, é, por vezes, mais importante treinar e aprender diariamente com Saviola, Aimar e Rui Costa do que jogar regularmente no Belenenses como fez Miguel Rosa ou Kanú. Há maneira de, ao mesmo tempo, um jogador aprender diariamente com os melhores e jogar regularmente? Sim. Jogando nas segundas categorias. A treinar lado a lado com Aimar e a jogar no fim-de-semana, sem o perigo da pressão excessiva. Isto implica que os lugares tipicamente ocupados pelas nossas promessas, como o de terceiro guarda-redes, quarto central, enésimo médio e extremo descartável sejam ocupados por novas contratações? Não, implica que o terceiro guarda-redes ou o quarto central sejam os titulares da segunda equipa. Para quê ter um quarto-central, que joga em média cinco jogos por época, se podemos ter três centrais e um quarto a jogar semanalmente, para o caso de ser preciso. Claro que isto implica ter uma segunda equipa inteiramente subordinada ao modelo de jogo da primeira, mas isto parece-me óbvio se o objectivo principal for o de formar jogadores para a primeira equipa.
Podem dizer-me que uma equipa que joga em várias frentes precisa de ter um plantel longo. No entanto, para que serve ter um plantel longo se os jogadores pouco rotinados, por estarem pouco rotinados, acabam por não contar? Que diferença há entre ter um plantel com 25 jogadores em que cinco deles não jogam - como aconteceu com Mika, Luís Martins, David Simão, Rúben Pinto e Mora, e só não com Miguel Vítor porque houve um momento de indefinição quanto ao terceiro central - e ter um plantel com 20 jogadores que são realmente alternativas e estão em igualdade de circunstâncias, que jogam regularmente, com mais 20 rotinados para uma eventual urgência?
É mais rentável ter dois plantéis curtos mas com certa maleabilidade entre eles do que um plantel longo em que há jogadores que estão num patamar inferior - como é legítimo que estejam dada a sua inexperiência - e que por isso perdem um ano sem experiência de jogo.
Ora, isto também comporta certas exigências no modo de constituição das segundas categorias. A existência de uma segunda equipa não implica uma extinção total dos empréstimos: o período de manutenção de um jogador numa segunda categoria tem de ser curto e de integração progressiva na primeira equipa. Seria ideal que, a cada jogador vendido, um jogador da segunda categoria da mesma posição pudesse subir para ocupar o lugar de suplente, enquanto o suplente se afirmaria como titular. Isto, no entanto, é bastante pouco provável. Mas, se um jogador, em três anos na segunda equipa, não se consegue afirmar como alternativa credível para uma primeira, deve ser emprestado ou vendido. Ora, isto tem implicações no modo de composição dos dois plantéis. Lembro-me de ver uma entrevista de Carlos Freitas em que este justificava a compra de um central velho com a esperança que depositavam em Daniel Carriço, miúdo que, uns anos depois, deveria estar na equipa principal. E isto é compreensível: há a moda de não querer comprar senão jovens pelo futebol português. No entanto, isto não é tão simples assim. A compra de um avançado com grande margem de progressão para substituir Cardozo seria, hoje, um erro porque taparia a evolução de Rodrigo e Nélson Oliveira. Se não há a certeza da sua rentabilidade imediata, deve ser contratado alguém com um rendimento óptimo durante um, no máximo dois, anos, sob perigo de desvalorizar activos jovens e prestes a explodir. Na contratação de alguém para a equipa principal deve ser tida em conta a capacidade de explosão dos atletas da segunda equipa na posição respectiva. É um risco? Terá, talvez, um certo risco, mas, na idade destes atletas, pouco. Claro que há falhanços, mas são, geralmente, motivados pela falta de jogo. Sem aposta, claro que não evoluirão. Com uma aposta controlada, há esperança, até porque, como diz Wenger, a partir dos 18 anos já temos uma ideia aproximada do potencial completo, quer técnico quer mental, do jogador.
A segunda equipa deve, portanto, ser sempre vista como um laborátorio prestes a servir a equipa principal. Não como um alívio fácil para os jogadores em excesso, nem como um abrigo de ex-júniores sem critério. A segunda equipa deve ser o posto onde estão apenas as alternativas credíveis. Não seria razoável contar com atletas como Diogo Caramelo na equipa, simplesmente por serem ex-júniores. A segunda equipa deve ser composta pelos jogadores que estão mais próximos de integrar a equipa principal. Há jogadores que são ainda uma incógnita, que podem dar o salto? Esses sim, podem ser emprestados a equipas de divisões diferentes, conforme o potencial actual.
Se é possível, por agora, uma equipa de segunda categoria ideal? Dificilmente. Jogadores com vários anos de primeira liga não deveriam estar agora a voltar à segunda. Jogadores com Jara dificilmente integrarão uma equipa B. Mas, aos poucos, deveria ser feito um esforço para encurtar o volume de activos, até a um ponto em que restassem cerca de 20 jogadores para cada equipa. Dois guarda-redes, três laterais e três centrais, seis médios divididos entre as várias posições do miolo, três extremos e três avançados. Será assim brevemente? Duvido. Mas não custa sonhar...
Assembleia Vazia
Se houvessem ambições políticas ou intenções dissimuladas, poderiam ser já esquecidas. Quem mostra o jogo todo à partida mostra também o seu certificado de inaptidão estratégica e de nabice diplomática. Pois bem, é esse o caso da assembleia e é esse o caso de Catão - não está mais em causa do que aquilo que vemos no nome; um espaço de discussão, uma assembleia, que visa as eleições no benfica. Não há quaisquer marcas visionárias no discurso deste espaço: espera-se, qual Catão, o insistente papagaio de uma única frase, apenas uma repetição daquilo que tem sido a história do Benfica. Quem é benfiquista não pede novidade: pede antiguidade, pede aquilo que não teve. Talvez não seja por acaso a velha ligação do benfica ao Restelo: quem tem costados de ouro precisa de um velho ancião que os lembre de vez em quando.
Também o nome prova esta velhice crónica: Assembleia à sexta-feira, moda antiga na luz, em que se espera casa cheia. Não é apenas um exercício prático de quem só tem a sexta-feira para escrever, é a junção de oxímoros própria do Benfica - Passado e futuro, beleza e pragmatismo, povo e condes do Restelo, como também aqui se junta o útil ao agradável.
Prometem-se gargantas roucas e ânimos exaltados, exortação da glória e flagelo da desgraça, prometem-se assembleias à benfica. Só não se promete novidade porque o Benfica não quer novidade, quer restauração daquilo que sempre foi.
Acompanhem, de sexta em sexta, o rumo do benfica ruma à escolha de um novo comandante. Tracem perfis de candidatos, de equipas e de sonhos. É assembleia, tudo é permitido!
Se ficou alguma coisa por dizer, perdoem o descuido. Na verdade, a distracção benfiquista está abençoada desde o dia em que Cosme Damião se esqueceu de pôr o seu nome entre os fundadores do nosso clube.
A assembleia está aberta e espera-se a afluência das massas. Aberta a sessão, jogue o Benfica!
Também o nome prova esta velhice crónica: Assembleia à sexta-feira, moda antiga na luz, em que se espera casa cheia. Não é apenas um exercício prático de quem só tem a sexta-feira para escrever, é a junção de oxímoros própria do Benfica - Passado e futuro, beleza e pragmatismo, povo e condes do Restelo, como também aqui se junta o útil ao agradável.
Prometem-se gargantas roucas e ânimos exaltados, exortação da glória e flagelo da desgraça, prometem-se assembleias à benfica. Só não se promete novidade porque o Benfica não quer novidade, quer restauração daquilo que sempre foi.
Acompanhem, de sexta em sexta, o rumo do benfica ruma à escolha de um novo comandante. Tracem perfis de candidatos, de equipas e de sonhos. É assembleia, tudo é permitido!
Se ficou alguma coisa por dizer, perdoem o descuido. Na verdade, a distracção benfiquista está abençoada desde o dia em que Cosme Damião se esqueceu de pôr o seu nome entre os fundadores do nosso clube.
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